Sabe por que apesar dos cortes gerais e da forte recessão, a popularidade do presidente argentino de ultradireita surpreende entre 47% e 51% de aprovação? Porque há a crença de que o país vai melhorar – isso explica tamanha tolerância. Isso também vale para Donald Trump (nos EUA) e o inelegível ainda não preso aqui no Brasil.
Ora, o que você acha que faz o povo tolerar fome, dor e tanto sofrimento? A crença de que as coisas um dia irão melhorar na vida eterna, no paraíso. A instrumentalização da fé na política tem essa pretensão e poder de captar a tolerância à desigualdade e manter o status quo da elite.
Nessa tese há outro ingrediente com poder de fermento. É a diligente mobilização digital, empresarial e logística – os flashmobs. As aglomerações ainda provocadas pelo inelegível em terminais aeroportuários e eventos que convoca têm um componente orgânico e grandes doses de arregimentação minuciosamente cuidada. Por trás disso, a pretensão de continuar driblando os inquéritos e/pela comoção popular visando a reabilitação eleitoral do inelegível.
As Eleições Municipais servem de vitrine para a Eleição Presidencial. A direita está cuidando para construir o seu maior padrinho eleitoral, isto é, quem tem mais poder de reunir mais apoiadores. Esse é foco canalizado pelo show luxuoso de Madona no Rio de Janeiro e desastre ambiental/social causado pelas chuvas no Rio Grande do Sul. Afinal, há coisa mais impactante do que estocar sofrimento em uma ponta e liberar emoções na outra?
De volta ao centro da governabilidade a questão da comunicação. A assessoria de Lula precisa produzir marketing político eficiente, jogando com forças psicanalíticas e o poder dos símbolos. A conexão com o eleitorado precisa ser tomada do Big Brother Brasil, da Copa Feminina de Futebol, da cobertura das catástrofes no Rio Grande do Sul e do show de uma encapuzada bruaca patrocinada pelo Itaú (sim, Madona). Comunicar politicamente é se conectar com o eleitorado e mostrar as realizações e os projetos de sua administração. É lapidar características que aumentam a aceitação de si no grupo e trabalhar pela própria campanha enquanto constrói a campanha dos companheiros, evitando prejuízos financeiros e desgaste de imagem.
Enfim, tanto em Bolsonaro quanto em Lula há uma percepção de que as coisas irão melhorar. A diferença é que em Lula elas realmente melhoram. Em Bolsonaro, não. O materialismo de Lula é uma coisa; o idealismo de Bolsonaro é outra. Ali você tem o poder; aqui, o poder que te tem.
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