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Ø Se eu sou um especialista, então minha especialidade é saber como não ser um especialista ou em saber como acho que especialistas devem ser utilizados. :)



“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

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quinta-feira, 14 de novembro de 2024

O entretenimento como religião.

 

A religiosidade está na forma, não no conteúdo. Por trás do aparente “multiculturalismo”, imperam as leis ocultas do espetáculo, que a tudo igualam, padronizam e uniformizam. Assim, quem rege os seres humanos não é a religião, mas seu entretenimento – fundamentalista, com a força de um monoteísmo sem deus.

A religião do entretenimento fez do público uma plateia fanática, para a qual a democracia é só mais uma atração. Não adianta pedir que a plateia pense sobre o que faz. Na doutrina que ela abraçou com devoção, o pensamento é o maior dos pecados mortais. Talvez seja o único.

O atual jogo da direita é uniformizar as religiões pela força que as uniformiza – o entretenimento, que enquadra santos e orixás, Jesus e Jeová, mercadorias banais, atrizes sorridentes, cantoras estridentes, jogadores de futebol... O entretenimento impera. Portanto, é uma ilusão achar que estamos em meio ao politeísmo pluralista de credos distintos que convivem entre si num ambiente ecumênico ou que os megaeventos na cidade comprovam a diversidade. Não, não estamos!

Esse entretenimento que tem a capacidade de capturar as religiões, também tem a capacidade de projetar politicamente sua força em líderes perigosos. O cardápio dos sentimentos e o contorno dos afetos foram consolidados pela indústria da diversão. Ela definiu o sentido do amor, da justiça, da beleza, da comiseração e do ódio.

Seja na “Parada Gay” ou na “Marcha para Jesus”, o que há em idêntico ou equivalente nas formas de ambas são almas fervorosas e corpos ferventes, o combustível que move as turbinas do entretenimento. E, neste espetáculo, sacrificam a própria energia que o gera. É catártico! Na avenida, gera e gasta, ali mesmo em sua forma, a energia. É a pilha que sustenta o entretenimento, que é o altar dos altares: a forma social de qualquer religião, seja como vínculo identitário ou laço comunitário, só se realiza se passar pela mediação da malha comunicacional orientada para o mercado e apenas para o mercado. É como empresa privada que uma igreja se faz ativar pelos meios de comunicação.

Esse entretenimento opera poderoso porque ele é essencialmente simbólico e implícito, falando ao nosso inconsciente: sujeição à imagem, hábitos reguladores, ritos rígidos, códigos profanos e dogmáticos.

Por graça ou interesse, as igrejas se valem dos meios de comunicação para ganhar fiéis. Começaram pelas ondas de rádio e evoluíram para os televangelizadores que cresceram e se multiplicaram em escalas miraculosas. Um cristianismo de raízes protestantes e feições evangélicas se apossou de um filão inteiro das redes: linguajar plangente, cenografia ambientada em templos vastos, figurino em traje passeio completo, coreografia expressionista. Por aqui, quando baixa o horário nobre, pregadores oram e peroram em quase todos os canais abertos. Todas as religiões, ou virtualmente todas, requisitam os préstimos e os auxílios das tecnologias midiáticas em prol da fé. O divino é um campeão de audiência. O demônio também – depende do ponto de vista do freguês. No instante em que invocaram as energias gentis do entretenimento para arrebatar assembleias maiores, as igrejas selaram um pacto, se não com o satanás em pessoa, com entidades que desconheciam e que podiam devorá-las por dentro. Não foi o espetáculo televisivo que atendeu com diligência às demandas das múltiplas profissões de fé – estas é que serviram, sem se dar conta, aos desígnios do espetáculo. Quem tomou vulto ao longo das décadas não foi a caridade, não foi o amor ao próximo, não foi o recolhimento pio, não foi a fraternidade, não foi o retiro espiritual, não foi o voto de pobreza – foi, isto sim, o transe do showbiz, foi o êxtase das receitas publicitárias, foi a indústria do sagrado lucrativo, foi o mercado do pastoreio próspero e galante.

Enfim, não importa o tema da programação, importa somente a forma da diversão catártica. Sua dispersão é menos perigosa que sua canalização, com a que agora foi depositada sobre o ministro Alexandre de Moraes.

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