1. Atitude de desprezo, asco, nojo e tédio em relação à
participação política (a concepção de política como sendo uma vida safada ou
atividade vergonhosa e político como pilantra).
“[...] penso que
há um tédio pela política, e esse tédio vem também porque nós, adultos,
inclusive na escola, não conseguimos fazer com que o jovem se encante com a
política sem contar com a presença do adversário, do inimigo. Existe um asco
pela política, pois ela é associada à política partidária dos acordos espúrios
e da corrupção, e existe um desprezo por se supor que política é uma coisa
menor. [...]” (p. 30).
"[...] passamos a tomar o homem 'apolítico' como homem de bem. Se para Aristóteles o homem de bem era aquele que participava da política, vê-se que hoje prevalece a imagem oposta em frases do gênero: 'Ele é um homem de bem, nunca se meteu em política. Ora, esse nojo, esse asco lança o desafio para mim, como educador, de imaginar como é que vamos dar outro passo" (p. 34).
"[...] passamos a tomar o homem 'apolítico' como homem de bem. Se para Aristóteles o homem de bem era aquele que participava da política, vê-se que hoje prevalece a imagem oposta em frases do gênero: 'Ele é um homem de bem, nunca se meteu em política. Ora, esse nojo, esse asco lança o desafio para mim, como educador, de imaginar como é que vamos dar outro passo" (p. 34).
2. Idiótes como autodefesa.
Idiota
(idiótes): “aquele que só vive a vida privada, que recusa a política, que diz
não à política”. Aquele que vive fechado dentro de si e só se interessa pela
vida no âmbito pessoal. “Não me meto em política!”.
"[...] Os atenienses iam para a praça de decisões políticas, a ágora, em média uma vez a cada 9 dias. A cada 2 anos nós vamos às urnas uma só vez, por ocasião das eleições; nesse espaço de tempo, eles teriam ido a umas 80 assembleias. [...] essa comparação suscita uma pergunta curiosa: como é possível que eles tivessem prazer em ir 80 vezes à ágora, quando hoje tantos se queixam de ter que votar uma vez a cada 2 nos?" (p. 35)
"[...] Os atenienses iam para a praça de decisões políticas, a ágora, em média uma vez a cada 9 dias. A cada 2 anos nós vamos às urnas uma só vez, por ocasião das eleições; nesse espaço de tempo, eles teriam ido a umas 80 assembleias. [...] essa comparação suscita uma pergunta curiosa: como é possível que eles tivessem prazer em ir 80 vezes à ágora, quando hoje tantos se queixam de ter que votar uma vez a cada 2 nos?" (p. 35)
3. O elemento da corrupção se tornou fortíssimo.
“[...]
Defendo a ideia de que a corrupção não aumentou; ela só está sendo mais
percebida. Acredito que, quando tínhamos ditadura e obras em concreto, era
enorme a corrupção. Como temos, hoje, muito menos obras em cimento – parece que
cimento atrai comissão, atrai propina –, como existe mais transparência, a
denúncia é maior” (pp. 31-32).
“A corrupção é o que há de mais
antirrepublicano, porque vai na jugular da res publica, põe em xeque
a coisa pública e o bem comum. Isso é
paradoxal: exatamente no regime democrático, que significa “poder do povo”, muitos cidadãos se
sentem sem poder para vencer a corrupção. A maior percepção da corrupção e a
consequente aversão que ela provoca, que são dados positivos, trazem junto uma sensação de impotência” (p. 32).
"[...] há um jeito mais fácil de extinguir a corrupção. Como, para existir corrupção, tem de haver um corrupto e um corruptor, e como o corruptor, de maneira geral, é aquele que tem dinheiro para corromper, basta então que este indivíduo não corrompa a outros. Do ponto de vista operacional, não é difícil. Se o empresário é aquele que possui dinheiro e a corrupção é feita com esse capital, não o utilize para fazer isso e a corrupção acaba. Pode parecer óbvio, mas o espanto é grande, porque sempre se supõe que processo de higiene política tem de ser feito num outro lugar que não aquele em que estou" (p. 47).
"[...] há um jeito mais fácil de extinguir a corrupção. Como, para existir corrupção, tem de haver um corrupto e um corruptor, e como o corruptor, de maneira geral, é aquele que tem dinheiro para corromper, basta então que este indivíduo não corrompa a outros. Do ponto de vista operacional, não é difícil. Se o empresário é aquele que possui dinheiro e a corrupção é feita com esse capital, não o utilize para fazer isso e a corrupção acaba. Pode parecer óbvio, mas o espanto é grande, porque sempre se supõe que processo de higiene política tem de ser feito num outro lugar que não aquele em que estou" (p. 47).
CONCLUSÃO: O nosso desafio na qualidade de educador é: como seduzir as novas gerações a
fazer política sem que os jovens necessitem de um adversário externo, mas
estejam imbuídos de uma compreensão ética? Como trabalhar a ideia de política
para que ela seja entendida como o ápice da virtude do humano? Também não
mitifico, claro, a democracia direta grega, não acho que ela seria a solução.
"[...] Do ponto de vista dos direitos do cidadão, da expansão da liberdade individual, do acesso à informação, tivemos uma mudança para melhor. Mas, no que se refere à percepção da importância da política, acho que tivemos um mudança negativa, um movimento de desnobrecimento da atividade política, o que entendo como negativo do ponto de vista da sociedade [...] 'Os ausentes nunca têm razão'." (p. 36).
É preciso estabelecer uma relação de prazer na companhia alheia, de convívio e crescimento com o outro. Política é saber conviver, mas, sobretudo, desejar participar - e participar de fato!
"[...] Do ponto de vista dos direitos do cidadão, da expansão da liberdade individual, do acesso à informação, tivemos uma mudança para melhor. Mas, no que se refere à percepção da importância da política, acho que tivemos um mudança negativa, um movimento de desnobrecimento da atividade política, o que entendo como negativo do ponto de vista da sociedade [...] 'Os ausentes nunca têm razão'." (p. 36).
É preciso estabelecer uma relação de prazer na companhia alheia, de convívio e crescimento com o outro. Política é saber conviver, mas, sobretudo, desejar participar - e participar de fato!
REFERÊNCIA:
CORTELLA, Mario Sergio & RIBEIRO, Renato Janine. Política: para não ser idiota. - 9ª ed. - Campinas, SP: Papirus 7 Mares, 2012. - Coleção Papirus Debates.
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