PODER AQUISITIVO CAI 10%
Quem está mais sofrendo com a crise?
A Classe “C” e principalmente os mais
pobres.
As outras classes dirão: “Crise? Que
crise?”.
Despesas com itens básicos
pesam mais no orçamento de quem ganha menos. O grupo de alimentação e bebidas, que responde por 25% do índice oficial
de inflação, representa mais de 30% da cesta de produtos consumidos pelos mais
pobres.
— Se a inflação
subiu 10%, a renda das famílias dessa classe recuou em termos reais. Na
prática, eles precisam desembolsar mais dinheiro para consumir a mesma cesta de
bens e serviços de um ano antes. Isso mostra que a
inflação já pesa mais para os menos favorecidos.
Há ainda uma crise de
confiança do consumidor. A queda na renda e a retração no mercado de trabalho seguram os gastos. No entanto, o
esforço é para manter as conquistas: a classe C levou
um tombo em confiança. Depois do que experimentou, em melhorias de condições de
vida e ganho de renda, é frustrante a expectativa de deixar esse caminho de
melhora. A classe C está empenhada em fazer o ajuste doméstico
pois não vê saída para a crise. O lado positivo é
que, ao mesmo tempo, se vira para manter o
patamar de consumo conquistado: a classe média se vira sempre. Está acostumada a contornar dificuldades e
se sai melhor na crise. Encontra uma forma de complementar a renda, faz hora
extra, arruma uma segunda atividade. Faz rodízio de contas, num mês paga as
Casas Bahia; no outro, a conta de luz. A crise é forte, mas não há
indicativo de encolhimento da classe C. Isso só aconteceria com o desemprego em torno de 15%.
Faltam recursos para pagar
mensalidades escolares, sobretudo em curso de nível superior. Muitos jovens estão entrando no mercado de trabalho para reforçar o
orçamento familiar. A evasão preocupa. A
perspectiva de futuro que o povo pobre está projetando para si é preocupante. Um dos problemas é os governos não incluírem a gratuidade de transporte
público para estudantes de pré-vestibulares comunitários. O aperto nas finanças
leva os jovens já na universidade a desistir ou a adiar o curso. Houve suspensão de bolsa, aumento súbito das
mensalidades, além do corte do Fies, que atingiu em cheio os pobres, e a crise
econômica. A crise atinge o segmento
educacional. O agravamento das dificuldades causado pelas alterações realizadas
pelo governo federal na sistemática do Fies, privando milhares de alunos que
pleiteiam uma vaga nas instituições de ensino de prosseguirem com seus estudos,
acarretando perda de receita considerável para as instituições, obrigando-as a
rever estratégias. Frederico Abreu, diretor financeiro da Kroton,
maior grupo de educação privada do país, afirmou, na semana passada, que “existe um potencial
de aumento da inadimplência”. Ele admitiu que o
pagamento em dia desde o início do ano está “um pouco pior”. A empresa trabalha
em planos de controle da evasão de alunos diante da queda da renda da população
e de mudanças regulatórias no Fies.
No supermercado, menos tem de ser mais...
A hora de ir às
compras é, para o consumidor da classe C, a de encarar a realidade: o
dinheiro no bolso já não é suficiente para encher o carrinho como antes. Com a
renda garfada pela inflação, a nova classe média tem encontrado alternativas para lidar com a crise. Busca
promoções, compra menos, evita supérfluos, pesquisa mais. Este ano, 28 categorias estão
perdendo espaço na cesta de consumo da classe C, ante cortes de 22 na AB e 11 na DE. Outro parâmetro do freio nas compras
é que 64% dos supérfluos têm presença decrescente nos itens
comprados pela classe média, enquanto produtos
mais básicos avançam 56%. A meta é comprar o necessário e na medida do consumo. Fazer poucos produtos renderem mais é lema. A classe C gastava
15,1% mais do que recebia em 2013. Do ano passado para cá, essa taxa encolheu
para apenas 2,9% a mais que a receita. Os reflexos no consumo são imediatos. Em 2015, a classe C estabilizou o
número de idas ao ponto de venda e o aumento do tíquete médio. E há mudança no
consumo. A categoria de acesso,
quando a pessoa compra um produto que nunca consumiu, parou de crescer. E ela só faz a troca por um produto de qualidade superior ao que usa se
enxergar vantagem real na troca. Outras estratégias são a compra de produtos de
marca própria das varejistas, com preço até 30% menor, e o uso de encartes de
promoções para garantir o melhor preço na boca do caixa.
Risco de retrocesso social e encolhimento da classe C:
O processo de encolhimento
da classe C já começou e pode se intensificar, caso o mercado de trabalho não
reaja rapidamente. Professores do Ensino Médio e técnicos em contabilidade, por exemplo,
estão entre as ocupações mais comuns da chamada média classe média. Assim, divide o país em cinco padrões de vida, que
vão de “alta classe média” a “miseráveis”. Com base na Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (Pnad), cujos dados mais recentes são referentes a 2013, naquele ano, a população da média
classe média encolheu de 2,6 milhões de pessoas, na comparação com 2012,
desconsiderando o crescimento populacional no período. Os dados são de um
estudo publicado no ano passado. Os mais prejudicados foram
os que subiram recentemente, de 2004 para cá. As tendências estão claras. Olhando o que aconteceu em 2013, projetamos que 2014 e 2015 vão ser
piores ainda.
Se as condições
atuais se deteriorarem ainda mais, o retrocesso socioeconômico será inevitável.
Já existe perda de renda. Isso freia o consumo em
diversas frentes, no supermercado, na saúde, na educação. As pessoas já estão sendo afetadas. Elas já precisam fazer escolhas que
incluem perdas em qualidade de vida. Todos já sofrem um
rebaixamento em bem-estar. A classe C tem se
mostrado resiliente à desaceleração da economia. Desde 2013 a perda de ritmo já
começava a aparecer, mas tinha pouco impacto. Agora, o agravamento da crise
preocupa: o que vemos agora é uma crise de grandes proporções. Recessões como
esta tendem a afetar mais fortemente trabalhadores com baixa qualificação e com
dificuldades de inserção no mercado de trabalho. De todo modo, ainda precisamos
de tempo e de uma análise mais cuidadosa a respeito de como os efeitos desta
recessão em particular têm se distribuído entre os diferentes setores de
atividade e trabalhadores.
QUEDA NO CONSUMO
Outros especialistas
reconhecem perdas, mas negam o recuo da classe
C. A redução no número de postos de trabalho vai reduzir o padrão de vida
de muitas famílias. No geral, porém, o cenário
hoje não é de encolhimento da classe média. Queda de 2% no PIB e 7% de
desempregos não são suficientes para reverter o avanço de mais de dez anos. Não há risco de perda brusca das conquistas da última
década. Isso porque o critério mais aceito
leva em conta não só a renda, mas
também condições mais difíceis de serem perdidas, como anos de estudo. O modelo de classificação socioeconômica é muito
robusto A gente não vai ver um movimento brusco das classes, do tipo quem está
na classe C ir para D. A crise vai impactar de
forma mais visível só no ano que vem. Quem tem um grau de
instrução elevado não vai deixar de ter. Não vão deixar de ter água encanada. O
que vai acontecer é que a capacidade dos indivíduos de consumir vai diminuir.
Esse freio no consumo já
aparece nos dados oficiais do IBGE, mostrando que o
momento atual é o ponto mais baixo de uma trajetória de desaceleração iniciada
há alguns anos. O volume de vendas do varejo cai ano
a ano. Em 2012, cresceu 8,4%. Em 2013, 4,3%. No ano passado, a expansão foi de
2.2%. Agora, de janeiro a junho de 2015, registrou retração de 2,2%, pior
resultado para o primeiro semestre desde 2003, de acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC). O
consumo continua sendo a mola propulsora, via comércio e serviços, puxando a
economia. A vantagem é que nesta crise temos um
cliente mais preparado do que em outras crises do passado. As pessoas têm
cartão de crédito, há maior número de pessoas com carteira assinada e mais
capacidade de manter o padrão de consumo. A
queda, que iniciou nas grandes compras, os chamados bens duráveis, já começa a
aparecer no pequeno varejo, afetando os bens não duráveis também. A consultoria calcula que o volume
médio de compras da classe C recuou 10% no semestre, frente a igual período
do ano passado — a pior retração entre as classes pesquisadas pelo
levantamento. A gente já estava vendo essa racionalização
do consumo, com as famílias indo menos vezes aos pontos de venda. Mas, no ano passado, o volume médio se mantinha estável. Agora, começou
a cair.
ESFORÇO PARA MANTER PADRÃO
Uma das principais
preocupações de economistas é que uma queda do investimento em educação torne a
parcela dos que ascenderam recentemente à classe média ainda mais vulnerável,
em um momento de desaceleração do mercado de trabalho. Analistas estimam
que o país destruirá cerca de 1 milhão de vagas formais até o fim de ano. Esses 40 milhões que trasladaram
estão no maior risco. Eles têm, na média, uma escolaridade mais baixa, e
consequentemente uma produtividade mais baixa. São as pessoas menos demandadas
pelo mercado de trabalho. Quando o mercado está em
crise, demite quem tem menos produtividade/escolaridade.
A boa notícia é que há um
esforço da classe C para manter as conquistas e o padrão de vida atual. As pessoas passaram a buscar formas de complementar o orçamento, o que
inclui atividades informais e formais. Áreas como as de gastronomia, beleza e
bem-estar estão entre as que podem garantir um dinheiro a mais para as famílias
nesse momento de aperto no bolso. O Senac RJ registrou
o dobro de acessos por informações sobre curso de maquiador em seu site este ano, na comparação com igual período de 2014. A
área de ensino à distância — que oferece cursos técnicos com preços até 30%
menores que os dos cursos presenciais e maior flexibilidade de horário -- teve
50% mais consultas. O brasileiro vai
tentar se virar, tem muita criatividade. Vai procurar saídas para atravessar
essa crise. Mas a gente está torcendo que esse momento passe o mais rápido
possível
Penhora de joias aumenta 17%
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