Estamos
juntos, mesmo à distância.
Vale mencionar que a
história do filme não é a mesma história do livro (tenham em mente que um
independe do outro e se você for ao cinema esperando ver o livro reproduzido
integralmente nas telonas, corre o risco de se decepcionar). Embora o diretor
não reproduzisse o livro no filme, captou sua essência. Vale mencionar que o
ritmo do filme é um pouco lento, o que, acredito eu, possa ser um empecilho
para as crianças, que normalmente são mais agitadas e talvez possam se entediar
facilmente. Um detalhe interessante é
que nenhum dos personagens tem nome. Isso pode ser interpretado de diversas
formas. Eu acredito que o intuito disso seja mostrar que todos podemos ser a
menina ou o senhor. São personalidades que representam todos nós.
Na verdade, o filme
conta a história de uma menina super fofa que é fortemente controlada por sua
mãe, que decide planejar toda a vida dela a partir de uma planilha que ela deve
seguir a risca, sem nenhum descanso. A mãe é uma controladora obsessiva que
deseja definir antecipadamente todos os passos da filha para que ela seja
aprovada em uma escola conceituada (ela não percebe que, com tantas obrigações,
está fazendo sua filha se esquecer do que significa ser criança).
Felizmente a garotinha conhece e se torna amiga de seu novo vizinho, um senhor
que lhe conta a história de um pequeno príncipe que vive em um asteroide com
sua rosa e, um dia, encontrou um aviador perdido no deserto em plena Terra.
Essa parte sim, está no livro: a história do menino que vivia solitário em um asteroide
e, viajando pelo espaço, encontrou um aviador perdido no deserto. Pois é para
resgatar a infância que surge o personagem do aviador – um velho
rejeitado pela vizinhança por fantasiar demais. Um dia, ele dá à menina algumas
páginas soltas de desenhos narrando seu encontro com o Pequeno Príncipe, um garoto que
vivia num pequeno planeta, amava uma rosa e tinha como melhor amiga uma raposa.
No
fim das contas, O Pequeno Príncipe funciona tanto para quem nada sabe sobre a
história como para quem a conhece de cor e salteado, já que aqui é apresentada
uma variável do conto clássico. Osborne trabalha com a sensibilidade de quem entende o
universo infantil e não menospreza seus espectadores mirins. O livro
original é recontado e explorado como uma grande metáfora sobre perda, valores e
visões de mundo, numa fantasia fascinante que ajuda a
pequena protagonista a encarar seus desafios.
É evidente que o filme
busca retratar assuntos já discutidos no livro, como a vida adulta, as regras e
as normas a serem seguidas. Mas, há um foco especial de discussão que é a
ausência de imaginação e criatividade presentes nessa fase da
vida. A menina, até então vivendo como uma adulta, conhece seu vizinho, o
aviador, que, ao contrário dela, vive como uma criança. E ambos começam uma
relação muito rica e poética, que apresenta à menina uma coisa que até então
ela não conhecia, a amizade. Até mesmo as músicas, que possuem um ar doce e
melancólico, são diferentes das músicas que estamos acostumados a ouvir em
filmes infantis. É um filme para adultos refletirem e, eventualmente, se
emocionarem. Ao transmitir uma mensagem sobre a importância da imaginação,
o longa aborda também a perda da inocência decorrente do inevitável
crescimento. O destaque maior, sem sombra de dúvidas, fica por conta da
raposa: uma graça, seja em qual aparência estiver.
A trama principal, como
foi dito, gira em torno de uma pequena garota, que leva uma vida bastante
regrada devido à obsessão da mãe em controlar absolutamente tudo à sua volta.
Para situar ainda mais este universo rígido, a animação computadorizada
ressalta sempre o quanto tudo é retangular e cinza, sem imaginação alguma. O
contraponto é justamente a casa do vizinho, repleta de cor e irregularidades,
uma metáfora à própria personalidade de seu dono. É
a partir do encontro entre a garota e o vizinho, um senhor que lhe conta a tal
história do pequeno príncipe, que o longa-metragem enfim ganha corpo. É quando
a magia entra em cena, no sentido de um universo lúdico e repleto de
criatividade.
“O essencial é invisível aos olhos”. A frase mais célebre do livro
"O Pequeno Príncipe" é usada até hoje para ressaltar a importância
dos sentimentos
e do caráter
no dia a dia. Ao trazer para a sua realidade o conceito da morte e de
como reagir a ela, a animação flerta com uma situação imensa mas acaba
deixando-a de lado, optando pelo caminho fácil do mundo fantasioso. Que não é
ruim, é bom ressaltar, apenas menor. Por mais que demonstre uma nítida
irregularidade entre a fase inicial e o momento em que a garota passa a
acreditar que sonhar é possível, e outros menores no decorrer da trama, o
longa consegue sempre manter um certo interesse, muito ajudado pelo traço mais
lúdico da animação e a bela trilha sonora.
Enfim, note que o filme
conta duas histórias paralelas e utiliza duas linguagens para isso: na história
“real”, focada na menina e no aviador, a animação é em CGI; já na imaginação,
onde vive o Pequeno Príncipe, é usado stop-motion. A inclusão de novos personagens
e a ampliação da trama original ajudam a atualizar as questões do livro e
inserir críticas ao modo de vida contemporâneo. Enfim,
o filme dosa pequenos momentos de humor, doçura e drama, sem nunca pesar demais
nem ser leve demais. Para as crianças que terão seu primeiro contato com a obra
pelo cinema, não há dúvida de que o longa deixará uma marca, como o livro
deixou aos seus pais e avós. E elas também mostrarão aos seus filhos quando for
a hora.
Algumas frases bem marcantes:
Algumas frases bem marcantes:
Eu acho que o mundo se
tornou adulto demais.
Quando o mistério é
muito impressionante, a gente não ousa desobedecer.
Você vai vivendo e
parece que algumas coisas grudam em você. A gente vira algum tipo de
acumulador.
Pessoas jovens demais
não sabem como amar. Cheias de dúvida, alguém sempre foge.
Às vezes uma partida é
o primeiro passo para uma volta.
Ser adulto não é o
grande problema. O verdadeiro problema é se esquecer da criança que se foi um
dia.
Não há
problema em viver só. Na maioria das vezes estamos entre pessoas que nos fazem
sentir muito mais solitário. Quem aprendeu a conviver consigo mesmo, jamais se
sentirá sozinho. Quem aprendeu a vê sua princesa ou seu príncipe com o coração,
nunca mais estará só.
Se tu me cativas,
teremos necessidade um do outro. Mas, corremos o risco de chorar um pouco
quando se deixa cativar. É um risco que vale a pena correr...
Existem
milhares de rosas no mundo inteiro. É o tempo que perdemos com uma delas que a
torna tão importante e especial para nós. “Minha Rosa”.
Vou lhe
deixar um segredo de presente: só se vê bem com o coração. O essencial é
invisível para os olhos. O mais importante é invisível.
Todos temos que dizer
“adeus”, mais cedo ou mais tarde.
As estrelas são belas
por causa de uma flor que nós não podemos ver. O que torna belo o deserto é que
ele esconde um poço em algum lugar.
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