Somos governados por determinações das quais mal temos consciência!
TEIA I: A liberdade individual como identidade é uma
coisa boa, gostosa. O problema é o exagero pessoal que substitui o indivíduo
pelo individual. Nasce o individualismo como obsessão da exclusividade, e ele é
cego! Até aqui seu jeitinho de ser já se transformou numa libertinagem
irresponsável, conivente e caprichosa. Em outras palavras, “eu estando bem,
danem-se os outros, neh?”.
TEIA II: Os arrogantes que batem no peito e dizem:
“essa é a minha religião”; “este é o meu jeito de alimentar”; “esta é a
orientação sexual correta”. Mentira!!! Existe aí uma falsa liberdade. A
indústria cultural e sua ideologia da sociedade industrial determina o tempo
todo padrões de comportamento, inclusive o seu. No fundo, acabamos
constrangidos, conscientemente ou não, a uma série de práticas que suponho
serem minhas escolhas no mundo do consumo, da indústria cultural, mas que não
são realmente minhas. “Mas quem disse que você escolheu tão livremente fumar?
Quem disse que não houve uma propaganda maciça para levar você a escolher fumar
(ou a escolher comida gostosa, escolher engordar)? Que liberdade é essa?”.
TEIA III: Dizem que o Sol nasce para todos, e que somos
todos livres. Mas, de fato, algumas pessoas podem fazer escolhas mais livres do
que outras. Por exemplo, aquelas pessoas com mais condições econômicas ou mais
autonomia intelectual.
TEIA IV: A escravidão não foi abolida, apenas mudou
suas estratégias. Se por um lado não é preciso matar pessoas, levá-las à
fogueira ou ameaçá-las para conseguir que os comportamentos se ajustem ao que é
socialmente desejável. Por outro lado, seguimos consumindo programas de TV,
moldando nosso pensar e nosso agir pela propaganda e estragando nossa saúde com
processados. Nesse quesito, temos um misto de avanço e de recuo. É ótimo que
ninguém seja morto por divergir das correntes dominantes na política ou mesmo
no comportamento (e olha lá), mas também é preocupante pensar que
somos governados por determinações das quais mal temos consciência.
TEIA V: Você não tem apenas direitos, tem também os
deveres. Seu direito termina quando o direito do outro começa. A esse respeito
podemos ilustrar o exemplo: quando se aprovou em São Paulo a lei limitando o
uso do tabaco em público. Muita gente a questiona de uma forma marota, mas, na
verdade, o que a lei proíbe é que o indivíduo terceirize a sua fumaça. Não se
proíbe ninguém de fumar, mas de fazer o outro aspirar o seu fumo. A proibição
visa evitar que não fumantes sejam constrangidos pelos fumantes. Portanto, seu
egoísmo não é a única coisa que lhe governa.
Esses
exemplos são suficientes para demonstrar que existem alvos de “ns”
constrangimentos que nos aprisionam em muitas teias com a falsa promessa de
liberdade. Precisamos lançar luz sobre essas teias invisíveis que nos prendem
para superá-las e tentarmos ser coletivamente melhores.
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