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Ø Se eu sou um especialista, então minha especialidade é saber como não ser um especialista ou em saber como acho que especialistas devem ser utilizados. :)



“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

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segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Símbolo ou Indivíduo?

 

“Sonho com o dia em que as pessoas não sejam julgadas pela cor de sua pele, mas pelo conteúdo de seu caráter” (Martin Luther King).

Presidentes da Universidade de Harvard (Claudine Gay, negra, 6 meses) e da Universidade da Pensilvânia (Liz Magill, loura, 4 dias) caem em curto prazo por não resistirem ao escândalo provocado pelas respostas ambíguas de suas instituições a manifestações estudantis que aclamaram por violência e extermínio contra os judeus. O ato decisivo foi o testemunho vacilante, incongruente e contraditório que elas prestaram diante de uma comissão parlamentar.

A negra de Harvard ainda acumulou evidência de plágio em suas publicações acadêmicas (o diagnóstico do jornal estudantil da instituição afirma que ela tornou-se presidente graças à cor da pele, seu símbolo). O pior é que o jornal teria feito um elogio e não uma crítica à escolha da alta direção universitária, que representaria um desafio à sentença da Suprema Corte de proibição de políticas de preferência racial.

Os programas de “ação afirmativa” racial nas universidades dos EUA começaram por preferências de acesso à graduação, sob o argumento de compensar desigualdades escolares prévias. Era só pretexto. Logo, em nome da “diversidade”, as preferências estenderam-se à contratação de docentes, à composição das direções de departamentos, à seleção de palestrantes e à publicação de artigos em coleções acadêmicas. As universidades públicas brasileiras seguem pelo mesmo caminho, distinguindo professores academicamente superqualificados segundo critérios raciais.

Tradicionalmente, nas universidades de elite dos EUA, um currículo acadêmico notável era condição para uma indicação à presidência. Gay nunca escreveu um livro e, em 26 anos, publicou escassos 11 artigos, nenhum dos quais figura como obra de referência na sua área de ciência política. Não surpreende, portanto, o curioso consenso que aproxima seus detratores de seus admiradores: uns e outros a tratam como símbolo, não como indivíduo.

A presidente de Harvard não era uma acadêmica – uma professora e pesquisadora consagrada ao trabalho criativo. Era, exclusivamente, uma representação social: a pintura no muro de um “corpo negro”.

Não basta ter cor, é preciso também ter conteúdo e competência quando se assume altos cargos da vida pública e privada, senão você aceita e afirma atrocidades, inclusive contra si próprio e sua instituição. E isso não é questão racial, mas de mérito. Vida escolar ou acadêmica não se confundem com simples espetáculos de representações. O livre debate de ideias não pode ceder lugar a dogmas e tabus. Um preconceito bem vestido não acabará com o racismo ou qualquer outra forma de discriminação. A embalagem não é mais importante que o conteúdo nessa questão que exige conhecimento e muita responsabilidade.

Magill e Gay caíram quando as tensões deflagradas pela guerra em Gaza rasgaram o véu da fantasia. Seus depoimentos à comissão parlamentar iluminaram a duplicidade e a hipocrisia de universidades reduzidas à condição de seitas ideológicas. Nessas horas, liberdade de expressão não será suficiente para justificar as sistemáticas violações desse princípio cometidas por representantes de suas instituições. Afinal, como universidades capazes de punir a contestação sociológica da noção de “racismo estrutural” admitem conclamações à eliminação do Estado judeu?

A presidente negra não caiu por ser negra. Caiu, em primeiro lugar, por seus erros pessoais e, em segundo lugar, por representar um sistema de valores que enxerga os indivíduos como pinturas no muro. No fim, é Harvard que caiu.

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