Quem sou eu

Minha foto
São Francisco do Conde, Bahia, Brazil
Professor, (psico)pedagogo, coordenador pedagógico escolar e Especialista em Educação.
Obrigado pela visita!
Deixe seus comentários, e volte sempre!

"Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber" (Art. 205 da Constituição de 1988).

Ø Se eu sou um especialista, então minha especialidade é saber como não ser um especialista ou em saber como acho que especialistas devem ser utilizados. :)



“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

Arquivos do blog

domingo, 21 de dezembro de 2025

Por que me dediquei à Filosofia? (M.C.)

 

“Estava encantada demais com a descoberta para renunciar a ela”.

(Marilena Chauí, “Em defesa da educação pública, gratuita e democrática”).


Em um de seus escritos, Marilena Chauí explica porque se dedicou à filosofia.

Segundo a autora, “ela me chamava desde o final de minha infância”. E daí cita 05 recordações muito vívidas:

1) abriu um livro sobre filosofia da educação (“Sócrates” e “maiêutica”);

2) abriu um livro sobre introdução à psicanálise (“inconsciente” e “complexo de Édipo”);

3) o primeiro romance “Quo Vadis” (existência ou não da alma nas mulheres);

4) o livro: “Socialismo utópico e socialismo científico”. E o que descobriu? Descobriu que... “[...] a luta pela justiça, pela igualdade e pela liberdade não era uma luta moral, nascida do espírito da caridade, mas uma ação política consciente determinada pela própria história. Era possível uma sociedade nova, justa e igualitária não simplesmente por causa de nossa indignação diante da injustiça e da desigualdade, mas porque era possível compreender suas causas e destruí-las” (p. 25).

5) Aulas de João Villalobos (curso de lógica: expôs o conflito entre Parmênides x Heráclito; a diferença entre a argumentação de Zenão x Górgias). E descobriu Espinosa e Maurice Merleau-Ponty. “[...] não podia tolerar a cultura da culpa em que fomos criados e sentia que era preciso encontrar uma outra ética em que a liberdade e a felicidade pudessem identificar-se – essa procura iria conduzir-me a Espinosa” (pp. 25-26).  

Pensar é a virtude própria da alma, sua excelência (Espinosa).

Para ser inteiramente homem, é preciso ser um pouco e pouco menos homem (Merleau-Ponty).

A experiência de Marilena Chauí perpassa pelo contato com livros. Essa experiência, amadurecida hoje, traz sua concepção forjada de docência e de luta pela universidade.

1.     Uma ideia de docência que cativa Marilena Chauí: “[...] o ensino é formador quando não é transmissão de um saber do qual nós seríamos senhores, nem é uma relação entre aquele que sabe e aquele que não sabe, mas uma relação assimétrica entre aquele cuja tarefa é manter vazio o lugar do saber e aquele cujo desejo é o de buscar esse lugar. [...] há ensino filosófico quando o professor não se interpõe entre o estudante e o saber e quando o estudante se torna capaz de uma busca tal que, ao seu término, ele também queira que o lugar do saber permaneça vazio. Há ensino filosófico quando o estudante também se torna professor, porque o professor não é senão o signo de uma busca infinita, aberta a todos. [...] é o sentido da liberdade que preside ensinar e aprender” (pp. 28-29).

2.     Luta contra a destruição da universidade pública e laica, feita pelo Estado brasileiro, sob os efeitos da sociedade administrada: 1) imposição da universidade funcional: feita para a classe média para rápida ascensão social por meio dos diplomas universitários (“[...] Foi a universidade da massificação e do adestramento rápido de quadros para o mercado das empresas privadas instaladas com o “milagre econômico [...]” (p. 28)). 2) implantação da universidade operacional: sob os efeitos do neoliberalismo, fez desaparecer a universidade como instituição social destinada à formação e à pesquisa, surgindo em seu lugar uma organização social duplamente privatizada: “[...] de um lado, porque a serviço das empresas privadas e guiada pela lógica do mercado; de outro, porque seu modelo é a empresa privada, levando-a a uma existência puramente endógena, voltada para si mesma como aparelho burocrático de gestão, fragmentada internamente e fragmentando a docência e a pesquisa. Essa universidade introduziu a ideia fantasmagórica de “produtividade acadêmica”, avaliada segundo critérios quantitativos e de acordo com as necessidades do mercado. Essa imagem da produção universitária tem sido uma das causas de sua degradação interna e de sua desmobilização externa, pois é uma universidade que despreza o pensamento e o ensino(p. 28).

Enfim, não foi Marilena Chauí quem encontrou a Filosofia, mas a Filosofia que a encontrou. Um encontro que se tornou recíproco e duradouro na trajetória de estudante engajada que foi e professora/intelectual/pensadora que é. Lindo!

Nenhum comentário:

Postar um comentário