1.
São testes destinados exclusivamente
para crianças. O propósito
maior dos “Testes ABC” é verificar o nível de maturidade requerido para a
aprendizagem da leitura e da escrita. Embora justificando que, esse nível não
apresenta coincidência rigorosa com a idade cronológica, nem com a idade mental
de cada aluno, o tempo todo ele é indicado ou direcionado a “crianças que procuram a escola primária”.
2.
Os testes discriminam os alunos em
“maduros para aprender” e “imaturos”, estimulando a segregação escolar. “Isso
ensejará nas escolas isoladas a organização de seções pelo nível de maturidade
conhecida; e, nas escolas graduadas, a organização de classes seletivas, praticamente homogêneas”. Ou seja, a finalidade dos testes é “homogeneizar as
classes que o tenham de fornecer, imprimindo-lhes ao trabalho maior rendimento”.
Logo, eles criam um nó com a política de classes multiseriadas.
3.
Ameaçam a subjetividade e o
processo de desenvolvimento individual. “É evidente que, assim se fazendo,
o ensino se tornará mais racional,
mais tecnicamente fundado, com
economia de tempo e esforço...”.
4.
Rotula os alunos, e abrem
precedentes para julgar a competência do professor. “Igualmente, terão inspetores e
diretores, mais precisas indicações sobre a
tarefa entregue a cada professor. O trabalho docente poderá ser, enfim,
mais judiciosamente avaliado”.
5.
Tão importante quanto os
resultados dos Testes ABC é o “ato da sua aplicação”. Aplicados por leigos ou pessoas sem treinamento especial,
toda a eficiência prometida pelos Testes pode ser comprometida. Afinal, os
“Testes ABC” não só apontam o nível de maturidade para ler e escrever, como
também possíveis “desajustamentos”, podendo revelar inegáveis relações entre
maturidade e linguagem, maturidade e dislexia, maturidade e disartrias. Isso
pode implicar o problema seguinte.
6.
Os testes exigem o acompanhamento
e avaliação por uma equipe multidisciplinar (psiscólogos, psicopedagogos, etc.). Pessoas leigas podem acabar
rotulando os alunos de desajustados ou “com problemas” sem uma precisão clínica
de cada caso. “Os Testes ABC como instrumento propedêutico de Psicologia
Clínica, isto é, elemento útil à caracterização preliminar de casos de crianças
com maiores problemas de ajustamento a que a escola deve dar atenção, tanto no
plano propriamente didático, quanto pelo aspecto social e humano”.
7.
Os Testes ABC podem ser encarados
como um simples conjutno de tarefas coletivas. Decorrente da falta de especialistas ou o acompanhamento por
uma equipe multidisciplinar, os Testes ABC podem ser executados como um simples
conjunto de tarefas sem muito sentido ou significado. “A aplicação, que é individual, permitirá que os mestres
observem aspectos do comportamento
emocional dos alunos, o que os alertará para os casos que desde logo
reclamem cuidados especiais”. Ou seja, os “Testes ABC” são meios e não fins em si mesmos. Eles são “o esforço empregado na
organização de meios que verifiquem a maturidade necessária à aprendizagem da
leitura e da escrita”.
8.
O resultado dos trabalhos não pode
ser descartado. “Por deixarem as provas registro gráfico, a todo o
tempo serão possíveis confrontos elucidativos para o esclarecimento de
dificuldades individuais na aprendizagem”.
9.
Um importante problema prático que
a aplicação de testes de maturidade como esse levanta. ‘‘Como trabalhar com os alunos imaturos, ou o que fazer para
que eles vençam as condições da imaturidade verificada?...’’.
10.
Os testes sugerem exercícios de
prontidão, o que implica refletir se eles estão atualizados com os avanços das
novas tendências da psicopedagogia moderna. Como medidas interventivas sobre
as investigações, assinalam-se a utilidade de exercícios de valor compensatório
ou corretivo. Aliás, resta questionar se os “Testes ABC” estão atlualizados com
os avanços atuais dos estudos e descobertas no campo da psicogênese da língua
escrita e falada. Afinal, o livro “Testes ABC” foi efetivamente produzido e
apresentado em 1928 por Manoel Bergström Lourenço Filho, através de uma
comunicação oficial para um público de educadores da época.
11.
E quando os Testes ABC denunciarem
algo mais político, mais social, mais grave e mais profundo? Os resultados dos Testes ABC têm servido de base a
importantes investigações relativas a condições de saúde e subnutrição,
perturbadoras da aprendizagem. Ou ainda ao esclarecimento de problemas do nível
econômico e social dos estudantes.
1.
RESSALVA: Os “Testes ABC” denunciam algo
mais político, mais social, mais grave e mais profundo: as condições de saúde e
subnutrição, perturbadoras da aprendizagem e os problemas do nível econômico e
social dos estudantes. Esse é o ponto chave da localização do problema, tanto
gerador do fracasso escolar quanto
dos distúrbuios de aprendizagem.
Os Testes ABC despertaram minha atenção e me incentivaram ao
estudo de questões de pedagogia
experimental. *Apesar das críticas, eles não serão descartados. Pelo
contrário, serão muito úteis na transformação que a Educação clama.* Serão
ponto de partida para assumir o desafio de lidar com uma pergunta fundamental
para todas as idades: Além do quadro e do professor, o que mais é preciso para aprender a ler e a escrever com eficiência?
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