O riso nervoso.
"Não tenho mais nada a perder. Nada pode me ferir. Minha vida não passa de uma comédia".
"Uma piada por dia mantém a tristeza distante".
"Já dançou com o demônio sob a luz do luar?".
"Morcegão... Você não sabe levar as coisas na brincadeira!".
"Por que tão sério?".
"Nada fica dessa interpretação desastrosa".
"Você tem medo que ele faça você parecer fraco?".
Era para ser só mais um vilão, mas se tornou o arqui-inimigo do Homem. Coringa simboliza a vida absurda e risível de uma pessoa em decadência, mas ainda pessoa. Seja por uma série de erros pessoais somados com os erros da sociedade, misturam-se: drama, comédia e tragédia numa pessoa só.
Parece um bufão circense se não fosse um serial killer, mas no fundo é uma vítima do sistema. Uma origem trágica: comediante fracassado, perde a esposa grávida e sofre um acidente químico – nasce o Coringa.
É como misturar a antítese com o paradoxo e temperar com hipérbole e ironia. O produto não é nada racional e ordenado, mas imprevisível e caótico. Uma figura mitológica contemporânea, que desafia a ordem estabelecida através de suas várias interações. É um antagonista que nos obriga a questionar nossas normas e valores.
Coringou, quando... tira-se sarro da sisudez do Homem; quando fanfarrão com afinidade por pegadinhas e armas (ino)fensivas; um maníaco homicida disfarçado de palhaço, um vilão que se esbalda com planos maléficos (respeitando ou não a censura livre de nunca terminar em morte ou ferimentos graves); um terrorista que só deseja ver o circo pegar fogo (tira do sério, atitudes anarquistas, afirmações niilistas); disruptivo, de cabelo desgrenhado, rosto mal pintado e boca rasgada por cicatrizes, com um significado para cada interlocutor; um personagem que atormenta a todos; tóxico... Todo Coringa tem um pouco de punk e anarquista.
Enfim, por um lado, várias faces do absurdo. De outro ângulo, um ser existencialista que, em tempos turbulentos, busca identidade e reconhecimento num mundo que o rejeita. Uma alegoria da política contemporânea, feita de coach, influencer e muito transtorno da personalidade histriônica - TDH. Um figurino realista de palhaço humilde, que apela a todos os espectros políticos - um indivíduo alienado e oprimido pelo status quo.
Como está a mente do palhaço?
·
“Folie à Deus” = Delírio a dois. Um comediante frustrado, medíocre, que
luta contra transtornos psiquiátricos, e que sofre com a brutalidade do mundo à
sua volta. Enfim, a questão da identidade (o que acontece quando um papel que
você não consegue corresponder é imposto).
·
Crítica
aos manicômios: a postura, os diversos abusos no processo jurídico, o
tratamento violento e opressivo onde ficam internados os presos com problemas
psiquiátricos. A exposição dessas instituições violentas contra pessoas com
transtornos mentais lembra muito o movimento brasileiro da luta antimanicomial
(modelo de hospital que mais parece prisão para tratar uma ideia de “loucura” –
instituição total que confina a vida toda de uma pessoa). As práticas violentas
nesses hospitais mais parecem campos de concentração e prisões.
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Parceria
no amor e no crime.
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Canta
e dança em sequências musicais, especialmente nos sonhos do protagonista.
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O
homem por trás da maquiagem: o que passa na cabeça dele?
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O
filme é um suspense psiquiátrico.
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Duas-Caras:
advogado dedicado a ajudar a condenar.
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Lutar
pelos direitos das pessoas com transtornos mentais, pelo tratamento adequado e
pela extinção dos manicômios.
· Humanistas começaram a causar a desinstitucionalização de muitos hospitais psiquiátricos. Alguns deles deram lugar a serviços comunitários de auxílio e serviço, sem isolar completamente a pessoa com transtorno psiquiátrico do convívio social.
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