É um
filme de ficção científica e suspense, lançado no ano passado (2013) no Reino
Unido.
Como a sexualidade vem
construindo temas no cinema da atualidade? O filme trabalha com subjetivação e
o turbilhão de coisas ocultas e complexas (que estão debaixo da nossa pele) que
nos torna humanos.
Não é um filme para ser
compreendido, mas, sim, que parece pretender acordar algum espanto e reflexão.
Mais do que entender o que se passa no enredo do filme, somos convidados a
pensar a respeito do que afinal é ser
humano, o que é estar no mundo e
do sentido da vida (a pele, a mente,
o corpo, quem está ali? O que se constitui enquanto o ser que pensamos
existir?). Pois, as pessoas que aparecem, passeiam a esmo, sem grandes
direcionamentos, apenas vivem o cotidiano em seu absurdo e em sua alegria. O
filme:
- Discute a condição humana;
- A protagonista usa seu forte
magnetismo sexual (sedução e apelo sexual) para atrair as presas;
- O toque do humano e a
confusão diante de um emaranhado de desejos e sentimentos legítimos;
- Comportamento histérico;
- Laura chega à Terra (ela é
um alienígena debaixo da pele humana) como puro instinto (forte magnetismo
sexual) para atrair suas presas. Fica bem claro que ela como alienígena, “visitante”,
não está ali como a grande maioria dos seres humanos. Ela é e está ali colocada
para eles como algo próximo a uma outra espécie ou coisa, no sentido mais amplo
da coisificação. Daí em diante, nos veremos às voltas com tudo aquilo que
questiona o que forma o sujeito em sua
relação com o outro e consigo mesmo:
1.
Um afeto surge ali no limite do desejo
sexual propriamente dito e dos vínculos que formam a relação amorosa, em sua
inserção, no amplo e complexo tecido social;
2.
Ser tocado pelo humano é ser tocado por
aquilo que cuida, acolhe e cria o afeto. Despois nasce esse legítimo desejo de
sentir e de ser tocado. O humano está naquela sensação ou qualquer ação de
proteção e amparo diante, por exemplo, de choro de um bebê;
3.
É sobre aquilo que nos faz sujeito em
relação, que a atrai, não necessariamente a necessidade de prazer sensorial das
coisas;
4.
O filme não está preocupado (nem faz
alusão) com a busca dos prazeres básicos;
5.
O que é desconcertante é a capacidade de
relação que observa, em sua forma mais amorosa ou em sua forma mais destrutiva;
6.
O afeto: esse elemento de ligação que,
estranhamente, desenvolvemos em direção ao outro, componente básico daquilo que
forma a empatia e a solidariedade, a proteção e o amparo;
7.
Hipnotizadas pela atração da protagonista,
as vítimas não se dão conta da imersão em um pântano virtual, sendo sugadas em
todas as suas entranhas, restando, apenas, o invólucro, a pele;
8.
Busca os solitários, aqueles que ninguém
sentirá falta, os esquecidos, e poupa, não se sabe bem o porquê, aquele que por
sua deformação física, se encontra ainda mais afastado de qualquer
possibilidade de laço afetivo. A abertura do estranhamento no ser pode dar
lugar à angústia e à busca;
9.
O vislumbre da dúvida que instaura a
necessidade do outro;
10. Perdida
na floresta como o mais pueril conto infantil, acaba encontrada pela maldade
perversa, do lobo, aquela mesma que antes era parte do seu ser, a que anula o
outro enquanto desejo, dono de seu próprio destino e escolhas. Ao que conduz ao
pântano do desaparecimento da condução da própria vida. Assustada corre, da
dura constatação de que, algumas vezes, o contato é, também, uma cruel
agressão, que se longe do prazer, do consentido, pode ser aterrorizante;
11. Vestida
na pele humana, começa a sentir uma crescente curiosidade que a leva a olhar a
estranheza do homem e seu meio. A angústia do meio do caminho onde se coloca,
meio fera, meio mulher.
12. O
instinto que se transforma na assustadora necessidade de contato.
13. As
cenas de violência são conduzidas com um toque de “coisa comum”, de
“banalidade”, vistas pelo olhar de seres que não enxergam o ser humano como
nenhuma espécie que mereça um olhar com mais compaixão.
14. O que
será que tocou aquela criatura, a ponto de fragilizá-la ao extremo? Aquilo que
nos faz mais compassivos é, também, aquilo que nos torna monstros, uma delicada
equação que a humanidade propõe, se equilibrando sempre puxada pelos seus
opostos.
- A questão da libido enquanto
força motriz do sujeito e esta sendo encarada, sempre, inquestionavelmente,
como energia sexual. Essa energia anda sempre amalgamada com a agressividade que,
sem propor um julgamento sobre o sujeito, revela-o.
- A presa que vai revelar ao
espectador o que acontece com as vítimas que Laura atrai. Hipnotizados pela
atração que ela exerce, não se dão conta da imersão em um pântano virtual, no
qual são capturados, sendo, em seguida, sugados em todas as suas entranhas,
restando, apenas, o invólucro, a pele. A epiderme das sensações, daquilo que
leva ao prazer, a experiência, ao contato.
Não é um filme que utiliza o
formato de atração do grande público. É muito lento e denso. Desse ponto de
vista, não recomendo a ninguém. Mas, para os amantes da Psicologia e da
reflexão ruminante, o filme é um prato cheio. É para aqueles que buscam um
despertar de emoções no contato com uma obra cinematográfica.
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