Qual o papel do Estado na saúde?
Como tornar o SUS ainda melhor?
A Constituição Brasileira colocou o acesso à saúde como um direito de todos os brasileiros.
O SUS se mostrou imprescindível diante de uma demanda gigantesca por atendimentos durante a Pandemia (os casos agudos). Agora, mais do que nunca, o sistema será buscado por causa dos casos crônicos herdados da Covid-19. São 150 milhões os brasileiros exclusivamente dependentes do SUS, seja para curar um resfriado, tomar uma vacina ou se submeter a uma cirurgia.
A decisão crucial a ser tomada no Palácio do Planalto para tornar o SUS sustentável e mais eficiente gira em torno de três grandes eixos:
1. Elevar o gasto público com saúde dos
atuais 3,96% do PIB para o patamar de 5% do PIB;
2.
Aprimorar a coordenação e otimização dos recursos destinados à saúde
(de modo a tornar os gastos mais transparentes e a prestação de contas uma
obrigação do setor público para com os pagadores de impostos);
3. Ter uma ideia clara de como vai tratar as atuais desonerações que favorecem o setor privado.
Cabe ao Ministério da Saúde articular ações e coordenar o serviço de vigilância de alta complexidade e de organização geral de redes de atenção do SUS. A coordenação do sistema está atualmente fragmentada. Só avançaremos no ganho de eficiência e melhoria dos serviços se todos trabalharem juntos. A atenção primária é municipal, mas os hospitais são estaduais e os recursos, em parte, são federais. Tudo isso tem que estar alinhado!
Nunca foi tão importante reforçar a recomendação sobre a coordenação do sistema, em especial da rede hospitalar. O Brasil tem uma rede hospitalar muito diversa. Há muitos hospitais com baixa ocupação de leitos. Mais de 70% dos municípios brasileiros são pequenos – com cerca de 20 mil habitantes – e não têm escala para prover serviços essenciais de saúde. Sua existência se justifica pelo atendimento primário. Na atenção de média e alta complexidade, sobretudo hospitalar, porém, a escala e volume são decisivos.
Assim, algumas das formulações inteligentes de políticas públicas para a saúde são:
· É necessário elevar os gastos com saúde
dos atuais 3,9% do PIB para 9% do PIB;
· Hoje, 60% da rede hospitalar
é privada. Só 40% é pública e parte ainda está sendo gerenciada por
Organizações Sociais (OSs). O Estado tem que fazer
esse controle, mas precisamos de integração entre municípios, Estados e a
União;
· Temos cerca de 7 mil
hospitais no Brasil, sendo 70% com menos de 50 leitos. Um hospital desse tamanho não é um hospital, não tem tecnologia
para atender a demanda. Não tem UTI, por exemplo. Mas ninguém tem coragem de
fechar porque eles geram empregos. Então é preciso investir e ampliar. Se os
recursos fossem do município, ele poderia transformar esses hospitais numa
estrutura bem maior e melhor, o que perpassa pela vontade política;
· Investir em outras unidades de saúde, unidades de atenção básica e
saúde da família;
· Se aprovamos a universalização dos serviços de saúde na
Constituição, o caminho é desprivatizar o sistema, cortando subsídios aos
hospitais particulares, canalizando os recursos necessários para o SUS
(aprimorando sua governança, controle de custos e de eficiência);
·
Aumentar a oferta de serviços de apoio diagnóstico e terapêuticos;
·
Mudar os critérios de repasses financeiros com foco em resultados, e
não somente no número de leitos;
·
Alguns movimentos de terceirização em casos específicos não são tão
graves se forem acompanhados de cobrança, avaliação e controle;
·
Temos de desprivatizar o sistema de saúde. Dar menos subsídio para o
privado, menos crédito para o privado (no final dos anos 80 e início da década
de 90, o Brasil era o país com o maior número de leitos privados por habitante
entre 52 países de baixa e média renda nos continentes americano, africano e
asiático – 2,5 leitos privados por habitante comparado à média de 0,45 leito
privado por habitante para o conjunto dos países estudados);
·
Fazer com que os hospitais privados titulados como instituições
filantrópicas cumpram rigorosamente a cota de atendimentos públicos acordada;
·
É urgente uma integração racional entre os dois sistemas
público-privado. Ambos precisam se complementar e não se colocarem como
concorrentes (sendo a maior distorção a possibilidade de uma pessoa com
recursos para pagar um plano de saúde privado continuar usando o SUS,
especialmente quando precisa de um procedimento complexo ou de um medicamento
de alto custo; ou ainda, 61,72% dos médicos infectologistas atuavam no SUS
antes da pandemia; hoje, são 57,65%; ou ainda, 40,94% dos médicos
pneumologistas atuavam no SUS antes da pandemia; hoje, são 36,79%);
·
Buscar mais transparência nessas relações público-privadas com o uso
intenso das novas tecnologias digitais;
·
Ter o histórico do paciente no Prontuário Eletrônico é fundamental
para não ficarmos repetindo os mesmos exames. Em um ambiente global
hiperconectado, não faz sentido que o maior e mais complexo serviço de saúde
pública do mundo, o SUS, não seja também vanguardista no uso de dados para dar
coerência e eficiência para a sua atuação;
·
Digitalizar o sistema de maneira ampla, com a implementação em tempo
curto do Prontuário Eletrônico. Essa ferramenta é fundamental para não ficarmos
repetindo exames desnecessários. O Prontuário Eletrônico permite otimizar
recursos e, ao mesmo tempo, aumentar a qualidade do atendimento médico. Enfim,
usar ferramentas de gestão e digitais com o objetivo de otimizar o emprego de
recursos financeiros e humanos no SUS;
·
Não só prevê ações de saúde, como também planejar esses atendimentos,
de uma forma rápida, dirigente e eficaz. Não pode demorar muito tempo de
ofertar o atendimento para que as pessoas não estiquem ao estado crítico de
saúde e possam se beneficiar dos tratamentos médicos disponíveis. Afinal, doença
grave não espera;
· Mexer na “Tabela SUS”. A tabela remunera por procedimento. Não paga por remédio, exame, mas por tratamento, como, por exemplo, o tratamento de uma pneumonia. O que deveria ser feito é financiar por população assistida. E o município e o Estado fariam um plano de aplicação de recursos. É muito mais inteligente, pois permitirá que os municípios e Estados tomem decisões.
Nenhum comentário:
Postar um comentário