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Ø Se eu sou um especialista, então minha especialidade é saber como não ser um especialista ou em saber como acho que especialistas devem ser utilizados. :)



“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

domingo, 13 de março de 2016

A realidade da vida fala mais alto, e os consultórios ouvem! Mas, e a razão e o coração?...

Enquanto a polêmica questão do aborto tropeça em questões éticas, religiosas (quando o feto passa a ter alma?) e científicas (quando a vida começa?), cada vez mais pacientes decididas interrompem uma gravidez indesejada e médicos brasileiros optam por ajudá-las. São muitos os ginecologistas que se tornaram adeptos da filosofia de redução de danos para pacientes dispostas a desafiar a lei brasileira e se submeter a um aborto. Assim reza a conduta profissional de muitos deles: “Tenho o dever ético de explicar a minha paciente quais são os métodos abortivos e, depois, se necessário, acudi-la”.

O aumento da eficiência, a diminuição do custo e a facilidade de acesso aos métodos anticoncepcionais femininos e masculinos poderiam ter reduzido o aborto no Brasil a sua dimensão puramente médica. Mas... o aborto continua sendo um dilema social, humano, jurídico e um risco para a saúde de quase 800 mil mulheres brasileiras todos os anos (abortos clandestinos). Isso só mostra que, apesar das imposições legais e das restrições ético-religiosas, médicos e pacientes se sintam eticamente autorizados a discutir e a praticar procedimentos que levem ao aborto.

Desde 2002, o Ministério da Saúde distribui por sua rede capilar de atendimento a chamada “pílula do dia seguinte”, que contém uma substância capaz de impedir a fixação do óvulo no útero, provocando, consequentemente, sua expulsão pelo organismo feminino. Só a pílula do dia seguinte pode ter diminuído em 30% o número de abortos clandestinos no Brasil. Por isso se questiona se a adoção da filosofia de redução de danos (que surgiu no início dos anos 2000, no Uruguai) por um número maior de médicos não poderia derrubar ainda mais essa curva nos próximos anos. Todavia, há os profissionais que pensam de outra forma: nem sequer se sentem à vontade para indicar um especialista nem orientar uma paciente que queira interromper a gestação sobre como usar medicamentos abortivos. Estes acreditam que fazer isso é o mesmo que praticar o próprio aborto. Segundo eles, seja qual for a circunstância em que o feto tenha sido concebido, não se pode ser juiz de uma vida em potencial. Esse mesmo raciocínio faz também ser contra a pena de morte e a eutanásia.

A questão é de imensa complexidade. Além de se tratar de uma polêmica infrutífera, pois o aborto sempre existirá, independentemente de qualquer conclusão científica, dogma religioso ou convicção ética. O aborto é acima de tudo uma questão de foro íntimo, uma decisão exclusivamente pessoal da mulher que, querendo ou não juízos externos, ficará sob comando do submundo à pessoa da mulher.

O argumento de que, legalizar para ser bem feito pelas clínicas, ou seja, para ser mais simples, acessível, seguro e legal não torna o aborto mais aceitável para as pessoas que o rejeitam. Ao contrário, torna-o ainda mais monstruoso ao juízo delas. Prova disso é o fato de que as discussões nos países onde a prática foi liberada nunca serenam – a cada dia elas são mais violentas. Coloque-se na pela de uma pessoa que acha o aborto, em qualquer fase da gestação e por qualquer motivo, igual a matar alguém, e uma visão do abismo que separa as convicções opostas nesse assunto começará a se abrir sob seus pés. Ou seja, não há decisão jurídica, por mais douta, nobre e competente, capaz de colocar para dormir as controvérsias levantadas pela questão do aborto.

Outro argumento forte é que entre o Estado e a Mulher, quem deve ter a palavra decisória é a mulher. Ou seja, a autonomia da gestante continua sendo o bem primordial a ser preservado. A compreensão de que o direito constitucional à individualidade engloba o direito de manter ou não uma gravidez. E tem aqueles outros argumentos principais: o direito do feto à vida; à herança familiar e, por fim, a supremacia de Deus sobre qualquer decisão humana.

Os mais abrangentes estudos médicos, religiosos e históricos sobre o aborto de que se tem notícia só tem uma constatação a deixar: nesses campos do conhecimento não brotará nenhuma decisão sustentável. O aborto é questão inabordável para a maioria das religiões e os cientistas nunca vão ser unânimes em torno do momento preciso em que surge uma vida nova no processo de concepção. A mais sensata já encontrada foi a de que, interromper a gravidez até o terceiro mês é uma decisão individual da mulher.

A verdade é que é uma experiência forte. Essa constatação vem da experiência de quem a viveu. Nenhuma mulher a relata com tranquilidade. Nem nos casos extremos em que a Lei brasileira faz exceção à prática (em casos de estupro, risco de morte da mulher ou casos de anencefalia). Por mais que os médicos se rendam às demandas de suas pacientes e por mais que a legislação avance, a interrupção do processo de criação de uma vida humana nunca será de fácil compreensão intelectual ou emocionalmente simples. Além do aperfeiçoamento dos métodos anticoncepcionais e a disseminação no país de políticas de planejamento familiar, a instrução, a educação e a informação é essencial. A mulher não deve se vê apenas livre, mas conscientizada junto ao seu parceiro dos dilemas e responsabilidades diante da possibilidade de uma nova vida, principalmente antes dela vir ao mundo, sempre sem pedir.

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