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São Francisco do Conde, Bahia, Brazil
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"Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber" (Art. 205 da Constituição de 1988).

Ø Se eu sou um especialista, então minha especialidade é saber como não ser um especialista ou em saber como acho que especialistas devem ser utilizados. :)



“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

sábado, 10 de julho de 2021

Ponte Quebrada.

 Sim, há uma ponte desfeita no caminho da Educação. E ela é geradora de desigualdade! 

Na perspectiva do capitalismo, o populismo é uma ameaça. Então é preciso acalmar as revoltas populares com uma ideia de mobilidade social pela meritocracia. Entretanto, esses meritocratas podem se tornar uma aristocracia – e isso acontece quando se recolhe as pontes transitadas para bloquear a passagem da segunda geração.

 Para se proteger da Covid-19, um diploma universitário é quase tão bom quanto a vacina. Ele é um instrumento importante para evitar que um revés temporário se torne permanente. Ou seja, escolarização e alguma estabilidade no mercado de trabalho podem evitar que as pessoas percam seus rendimentos quando ficam doentes. Ou que percam a saúde quando estiverem sem renda.

 A maioria que tem seu diploma e emprego, está sentada em casa, trabalhando com segurança no Zoom ou no Google Meet. Já as pessoas sem diploma universitário e baixa escolaridade que estão lá fora, trabalhando nas lojas ou nas fábricas de alimentos, estão morrendo. Então, é como se metade da população estivesse morrendo enquanto a outra metade está enriquecendo. Você começa a pensar que talvez a desigualdade por si só seja o problema, não importa se as fortunas venham de origens conhecidas.

Segundo um estudo do MEC, a conclusão de um curso universitário representa uma aumento de +182% na renda mensal dos estudantes. Isso explicaria a corrida motivacional ao ensino superior? E mais, isso também explicaria a grande competitividade e a quebra de pontes, sem que todos tenham cruzado? 

 O que ocorre é que colocamos em um pedestal as pessoas que vão para a faculdade. E dessa forma criamos uma sociedade dividida. Um terço das pessoas pertence à elite educada e os outros dois terços se tornaram uma espécie de classe ignorada, sem influência política, sem perspectiva, com escolas ruins para seus filhos, e daí por diante.

 Isso também cria desigualdade. Aliás, existem muitas formas diferentes de desigualdade em curso. A desigualdade educacional é uma delas. Há um grupo de pessoas muito bem-educadas e outro com baixa escolarização. Junto desta há a desigualdade de representação política – há os que defendem o capitalismo e os que defendem o populismo. É extremamente importante atentarmos a esse tipo de desigualdade de participação política na sociedade.

 Nos países ricos, os partidos de esquerda tiveram suas bases nos sindicatos ou nos trabalhadores, se tornaram intelectualizados e se juntaram à elite educada. A direita continuou representando o dinheiro que rende juros. Então não sobrou nada para o povo que costumava ser representado pelos partidos de esquerda. Olhe o exemplo do Partido Democrata nos EUA, que se tornou um partido de elite educada e de minorias, e deixou todas as pessoas brancas menos educadas de fora e com pouquíssima voz política.

Mas, não se trata apenas de um viés privado e particular do indivíduo. Pensando na coletividade, por isso é importante o que chamam de Rede de Segurança Social (sem ela, uma legião de pessoas é jogada facilmente no empobrecimento). E não é só o Bolsa Família que ajuda de forma imediata a maioria das pessoas simplesmente ultrapassar a linha da pobreza (uma forma rápida, pontual e eficiente de assistir os que estão precisando de ajuda urgente), mas não é suficiente para que haja de fato mobilidade social. Aí devem entrar outras atitudes mais abrangentes, como seguro-desemprego e cobertura de saúde.

 Temos que enfrentar ainda outras duas coisas paralelas:

1) o setor informal que é muito grande;

2) alguma forma de renda básica universal, mas sem abrir mão de programas mais direcionados.

 As pessoas da direita querem adotar a renda básica universal, mas desde que se acabe com o resto da rede de segurança. E é por isso que sou esquerda. Do outro lado, a esquerda quer ir além, criar esse benefício universal e ampliar, também, a rede de segurança atual (que a direita julga inviável porque “é extraordinariamente caro”). É por isso que, embora os dois lados defendam a renda básica universal, no fundo eles estão falando sobre coisas muito diferentes.

 Então, a grande pergunta: qual é a origem da desigualdade?

Vejamos mais de perto essa tal reformulação do Currículo Nacional em uma Base Comum que precisa ser tomada na perspectiva da meritocracia x oportunidade e desesperança. As maiores empresas do nosso século só pensam em tecnologia e oportunidades, com um alto potencial para pular etapas e apressar aquilo que desejam. Há um discurso com introdução muito bonita, quando diz, por exemplo, que é preciso de mais oportunidades para que crianças talentosas em todo o Brasil entrem nas escolas e descubram suas habilidades. Até aqui, a meritocracia em seus primeiros estágios é ótima, porque você pode ter pessoas talentosas fazendo trabalhos importantes. Mas aí vem o segundo estágio que iniciamos esse texto, e com o qual se deve ter muito cuidado, pois quando a primeira geração de meritocratas passa ela pode recolher as pontes depois que passam, para bloquear a passagem da segunda geração – e com isso se torna uma aristocracia reinante. Como esse grupo que aí está pode permitir a próxima geração?

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