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Ø Se eu sou um especialista, então minha especialidade é saber como não ser um especialista ou em saber como acho que especialistas devem ser utilizados. :)



“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

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quinta-feira, 26 de setembro de 2024

A crítica está em crise.

Quem critica é um justiceiro independente.

Ela se definha desde os primeiros anos da década de 2000.

A crítica, em sua essência, tem função quando resiste às 4 tentações que podem levar um crítico ao inferno.

1.     Não ter a preocupação em agradar ao artista criticado;

2.     Não ter a preocupação em agradar aos fãs do artista criticado;

3.     Não ter a preocupação em agradar ao assessor de imprensa do artista criticado;

4.     Não ter a preocupação em desagradar a todo mundo para provar que quem critica é um justiceiro independente.

Ou seja, a empreitada é colossal. Criar projetos para o exercício da crítica sistemática, seja em qual área ou campo for, é mais do que comprar uma briga contra um sistema inteiro. É uma guerra contra um pensamento baixado no cérebro de pessoas, seus fãs, assessores, imprensa, enfim, uma longa tradição social, que tem demonstrado nenhuma disposição para negociar suas crenças. Pelo contrário, o desejo e a tendência é reforçá-las.

O fortalecimento das redes sociais no início dos 2000 deixou o crítico em crise. Ao se sentir alvo de uma crítica negativa, o criticado passa a jogar suas tropas contra o crítico e o efeito psicológico desse movimento é devastador. Pronto, em sociedades totalitárias, autoritárias, hierárquicas e violentas como a nossa, “muitas brigas estarão compradas”. É preciso ter muita força para não desistir. Seu nome é jogado aos leões, muitas fogueiras são acesas para você, a resposta atrai embates, o cancelamento é tentador.

Há a crítica oportunista que é aquela em que você fala mal de algo ou alguém apenas para que a reação do público lhe dê a glória da visibilidade. Que tal a crítica agressiva, essa com requinte de provocação e reação violenta, em que as regras são violadas e os ânimos aflorados para ganhar atenção? São exemplos de críticas que excedem a liberdade de expressão e que cabe a reflexão de saber se são críticas mesmo ou objetos a serem criticados – a crítica da crítica. Afinal, debate é presente a quem merece.

Sobre esse oportunismo, o outro lado da pretensa crítica livre usada para falar mal de algo com o intuito de dar audiência, ganhou força por volta de 2020. Com a mudança do algoritmo, os comentários raivosos pulverizaram as críticas para muito além das bolhas dos assinantes de jornal, e parece que gostamos disso (assustador pensar aqui que esse negócio sai do mesmo material genético que deu vida a Pablo Marçal, o candidato expulso). Agora, ouvíamos xingamentos aos nossos textos com um sorriso de satisfação.

A vida do crítico piorou com a entrada da geração de fãs que cresceu na década de 2010 sem ler críticas que não fossem bajulatórias. Toda e qualquer ideia que não elevar seu ídolo é agressivamente repudiada. Qual é o crítica que vai aguentar ser assim numa rede social? Os ataques cibernéticos são violentos e imediatos. A não ser que se publique para atender anseios, mas aí deixa de ser crítico.

Enfim, hoje em dia não se criam artistas, mas ídolos. Não se faz debate, mas bagunça entre uma coisa e outra. Não existe confiança e confidência de afetos, mas a manipulação constante das emoções alheias o tempo todo. É preciso tomar muito cuidado com essa tentação sombria de querer falar mal de algo ou alguém apenas para que a reação de seus seguidores conceda a glória da visibilidade. Se a única forma de produzir uma crítica for passar pelo crivo da audiência, será preciso reencontrar o rumo.

Audiência? Estamos perdidos. É preciso fazer uma autocrítica do pensamento crítico.

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