Após
década de bonança, camada social sofre mais com a crise e abre mão de projetos
para o futuro
POR
GLAUCE CAVALCANTI / MARCELLO CORRÊA / DOUGLAS MOTA*
16/08/2015
6:00
(*) Estagiário sob a supervisão de Glauce Cavalcanti e Marcello Corrêa
RIO - Na última década, o bom momento da economia
elevou milhões de brasileiros à classe média. Com juros baixos e renda em alta,
a chamada classe C conseguiu comprar carro, financiar a casa e entrar na
faculdade. Agora, sente o peso da crise e se vê obrigada a adiar sonhos. Das
grandes compras ao consumo do dia a dia, precisou frear o processo de ascensão
social para não perder as conquistas acumuladas no período de bonança.
Inflação e endividamento cancelam projetos
A crise não estava nas contas da família Almeida. Há
dois anos, Mario e Marlene Almeida, de Queimados, Baixada Fluminense,
resolveram abrir a própria lanchonete, embalados por uma economia que, embora
já desse sinais de desaceleração, ainda resistia — cresceu 2,5% em 2013, ante
um horizonte de recessão de até 2% este ano. Hoje, o sonho de empreender perdeu
o brilho. Com o freio no consumo no país, as vendas do negócio despencaram 70%,
passando de R$ 500 para R$ 150 por dia de fim de semana. Ao mesmo tempo, a
conta de luz da loja subiu mais de 65%, saltando de R$ 160, em dezembro
passado, para R$ 267, em junho. Resultado: o espaço, alugado por R$ 600
mensais, precisou ser fechado, sendo substituído por uma estrutura mais
modesta na garagem de casa.
A história da família Almeida é um retrato do que
vive a classe C atualmente. Mais vulnerável, sente mais os efeitos da alta da
inflação e dos juros. Com o orçamento familiar encolhendo, há corte de gastos e
aumento do endividamento. Caso o cenário de recessão persista, as conquistas
socioeconômicas da última década estarão ameaçadas, avaliam especialistas
ouvidos pelo GLOBO. Por ora, para evitar o retrocesso, a classe média faz bicos
para manter suas conquistas e adia sonhos — do projeto de ampliar o próprio
negócio à compra do carro zero quilômetro, dos supérfluos na cesta de consumo
ao investimento
em educação superior.
— Fui obrigado a fazer um “bico” numa transportadora,
e ganhava R$ 1.500 por mês — conta Mario de Almeida, motorista de ônibus
aposentado, que foi obrigado a parar de prestar o serviço após o diagnóstico de
problemas cardíacos. — Chegamos a colocar o carro à venda, mas desistimos
por causa da minha saúde.
O esforço para ampliar a renda vem de uma necessidade
comum às famílias da classe média: pagar dívidas. Os Almeida somam dois
empréstimos consignados no valor de R$ 16 mil, contratados em 2012 e que devem
ser quitados ano que vem. Mario recebe aposentadoria de R$ 1.700, de onde sai a
parcela para pagar esses débitos. Sobram pouco mais de R$ 1 mil. Por mês, a
família desembolsa R$ 540 para pagar o imóvel adquirido pelo Minha Casa Minha
Vida três anos atrás. O financiamento se alonga por mais 22 anos. Pesa no
déficit doméstico um empréstimo de R$ 7 mil obtido junto a familiares, além do
cartão de crédito, cuja dívida pulou de R$ 800 para R$ 2 mil em quatro meses.
Com menor margem de manobra para acomodar reajustes
de preços, a classe média tem mais dificuldade de pagar as contas em dia,
explica Marianne Hanson, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC).
Pesquisa da entidade mostra que a fatia de famílias endividadas com renda de
até dez salários mínimos subiu de 58,8% para 63,3% em 2015. Nos lares com
rendimento superior a dez salários, a expansão foi de 50,8% para 55,4%.
A inadimplência no grupo de menor renda saltou de
19,8% para 24,1% de janeiro a julho, segundo a CNC. O percentual dos que se
disseram sem condições de pagar dívidas avançou de 7,4% para 9,5%. No grupo
acima de dez salários, o volume de pessoas com contas em atraso passou de 8,6%
para 9,8%. O percentual dos que preveem dar calote
foi de 2,6% para 2,8%.
Parte da explicação para o quadro está na perda de
poder aquisitivo, especialmente nas famílias com renda de até 2,5 salários
mínimos, considerada a faixa mais vulnerável da classe C. A inflação dos
últimos 12 meses ficou em 9,61%. Entre famílias de renda menor, ela chega a
10,31%, segundo o economista André Braz, da FGV, com base no Índice de Preços
ao Consumidor,
calculado pela entidade.
PODER AQUISITIVO CAI 10%
Despesas com itens básicos pesam mais no orçamento de
quem ganha menos. O grupo de alimentação e bebidas, que responde por 25% do
índice oficial de inflação, representa mais de 30% da cesta de produtos
consumidos pelos mais pobres.
— Se a inflação subiu 10%, a renda das famílias dessa
classe recuou em termos reais. Na prática, eles precisam desembolsar mais
dinheiro para consumir a mesma cesta de bens e serviços de um ano antes. Isso
mostra que a inflação já pesa mais para os menos favorecidos — explica
Braz.
Há ainda uma crise de confiança do consumidor,
pondera Dorival Mata-Machado, do Instituto Ipsos. A queda na renda e a retração
no mercado de trabalho seguram os gastos. No entanto, o esforço é
para manter as conquistas:
— A classe C levou um tombo em confiança. Depois do
que experimentou, em melhorias de condições de vida e ganho de renda, é
frustrante a expectativa de deixar esse caminho de melhora. É como se diz em
Minas Gerais: Quem provou mel dificilmente volta para o melado.
Para Renato Meirelles, presidente do Instituto Data
Popular, a classe C está empenhada em fazer o ajuste doméstico pois não vê
saída para a crise. O lado positivo é que, ao mesmo tempo, se vira para manter
o patamar
de consumo conquistado:
— A classe média se vira sempre. Está acostumada a
contornar dificuldades e se sai melhor na crise. Encontra uma forma de
complementar a renda, faz hora extra, arruma uma segunda atividade. Faz rodízio
de contas, num mês paga as Casas Bahia; no outro, a conta de luz. A crise é forte,
mas não há indicativo de encolhimento da classe C. Isso só aconteceria com o
desemprego em torno de 15%.
O peso da inflação já fez os planos da técnica de
laboratório Flávia Rezende mudarem. Moradora de Inhaúma, Zona Norte do Rio,
adiou o projeto de substituir o Gol ano 2000 — parado na garagem à espera de
conserto — por um zero quilômetro. As viagens foram cortadas:
— Está tudo mais difícil para quem é pobre. A última
vez que viajamos foi para a Região dos Lagos, queríamos ter feito uma viagem
melhor — diz Flávia, que trocou a casa alugada por um imóvel menor e próprio, após
reajuste do aluguel em 50%.
‘PERSPECTIVA DE FUTURO PREOCUPANTE’
Faltam recursos para pagar mensalidades escolares,
sobretudo em curso de nível superior. Muitos jovens estão entrando no mercado
de trabalho para reforçar o orçamento familiar. A Educafro, ONG que mantém uma
rede de cursos de pré-vestibular para afrodescendentes e carentes, registra
evasão de 30% no primeiro semestre, conta Frei
David, à frente da entidade:
— A evasão preocupa. A perspectiva de futuro que o
povo pobre está projetando para si é preocupante. Um dos problemas é os
governos não incluírem a gratuidade de transporte público para estudantes de
pré-vestibulares comunitários.
O aperto nas finanças, diz ele, leva jovens já na
universidade a desistir ou a adiar o curso. A ONG tem uma rede de instituições
de ensino conveniadas, que oferece bolsas a estudantes. Mês passado, a
Unicastelo, de São Paulo, rompeu o contrato, levando centenas de alunos a
deixarem a faculdade, diz Frei David:
— Só para a Unicastelo enviamos 1.065 alunos em 2013
e 2014. Este ano, mais de 600 abandonaram seus cursos. Houve suspensão de
bolsa, aumento súbito das mensalidades, além do corte do Fies, que atingiu em
cheio os pobres, e a crise econômica. Enviamos contranotificação à UniCastelo,
contestando a rescisão em 18 de julho. Não obtivemos resposta. Vamos fazer uma
ocupação da universidade.
A recepcionista Jennipher Nascimento, de 20 anos,
abandonou o curso de Odontologia na Unicastelo, iniciado em 2014:
— Comecei com bolsa de 50%, pagando R$ 570. No meio
do ano, a regra mudou. E metade da mensalidade seria paga pelo Fies. Como isso
não se confirmou, teria de pagar R$ 1.100. Sem desconto, não dá.
A Unicastelo argumenta, em nota, que a crise atinge o
segmento educacional. E destaca “o agravamento das dificuldades causado pelas
alterações realizadas pelo governo federal na sistemática do Fies, privando
milhares de alunos que pleiteiam uma vaga nas instituições de ensino de
prosseguirem com seus estudos, acarretando perda de receita considerável para
as instituições, obrigando-as a rever estratégias”. Nesse sentido, a
universidade rescindiu o contrato com a Educafro e com as outras instituições
com as quais mantinha convênios. Ressalta, porém, que a medida não afeta alunos
da ONG já beneficiados.
Frederico Abreu, diretor financeiro da Kroton, maior
grupo de educação privada do país, afirmou, na semana passada, que “existe um
potencial de aumento da inadimplência”. Ele admitiu que o pagamento em dia
desde o início do ano está “um pouco pior”. A empresa trabalha em planos de
controle da evasão de alunos diante da queda da renda da população e de
mudanças regulatórias no Fies.
O funcionário público Reinaldo Oliveira adiou a entrada
do filho na faculdade:
— Em fevereiro, teria como pagar a mensalidade do
Pedro. Mas o aluguel subiu quase 65%. Pensamos em partir para a compra da casa
própria, mas não é viável pagar a entrada ou valor das prestações.
Já a consultora de negócios Fernanda Alves cogita
trocar o curso presencial por outro à distância, no qual a mensalidade custa um
terço do valor. Em 2010, ela iniciou o curso de publicidade na Unigranrio. Fez
apenas um semestre. Desde então, teve dois filhos e
está construindo uma casa:
— Assim que tranquei, deixei três meses em aberto. Só
consegui pagar no ano passado. Tentei conseguir bolsa ou desconto para não
parar, já que meu trabalho exige curso superior para que eu seja promovida.
No supermercado, menos tem de ser mais
A hora de ir às compras é, para o consumidor da classe
C, a de encarar a realidade: o dinheiro no bolso já não é suficiente para
encher o carrinho como antes. Com a renda garfada pela inflação, a nova classe
média tem encontrado alternativas para lidar com a crise. Busca promoções,
compra menos, evita supérfluos, pesquisa mais.
Essa é a receita da produtora de eventos Elma Lúcia
Antônio. Com renda familiar de R$ 4 mil, ela tenta manter as compras de mês na
faixa dos R$ 600. Da última vez, no entanto, não conseguiu cumprir a meta.
Acabou gastando cerca de R$ 620 e diz que levou menos do que gostaria:
— Não uso mais vários produtos de limpeza. Para economizar,
passo cloro em tudo.
Este ano, 28 categorias estão perdendo espaço na
cesta de consumo da classe C, ante cortes de 22 na AB e 11 na DE, segundo dados
da Nielsen. Outro parâmetro do freio nas compras é que 64% dos supérfluos têm
presença decrescente nos itens comprados pela classe média, enquanto produtos
mais básicos avançam 56%. A meta é comprar o necessário
e na medida do consumo.
Fazer poucos produtos renderem mais é lema da cantora
Noêmia Duque. A inspiração vem da infância. Baiana que mora no Rio há 20 de
seus 44 anos, ela hoje usa as receitas da mãe que, na infância, precisava
alimentar sete filhos:
— Não dava pra fazer bife todos os dias. Minha mãe
fazia omelete, e a gente achava que era um manjar dos deuses. Hoje, faço risoto
no lugar
de moqueca para render mais.
De acordo com a Nielsen, a classe C gastava 15,1%
mais do que recebia em 2013. Do ano passado para cá, essa taxa encolheu para
apenas 2,9% a mais que a receita. Os reflexos no consumo são imediatos.
— Em 2015, a classe C estabilizou o número de idas ao
ponto de venda e o aumento do tíquete médio. E há mudança no consumo. A
categoria de acesso, quando a pessoa compra um produto que nunca consumiu,
parou de crescer. E ela só faz a troca por um produto de qualidade superior ao
que usa se enxergar vantagem real na troca — explica Natalia Uliano, analista
de mercado da Nielsen.
Substituir marcas mais caras por mais baratas foi a
estratégia encontrada pela técnica de laboratório Flávia Rezende, que cortou
supérfluos. Nem o cereal matinal pedido pelo filho de 13
anos escapou da tesourada.
— Estou substituindo as marcas, principalmente. Hoje
fiz compras e troquei a marca líder, que estava R$ 4,95, por outra que saiu por
R$ 2,99. Meu filho adora cereal, e não estou podendo
mais comprar — diz ela.
Outras estratégias são a compra de produtos de marca
própria das varejistas, com preço até 30% menor, e o uso de encartes de promoções
para garantir o melhor preço na boca do caixa, diz o consultor de
varejo Marco Quintarelli.
Apesar do mau momento, a classe média deve continuar
comprando este ano. Segundo Marcos Pazzini, sócio da IPC Marketing, o gasto
médio dos domicílios da nova classe média baterá R$ 42,8 mil em 2015. O valor é
24% superior ao calculado para 2014, mas o avanço é menor que o das outras
classes sociais, menos impactadas pela crise.
— A classe C ainda está resistindo bravamente à
crise, mas, a partir do momento em que os níveis de emprego começarem a
diminuir, pode ter uma menor participação no potencial de consumo
brasileiro — avalia Pazzini.
Christian Travassos, gerente de Economia da
Fecomércio-RJ, lembra que o forte freio em vendas é também consequência do pico
de consumo experimentado nos últimos anos.
Analistas veem risco
de retrocesso social
O processo de encolhimento da classe C já começou e
pode se intensificar, caso o mercado de trabalho não reaja rapidamente. A
análise é do economista Waldir Quadros, professor aposentado do Instituto de
Economia da Unicamp. O pesquisador usa um critério próprio para classificar a
população brasileira, em que a profissão também influencia. Pela metodologia,
professores do Ensino Médio e técnicos em contabilidade, por exemplo, estão
entre as ocupações mais comuns da chamada média classe média. Assim, divide o
país em cinco padrões de vida, que vão de “alta classe média” a “miseráveis”.
Com base na Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (Pnad), cujos dados mais recentes são referentes a 2013, Quadros
calcula que, naquele ano, a população da média classe média encolheu de 2,6
milhões de pessoas, na comparação com 2012, desconsiderando o crescimento
populacional no período. Os dados são de um estudo
publicado no ano passado.
— Os mais prejudicados foram os que subiram
recentemente, de 2004 para cá. As tendências estão claras. Olhando o que
aconteceu em 2013, projetamos que 2014 e 2015 vão ser piores
ainda — avalia Quadros
Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor executivo da
Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), também vê risco de
encolhimento da classe C e retrocesso social:
— Se as condições atuais se deteriorarem ainda mais,
o retrocesso socioeconômico será inevitável. Já existe perda de renda. Isso
freia o consumo em diversas frentes, no supermercado, na saúde, na educação —
afirma Oliveira. — As pessoas já estão sendo afetadas. Elas já precisam fazer
escolhas que incluem perdas em qualidade de vida. Todos já sofrem um
rebaixamento em bem-estar.
Rudi Rocha, pesquisador do Instituto de Economia da
UFRJ, lembra que a classe C tem se mostrado resiliente à desaceleração da economia.
Em artigo de 2013, ele avaliava que a perda de ritmo, que já começava a
aparecer, tinha pouco impacto. Mas, agora, destaca que o
agravamento da crise preocupa:
— O que vemos agora é uma crise de grandes
proporções. Recessões como esta tendem a afetar mais fortemente trabalhadores
com baixa qualificação e com dificuldades de inserção no mercado de trabalho.
De todo modo, ainda precisamos de tempo e de uma análise mais cuidadosa a
respeito de como os efeitos desta recessão em particular têm se distribuído
entre os diferentes setores de atividade e trabalhadores.
QUEDA
NO CONSUMO
Outros especialistas reconhecem perdas, mas
negam o recuo da classe C.
— A redução no número de postos de trabalho vai
reduzir o padrão de vida de muitas famílias. No geral, porém, o cenário hoje
não é de encolhimento da classe média. Queda de 2% no PIB e 7% de desempregos
não são suficientes para reverter o avanço de mais de dez anos -— diz Marianne
Hanson, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC).
Já Bianca Ambrósio, gerente de estatística da TNS —
uma das consultorias que participou da elaboração do novo critério de
classificação social, em vigor desde o início do ano, destaca que não há risco
de perda brusca das conquistas da última década. Isso porque o critério mais
aceito leva em conta não só a renda, mas também condições mais difíceis de
serem
perdidas, como anos de estudo.
— O modelo de classificação socioeconômica é muito
robusto A gente não vai ver um movimento brusco das classes, do tipo quem está
na classe C ir para D — argumenta Bianca. — A crise vai impactar de forma mais
visível só no ano que vem. Quem tem um grau de instrução elevado não vai deixar
de ter. Não vão deixar de ter água encanada. O que vai acontecer é que a
capacidade dos indivíduos de consumir vai diminuir.
Esse freio no consumo já aparece nos dados oficiais
do IBGE, mostrando que o momento atual é o ponto mais baixo de uma trajetória
de desaceleração iniciada há alguns anos. O volume de vendas do varejo cai ano
a ano. Em 2012, cresceu 8,4%. Em 2013, 4,3%. No ano passado, a expansão foi de
2.2%. Agora, de janeiro a junho de 2015, registrou retração de 2,2%, pior
resultado para o primeiro semestre desde 2003, de acordo com a Pesquisa
Mensal do Comércio (PMC).
— O consumo continua sendo a mola propulsora, via
comércio e serviços, puxando a economia. A vantagem é que nesta crise temos um
cliente mais preparado do que em outras crises do passado. As pessoas têm
cartão de crédito, há maior número de pessoas com carteira assinada e mais capacidade
de manter o padrão de consumo — avalia Christian Travassos, gerente de
Economia da Fecomércio-RJ.
Christine Pereira, diretora comercial da Kantar,
lembra que a queda, que iniciou nas grandes compras, os chamados bens duráveis,
já começa a aparecer no pequeno varejo, afetando os bens não duráveis também. A
consultoria calcula que o volume médio de compras da classe C recuou 10% no
semestre, frente a igual período do ano passado — a pior retração entre as
classes
pesquisadas pelo levantamento.
— A gente já estava vendo essa racionalização do
consumo, com as famílias indo menos vezes aos pontos de venda. Mas, no ano
passado, o volume médio se mantinha estável. Agora, começou a cair
— argumenta Christine.
ESFORÇO
PARA MANTER PADRÃO
Uma das principais preocupações de economistas é que
uma queda do investimento em educação torne a parcela dos que ascenderam
recentemente à classe média ainda mais vulnerável, em um momento de
desaceleração do mercado de trabalho. Analistas estimam que o país destruirá
cerca de 1 milhão de vagas formais até o fim de ano.
— Esses 40 milhões que trasladaram estão no maior
risco. Eles têm, na média, uma escolaridade mais baixa, e consequentemente uma
produtividade mais baixa. São as pessoas menos demandadas pelo mercado de
trabalho. Quando o mercado está em crise, demite quem tem menos produtividade —
explica Manuel Thedim, coordenador do Instituto de Estudos do
Trabalho e Sociedade (IETS).
A boa notícia é que há um esforço da classe C para
manter as conquistas e o padrão de vida atual. As pessoas passaram a buscar
formas de complementar o orçamento, o que inclui atividades informais e
formais. Áreas como as de gastronomia, beleza e bem-estar estão entre as que
podem garantir um dinheiro a mais para as famílias nesse
momento de aperto no bolso.
O Senac RJ registrou o dobro de acessos por
informações sobre curso de maquiador em seu site este ano, na comparação com
igual período de 2014. A área de ensino à distância — que oferece cursos
técnicos com preços até 30% menores que os dos cursos presenciais e maior
flexibilidade de horário -- teve 50% mais consultas.
— O brasileiro vai tentar se virar, tem muita
criatividade. Vai procurar saídas para atravessar essa crise. Mas a gente está
torcendo que esse momento passe o mais rápido possível — afirma Ricardo Ismael,
professor do departamento de Ciências Sociais da PUC-Rio.
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