"A dinâmica da política municipal é diferente porque envolve uma lógica econômica, de acesso às oportunidades. Ganhar a prefeitura se estabelece com uma centralidade gigantesca do que a pessoa vai ser nos próximos quatro anos." Lógicas que prevalecem na gestão pública, gerando descontinuidade de serviços, apadrinhamentos como regra, favorecimentos de toda a ordem e ineficiência. Consequências? É só olhar, dentre outros, os índices de educação, saúde, criminalidade... Triste Bahia!
"O que está em jogo não é racional, de quem é o melhor. A pessoa não quer saber quem é o melhor para administrar, ela quer saber o time que ela torce. A paixão está acima da razão para uma parte da população".
Vix... Dos 417 municípios do nosso estado baiano, 214 têm só dois candidatos a prefeito nesta eleição. Têm festa nas ruas, famílias divididas e ultrapolarização...
Cidades se dividem em rivalidades históricas, com torcidas nas ruas, apostas e provocações.
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Motocicletas envenenadas aceleram e fazem o motor roncar, emulando
o som de fogos de artifício com o escapamento. Os da garupa empunham as
bandeiras dos candidatos.
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Mais adiante, mãe e filha operam uma mesa de som improvisada na
carroceria de uma camionete e fazem tocar um paredão de caixas de som. O
equipamento instalado em um reboque toca jingles em sequência e em volume
máximo.
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Ruas do centro estão apinhadas. Rente aos paredões, pulam, dançam e
balançam as bandeiras.
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Vive-se uma eleição marcada pela ultrapolarização, representada por
uma rivalidade histórica entre grupos políticos locais.
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As cidades se dividem em rivalidades dignas de futebol e vivem a
eleição como uma espécie de campeonato, com torcidas nas ruas, provocações...
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Em geral, são campanhas enraizadas em laços familiares e refletem
uma cultura política que ainda traz resquícios do coronelismo;
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Um grupo tinha um bigode preto e ganhou a alcunha de Boca Preta. Seu adversário, mais velho,
ostentava um bigode grisalho e virou o Boca
Branca. Os grupos eram ancorados em famílias tradicionais.
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A política como paixão. "É como futebol. Tem gente que até
briga mesmo, fecha a cara. Tem família que fica sem se falar, tem gente que
aposta casa, aposta carro para ver se ganha. O povo é fanático."
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Com uma dinâmica de ultrapolarização, costuma protagonizar disputas
apertadas.
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Mesmo eleitores que aprovam seu governo votam na oposição, por
serem fiéis ao grupo político predileto. Este cenário de rivalidades históricas
se replica em outras cidades baianas.
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Em Conceição do Coité, a disputa eleitoral opõe tradicionalmente os
Vermelhos e os Azuis, grupos cuja cor referência em nada tem a ver com batalhas
ideológicas. Nas últimas eleições, como em um paradoxo, os Azuis foram
representados pelo candidato do PT, que aboliu o vermelho da campanha.
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A polarização se repete também em outros estados, mas os grupos
tradicionais têm perdido força entre os eleitores mais jovens, que cresceram
ancorados nas redes sociais e têm referências políticas que vão além da
realidade local. "É como se
houvesse uma extrapolação da esfera pública. O eleitor está em uma esfera mais
ampliada, para além do que acontece no município. Isso mexe no jogo".
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