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“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

terça-feira, 20 de março de 2012

A Felicidade...


Por Neilton Lima
Professor, pedagogo e especialista em psicopedagogia.

O presente texto pretende acompanhar o raciocínio do filósofo Aristóteles, a partir do Livro I de sua obra “Ética a Nicômaco”. É um trabalho de síntese conclusiva, ilustrado com vídeos complementares.

Em linhas gerais, todas as ações e escolhas humanas possuem finalidades. Entre os fins um é o Bem maior, ou seja, é desejado e bom por si mesmo como causa da bondade de todas as coisas. Auto-suficiente. Esse bem absoluto e incondicional é a felicidade. Ela existe como o propósito de tudo e pode ser conquistada.

A felicidade é objeto da ciência política, pois esta é quem subordina as demais ciências, determina o que se deve fazer e abster-se na coletividade e, assim, direciona os rumos de uma cidade. Desse modo, o maior objetivo da política é atingir e preservar a bondade e a felicidade dos cidadãos, “já que o homem é um animal político”. Por isso ela deve cultivar as ações mais belas, nobres e justas possíveis, acabando por ser o seu objetivo a honra ou o reconhecimento de seu valor.

FELICIDADE (ÓLEO SOBRE TELA) 80 X 80 — Rio de Janeiro, do artista Adilson Dias.

As discussões políticas giram em torno dos fatos da vida, onde mora a felicidade. Exige-se que seus interlocutores sejam experientes e predispostos a agir de acordo com a razão. Pois o bem viver e o bem agir equivalem a ser feliz.

O que é a felicidade e com o que ela se identifica? Seria preciso que a resposta viesse de “alguém” que realmente foi feliz e a identificou com a coisa certa. Também dependeria da condição e das circunstâncias desse “alguém”, pois uma pessoa doente diria ser a saúde ou uma pessoa pobre, a riqueza. As pessoas simples acreditam que ela se identifica com algo óbvio, tal como o prazer ou as honras etc. Porém, assim como podem ser dadas, todas essas coisas também podem ser tiradas. A felicidade não poderia ser identificada com nenhuma delas porque como sumo bem é algo próprio de uma pessoa e dificilmente lhe poderia ser tirado, como a sabedoria. E mesmo o homem que deseja ser sábio é porque antes quer ser feliz.

Ora, parece que a felicidade, acima de qualquer outra coisa, é considerada como esse sumo bem. Ela é buscada sempre por si mesma e nunca no interesse de uma outra coisa; enquanto a honra, o prazer, a razão, e todas as demais virtudes, ainda que as escolhamos por si mesmas (visto que as escolheríamos mesmo que nada delas resultasse), fazemos isso no interesse da felicidade, pensando que por meio dela seremos felizes. Mas a felicidade ninguém a escolhe tendo em vista alguma outra virtude, nem, de uma forma geral, qualquer coisa além dela própria (ARISTÓTELES, p.26).

Existem três tipos principais de vida: a política, a contemplativa e a que é fundamentada no prazer. A vida que visa tão somente o prazer é comparável à dos animais; a vida política almeja honras e reconhecimento. Poderia ainda apontar a vida dedicada a ganhar dinheiro, o que seria uma vida forçada, visando uma coisa útil, desejada no interesse de outra coisa, nada mais (é um bem em função de outro, algo útil e subordinado).

Filósofo Paulo Ghiraldelli Jr fala sobre "paixões humanas". Este vídeo é o da Felicidade.

A felicidade está associada com a vida contemplativa. [E parece ser possível aproveitar todas as outras formas de vida através desta]. Pois a função ou peculiaridade do homem que o torna tal é a capacidade que tem de pensar ou o seu elemento racional ativo (descartados aqui os animais, as crianças e os jovens movidos apenas por prazeres e paixões). É a parte racional da alma, visto que ela é constituída por um lado privado de razão. Portanto, um fragmento de vida não é suficiente para tal, mas uma vida inteira para fazer uma pessoa feliz e venturosa, ou não. A felicidade implica virtude completa e uma vida completa, cuja metade não seja igual ou superior de dores, sofrimentos e todo tipo de miséria.


Mônica Waldvogel entrevistou JORGE FORBES, psicanalista e VIVIANE MOSÉ, filósofa, no programa DOIS A UM, do SBT. Veja a entrevista em 03 partes.  


Aristóteles reconhecia que a psique humana é constituída de ego, id e superego. E que o id (pulsões, instintos, impulsos orgânicos e desejos inconscientes visando o prazer) era o elemento contrário ao princípio racional, ou seja, a luta contra a racionalidade e lhe oferecendo resistência. E essa luta incessante é complexa porque é invisível [“Mas ao passo que, no corpo, vemos aquilo que se desvia da direção certa, no caso da alma não o podemos ver”]. Como a felicidade foi definida como atividade da alma conforme a virtude perfeita, no homem continente esse elemento irracional deve obedecer ao princípio racional, sendo ainda mais obediente nas pessoas temperantes e valorosas. Acreditando que o elemento irracional pode ser persuadido pela razão, está a indicar o fato de aconselharmos alguém, e de exortarmos e censurarmos de um modo geral.

A felicidade torna a vida desejável por não ser carente de nada. O homem feliz vive bem e age bem, visto que definimos a felicidade como uma espécie de boa vida e boa ação. Assim, há uma estreita relação entre felicidade e virtude, e aqui temos a expressão maior da Ética, pois “é graças a ela que os homens tendem a praticar ações nobres”. 

Os bens são classificados em exteriores e os relativos à alma. A felicidade está ligada à alma, entretanto necessita igualmente dos bens exteriores, pois é impossível, ou pelo menos não é fácil, praticar ações nobres sem os devidos meios. Assim, o homem feliz não deixa de ser dependente de alguns atributos, tais como: descendência, beleza, origem, certa fortuna e até os amigos e o poder político quando usados como instrumentos para realizar certas ações.

A felicidade é construída. Diante da dúvida se ela é adquirida pelo hábito ou se é dada por alguma providência divina ou ainda pelo acaso, parece sensato crer que seja uma conquista da capacidade para a virtude com estudo, exercício, esforço e aprendizagem. Pois o que constitui a felicidade são as atividades virtuosas, e as atividades viciosas conduzem à situação oposta. Por isso pessoas que dedicaram suas vidas ao bem são lembradas pelas gerações posteriores.

Uma grande e frequente quantidade de sucessos tornarão nossa vida mais feliz, pois aumenta a sua beleza. Ao contrário, muitos e constantes revezes poderão aniquilar e mutilar a felicidade. De modo que, a vida feliz não é uma vida privada de obstáculos, mas inteligente para agir e superá-los. Pois se lembre, as atividades é que dão caráter à vida. E o homem verdadeiramente feliz não se tornará desgraçado, pois ele jamais praticará atos odiosos. “Pensamos que o homem verdadeiramente bom e sábio suporta com dignidade todas as contingências da vida e sempre tira o maior proveito das circunstâncias (...)”.

A felicidade é algo louvável, divino e perfeito. Ela é um primeiro princípio e causa dos bens, pois fazemos todas as coisas tendo-a em vista. É uma atividade da alma conforme a virtude perfeita. Esta é o foco do homem verdadeiramente político, pois o seu desejo acima de todas as coisas é tornar os cidadãos homens bons e obedientes às leis. 

Um forte abraço!
Neilton Lima.


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