Por Neilton Lima*
Professor, pedagogo e especialista em
psicopedagogia*
A psicopedagogia nasceu na Europa em 1946, migrou para a Argentina
com marcas da literatura francesa e influenciou o Brasil em 1970, sendo que, nos anos 90, proliferaram seus cursos pelas regiões Sul e Sudeste do país. Foi fruto da
articulação de conhecimentos das áreas de Psicologia,
Pedagogia, Psicanálise e Medicina,
em que hoje busca compreender, desencadear e orientar o processo de aprendizagem.
A articulação desses
conhecimentos, mais o olhar e a escuta atentos, fez-se nascer o método clínico psicopedagógico fundamentado na epistemologia convergente (Jorge Visca).
Seu caráter é diagnóstico, corretor e preventivo, com o qual se tenta conduzir à aprendizagem. É um procedimento à altura da abrangência do processo
formativo educacional, pois impulsiona o psicopedagogo a se lançar nos âmbitos
onde esse processo possa se originar e desenvolver seja na vida familiar, na
convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa (predominantemente),
nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações
culturais (LDB).
Destacamos
a educação escolar porque é um espaço criado exclusivamente como meio formal do
ensino-aprendizagem, ou seja, é a sua instituição própria, mas não a única.
Aliás, quanto mais intencional e planejado for o processo de ensino-aprendizagem,
para o nosso propósito ainda é melhor. Vale ressaltar, também, que o
funcionamento do sujeito é o resultado da dinâmica de interação entre o
cognitivo e o afetivo, mais os impactos provocados dentro do meio específico em
que ele convive com outras pessoas. Esse jogo está no espaço escolar e fora dele.
Baseado em Jorge Visca o procedimento diagnóstico transcorre da
seguinte forma: primeiro as ações do
entrevistador, aplicação da EOCA
(Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem) e dos testes, anamnese e, por
fim, a elaboração do informe. De modo
que, o ponto de partida é uma consulta inicial (dos
pais, responsáveis ou do próprio paciente). Daí nasce uma entrevista contratual com o intuito de
coletar informações e finda na devolução. O cuidado de uma correta aplicação, evolução
e extração das conclusões úteis são fundamentais para se entender a
aprendizagem.
Agora, por que diagnosticar? Para
o terapeuta, o propósito é identificar os desvios
e os obstáculos básicos no Modelo de
Aprendizagem do sujeito que o impedem de crescer na aprendizagem dentro do
esperado pelo meio social. E o que fazer com o achado? Corrigir ele próprio, se
puder fazê-lo, ou encaminhar para o profissional especializado que o consiga.
O processo educacional acontece na relação do sujeito ativo com o meio que o envolve. Ou seja, esse
processo é desencadeado pela AÇÃO
(física, cognitiva e afetiva), provocada por um estímulo ou necessidade,
que rompe com o equilíbrio ou adaptação existente entre o organismo e seu meio, ao mesmo tempo em que busca reestabelecer tal equilíbrio (REFLEXÃO), entretanto, devolvendo o sujeito transformado, acrescido
e readaptado à sua realidade (com mais condições de inová-la, mantê-la ou
transformá-la), pronto para novas ações (Piaget).
É a essa ação que deve interessar educadores
e sobre ela os psicopedagogos. Cabe
aos educadores estimular e motivar ações que abram caminhos para o
conhecimento, e cabe aos psicopedagogos o esforço de manter e impulsionar
saudavelmente os educandos nesses caminhos, diagnosticando, corrigindo e
prevenindo possíveis desvios.
Acredito no poder de superação do
sujeito. Podemos ir além dos nossos obstáculos e desvios cognitivos e afetivos
próprios. Porém, uma coisa que incomoda bastante dentro dessa área é o fato de que
podemos descobrir que nossos obstáculos e desvios, inclusive os causadores ou
limitadores do modelo de aprendizado, esteja ou seja a própria realidade do
sujeito ou aspectos dela. Realidade social, econômica. Nesse instante, cabe
invocar a dimensão política da psicopedagogia. Ela tem uma?
O mal da educação acaba sendo o bem
da psicopedagogia. Caso o processo de aprendizagem
acontecesse bem na educação básica, não haveria sentido ou razão de existir do
fazer psicopedagógico do ponto de vista remediativo. Nunca foi tão importante investir seriamente em educação e qualidade de vida,
econômica e politicamente, mesmo que, em nome disso, cometêssemos um "suicídio psicopedagógico".
Um forte abraço!
Neilton Lima.
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