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“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

sábado, 2 de março de 2013

FILME 03: A.I. – Inteligência Artificial (do diretor: Steven Spielberg)


O que aprendi com esse filme?
Por Neilton Lima
Professor, pedagogo e psicopedagogo.

Desculpe-me por não ter te contado sobre o mundo (na verdade, sobre as pessoas). Mas mesmo assim eu vou te falar...

Originalidade sem propósito é inútil. Mas que tipo de propósito? Grana? Será que você realmente ama outra pessoa, ou ama o que ela faz para você? O mundo é mais cheio de lamentos do que você pode entender. Aonde o raciocínio próprio pode nos levar?

Deus amava Adão e o criou para que ele também o amasse. Mas esse amor, sabemos, não foi correspondido nem recíproco à altura. “Imitar” a Deus e criar um ser artificial (criogenia) foi o sonho do homem, desde os primórdios da ciência.  Estamos diante de uma questão moral e ética, a mais antiga de todas. Não se trata apenas de criar um robô que consiga amar um ser humano, mas será que esse humano também conseguiria amar esse robô de verdade? Ora, se o homem não foi capaz de amar o seu Criador (e nem sempre o seu próximo), amaria uma criatura (artificial) sua? Tudo isso é uma história de grande risco. Se o desejo do homem é imitar o Criador Deus, e criar uma inteligência artificial com emoções, talvez então ele possa praticar a pior das façanhas de Deus: a decisão de DESTRUIR, aniquilar, as suas criaturas.

Do direito de criar não se transfere o direito de existir? Essa lógica parece ter sido desconsidera dos moldes éticos da escritura bíblica. Por que Deus criou o mundo e as criaturas, teria Ele o direito de destruir tudo? Se um homem gera um filho, tem ele o direito de matá-lo? Não temos nós, assim como não tem esse filho o direito a ter direitos, inclusive o de existir? Não vejo prosperidade e Ética na vida, cujo princípio se cai em contradição infame. Quem escreveu esse detalhe bíblico importantíssimo (acredito eu não ter sido Deus ou a sua lógica) estava muito mais preocupado em atribuir medo, temor, servidão e domínio do que resguardar o princípio da vida. “Ou me obedece ou te destruo”. O filme levanta essa questão implicitamente, porque o homem, após criar uma inteligência artificial com emoções (David), expõe as possíveis conseqüências dos seus atos: quem se responsabilizará por ele? Ora, se Deus não é o responsável pelos atos das suas criaturas (guerras, fome, destruição, etc.), mas sim o próprio homem, então outra criatura inteligente e emotiva também não seria responsável por si própria?

Por que o deus bíblico fez a humanidade? Teria ele se sentido SÓ? Não me entra na cabeça o fato de um Ser onipresente, onisciente, onipotente, perfeito, não saber que o homem adquiriria vida e vontade própria, livre arbítrio e ambigüidade. Então o filme nos questiona moralmente, eticamente, quando o assunto é a ciência criar vida, ainda que essa seja uma inteligência artificial: não estaria ela sujeita a repetir o que nós mesmos teríamos feito com Deus? É como se o filme dissesse: “Essa história já conhecemos por experiência própria, queremos mesmo repeti-la, dessa vez, fazendo o papel de Deus?”. “Nossos criadores estão sempre procurando quem os criou: aí entram numa igreja, templo ou outro nome dado ‘sei lá o que’, canta, ora, olha pra baixo, fecha os olhos e depois sai... toma um bom gole de bebida, acha um bom parceiro para acasalar e depois fica sofrendo de melancolia e solidão”.

Do cerne dessa questão, surge a barbárie, sustentada por um discurso político do terror: “o homem é uma criatura imperfeita e pode ser destruída”. “Um robô não é um organismo, é mecânico e artificial, e pode ser destruído”. Quando lhe querem roubar o seu direito de existir, haverá um discurso do mal para justificar o terror. A história comprova isso em todos aqueles que tentaram justificar a guerra ou a superioridade de uns sobre os outros.

A busca voraz por lucros, a exigência imediata de respostas, um mundo cada vez mais acelerado, associados com os avanços tecnológicos e os caprichos humanos de conseguir “trabalhadores” para os mais diversos campos da vida diária, com menos gastos e mais eficiência... Tudo isso torna muito provável a hipótese levantada pelo filme. O interesse que move a indústria da robótica é só um, mas busca dividi-lo em dois: não só abrirá um mercado novo como atenderá a uma necessidade humana. Que necessidade é essa? Aquela deixada como espaço vazio, quando outro ser humano não é capaz de preencher, como o de uma mulher que deseja ter um filho, mas não o pode conceber ou de um relacionamento frustrado, onde uma das partes não corresponde com o amor e o afeto esperado. Em ambos os casos, o vazio da solidão. Um robô para satisfazer nossas necessidades “robôs são prazeres sem culpa dos humanos solitários”, mas, até quando? Até quando elas durarem?!

ERRAR não é só um ato humano, como também é uma das características que nos torna e nos faz humanos. São justamente nossos “vacilos”, enganos, equívocos e hesitações que nos fazem comportar de forma não mecânica, titubeante e subjetiva. Caso tomássemos todas as decisões de forma reta, objetiva e automática não seríamos humanos e sim máquinas programadas para sempre acertar. Ora, ao que tudo indica, “amadurecer não é tomar decisões corretas sempre, amadurecer é saber lidar com as decisões tomadas”. E no centro dessa pane, parece estar os sentimentos, entre eles o AMOR. Nossas EMOÇÕES (alegria, ciúme, raiva, tristeza, vergonha, inveja, medo, surpresa, amor...), ao temperar nossas atitudes e comportamentos, para bem ou para mal, não só nos impede de sermos autômatos como nos torna humanos ambíguos. Humanos emitem calor...

Outro aspecto importante é o da capacidade de SONHAR, no significado de desejar ou querer intensamente algo. O homem que deixa de sonhar antecipa a morte, quer dizer, a vida perde o sentido ou fica carente de propósito. Objetivos e metas nos impulsionam a lutar e persistir, e eles ganham mais força diante da consciência da MORTE. Cientes da nossa finitude, queremos realizar nossos sonhos e passar um pouco de nós para o futuro, quer através dos filhos, uma obra intelectual ou algum feito histórico marcante que seja um memorial.

Parece que a conclusão é: só uma máquina inteligentemente programada para amar, amaria tão perfeitamente. O amor em si (idealizado por nosso sonho ou nossa fantasia) pode ser perfeito (o amor platônico, talvez), mas o amor humano, sensível, carnal... É imperfeito. Está sujeito a controvérsias e decepções. O amor sensível é tão imperfeito, que ele não basta nem garante a si mesmo. Estar sujeito a trair-se. Então não se trata de desacreditar nesse amor entre os humanos, mas desiludir-se. Quem arrisca a amar assim, deve estar preparado para saber lidar com as desilusões, as tensões, as conseqüências e a finitude.  

O aumento do nível do mar, uma das conseqüências previstas para o Aquecimento Global, engoliu muitas cidades litorâneas. Muita gente morreu nos países pobres e a prosperidade dos ricos se manteve com o controle da natalidade. Num cenário de poucos recursos e mais restrições de filhos, os robôs ganharam mais importância (brinquedo sensorial: com circuitos comportamentais inteligentes, usando uma tecnologia de seqüenciamento neuronal, Um ser artificial: membros articulados, fala articulada, reações humanas, reação à dor). A forma que encontramos para vencer o tempo e permanecer existindo, a resposta está nos filhos. Um robô (criança-robô) que consiga AMAR (um amor sem fim)? Que substitua os filhos. Um Meca racional com uma resposta neuronal. “Sugiro que o amor seja a chave com a qual ele irá adquirir uma subconsciência jamais alcançada”. Um mundo interior de metáfora, intuição, raciocínio próprio de sonho. Um robô que sonhe? David encontrou um conto de fadas, “Pinóquio” e, inspirado pelo amor, e repleto de vontade, saiu numa jornada para torná-lo real e, o mais impressionante, ninguém o ensinou. Aonde o raciocínio próprio de David o levaria? À conclusão lógica. A fada representa a falha humana de procurar o que não existe, ou o maior dom humano: A habilidade de buscar os nossos sonhos. À conclusão lógica: vamos descobrir que: O dia mais feliz é o Hoje. O que não deveria existir na nossa mente: Problemas.

Nessa busca insistente e incansável, muitas descobertas das mais variadas sensações: erros, amor, emoções, morte, rejeição e abandono, o medo de ficar sozinho, o desejo de ser amado, a manipulação, o ciúmes, a competição, a má fé, a mentira, provocações, concorrência, disputa, Felicidade, ressentimento, remorso, culpa, dor, as “marcas da paixão”, crueldade, violência, maldades... E uma das palavras mais fortes da bagagem humana: o ABANDONO (no filme, e por que não na vida real? USAR e DESCARTAR). Frustração e suicídio. Desilusão. Encarar a realidade. ESPERANÇA, súplica, choro, morte, “espírito”... Sonhar e desejar por conta própria, ter raiva e fúria. “Talvez um único dia dure para sempre”.

O ser humano nada mais é do que o próprio sonho que ele busca. O sonho e ele são um só. O objeto de desejo do sonho é o motor que impulsiona sua vida. No mundo sensível, esse objeto é uma coisa concreta, real. No mundo supra-sensível, é “Deus”. A pior frustração é perceber que tal sonho é uma simples ilusão. A maior realização é conseguir ser feliz com esse sonho. Eis o mistério, o propósito e o risco de viver e sonhar.

Hoje em dia, nada custa mais que a informação. Mas existe uma que não tem preço: o Sobrenatural é a teia oculta que une o Universo. É mágico. Não pode ser visto ou medido. E é justamente essa extravagância que separaria um robô dum ser humano: um robô acreditaria em “Deus”? No filme, David tem um propósito: se transformar num menino de verdade para ser aceito e amado por sua mãe (Mônica). Inspirado no conto de fadas “Pinóquio”, o boneco de madeira que queria ser um menino real, ele se lança em busca da fada-azul. O azul é a cor da melancolia. Parece que não é difícil acreditar em alguma coisa quando se tem um propósito. O de David já sabemos, e qual é o nosso? Diante da certeza da morte, temos a curiosidade de saber se existe algo além dela e o quê? Isso justifica a crença de uma grande parte das pessoas do mundo, e a curiosidade do restante, inclusive EU.

“Os humanos criaram milhões de explicações pro sentido da vida na arte, na poesia, em fórmulas matemáticas. Certamente os humanos são a chave para o sentido da existência. Pode ser possível um projeto de recriação do corpo vivo de uma pessoa, por meio de um fragmento de DNA. Mas se pergunta: Será possível restaurar a memória juntamente com o corpo ressuscitado? A própria estrutura de tempo e espaço armazenam informações sobre cada evento ocorrido no passado. Fracasso: As equações mostram que uma vez que a trilha tempo-espaço de um indivíduo tenha sido usada ela não pode ser reutilizada.

A desvantagem de um Meca, um “ser humano” mecânico, é que ele não terá malícias de autodefesa, manipulação de pessoas e situações para satisfazer seus caprichos e interesses, capacidade de montar situações a seu favor e outras situações contra seus adversários, mentir para tirar vantagens ou proveito próprio. Enfim, ser dissimulado e hipócrita. Ora, isso o ser humano sabe fazer muito bem. E não creio que isso seja vantagem para a nossa espécie ou vantagem sobre um robô. Mas, drasticamente, é uma característica muito nossa.

“Um AMOR só seu”. A característica do amor é a sua imprevisibilidade, seu (des)encadeamento lógico. E, como se não bastasse, ele pulsa num ser que é limitado, ambíguo, complexo, cheio de vontade e desejo, condicionado por vários instintos. David foi programado para amar sem fim e sem limites, mas não foi programado para deixar de amar, se ofender com esse amor, negá-lo, abandoná-lo. Eis o grande dilema do filme, um Meca (mecânico) programado para amar se “relacionando” com um Orga (orgânico), uma pessoa de amor ambivalente.

Não importa quanta ou qual inteligência seja (artificial, extraterrestre...). Não importa se o sonho do ser humano seja algo possível, provável ou não. O que existe em nós que é fabuloso e fantástico é essa coisa chamada de “espírito” e essa tal habilidade de buscar sonhos. Então fica uma pergunta avassaladora: o que será da nossa espécie daqui 2 mil anos?
Aquele Abraço! 

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