Criança teimosa, crédula e seduzida pelo prazer.
A verdadeira natureza sombria de uma das histórias infantis mais violentamente suavizadas.
“A história original de Pinóquio não é sobre diversão ou magia. É sobre desobediência e punição, culpa e redenção. A madeira viva representa o instinto bruto, egoísta e infantil. A humanidade é um prêmio concedido não por bondade inata, mas por sofrimento, disciplina e sacrifício. Pinóquio é um conto sombrio, brutal e moralista, que fala mais aos adultos do que às crianças. Um reflexo de uma Itália ferida, de uma sociedade que acreditava que só a dor educava. E mesmo hoje, mais de um século depois, ele continua a nos lembrar que nem toda transformação é bela – e que a inocência perdida às vezes precisa morrer para que nasça o caráter”.
- foi um símbolo de rebeldia,
castigo e transformação moral através da dor;
- nasceu com o propósito de
educar através do choque – e não do encanto;
- foi publicando originalmente
em 1881, e a Itália recém-unificada enfrentava pobreza, analfabetismo e
desigualdade.
- Carlo Collodi, conhecedor
das falhas sociais e morais da época, transformou Pinóquio num espelho torto da
infância abandonada e da pedagogia punitiva.
- Um pedaço de madeira grita
quando um velho marceneiro (Mestre Cereja) tenta talhá-lo. Ele é entregue a um
homem pobre e mal-humorado (Geppetto), que deseja construir uma marionete para
ganhar dinheiro como artista ambulante. Ao esculpi-lo, ele toma vida (Pinóquio)
e debocha do seu criador (que é preso pela polícia). Sozinho em casa, Pinóquio
encontra o Grilo Falante (“Meninos desobedientes e ingratos terão fim trágico”).
Mata o grilo com uma martelada (a cena representa o assassinato simbólico da
consciência moral – e início da jornada caótica). Sozinho, faminto, queima os
pés ao se aproximar do fogo. Geppetto retorna da prisão, encontra o filho
descalço e arrependido. O perdoa. E compra um abecedário. Mas o boneco troca a
escola por um teatro de marionetes. E é capturado pelo diretor Mangiafuoco, que
ameaça queimá-lo. O boneco o comove com sua história e ganha 5 moedas de ouro.
Surgem aí 02 dos personagens mais traiçoeiros da literatura infantil: 1) a
Raposa manca: estelionato 2) o Gato
cego: exploração da inocência. Eles
convencem Pinóquio de que há um “Campo dos Milagres”, onde se ele enterrar suas
moedas, crescerá uma árvore de dinheiro. Pinóquio cai no golpe, tenta resistir
ao roubo e acaba sendo enforcado numa árvore. Ele termina balançando, com a
língua para fora, à beira da morte – um final trágico.
- O público pressiona Collodi
a continuar a narrativa. Bem: Pinóquio é salvo por uma misteriosa “Fada de
Cabelos Azuis”. Mas, mente para ela e seu nariz cresce grotescamente. A Fada
pune, desaparece, testa, “morre”, volta, mente, repreende – é o símbolo da
moral punitiva e mutável. E promete: se
Pinóquio for bom, tornar-se-á um menino de verdade. Mas a promessa é
condicionada a obediência total. O boneco tenta mudar, mas se junta a um
amigo (Lucignolo) e vai para o “País dos Brinquedos”, onde as crianças vivem
sem regras. O preço? Se transformar em burros – literais (metáfora do
embrutecimento moral). Pinóquio/burro é vendido para um circo, espancado e
forçado a fazer truques. É jogado ao mar, a carne do burro é devorada e
sobrevive a forma de marionete. Pinóquio finalmente muda
(trabalha, ajuda os outros, estuda). Somente então, ao demonstrar compaixão
real e esforço honesto, ele acorda humano. Sua forma de madeira é
jogada no canto (inerte, vazia). O boneco morreu e o menino nasceu.
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