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Ø Se eu sou um especialista, então minha especialidade é saber como não ser um especialista ou em saber como acho que especialistas devem ser utilizados. :)



“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

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quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Eu desisto?

 Abraçando a descontinuidade.

Expandir o repertório em vez de forçar uma escolha. Vamos falar das coisas que precisamos abrir mão para ter a vida que queremos?

O herói trágico não desiste, ele não aprende a desistir, apesar dos males causados a ele e aos outros. Por quê? Qual é o motivo de não desistirmos? A razão é extrema e justa?”.

Podemos ser mais felizes abraçando a descontinuidade com menos peso. Toda essa valorização da persistência é questionável, pois há formas saudáveis de desistir.

Tendemos a pensar em desistir, na forma mais simples, como falta de coragem, como uma orientação vergonhosa ou imprópria em direção ao que é assustador e desonroso. Isso significa dizer que tendemos a valorizar e até idealizar a ideia de terminar coisas em vez de abandoná-las. Por quê?

Há muito trabalho cultural que entra na valorização da persistência, nessa ideia de não desistir. As pessoas que não desistem são vistas como o melhor tipo de gente. É claro que é uma boa ideia persistir na cura para o câncer, ou na luta contra o bullying. Desistir também pode desembocar em fascismo quando, por exemplo, minorias são excluídas da política.

A desistência recebeu uma áurea sombria quando foi associada à maior desistência de todas – o suicídio. Toda descontinuidade pareceu um desafio ao imperativo de que a vida é sagrada. Vivemos em sociedades em que temos que valorizar que a vida vale a pensa ser vivida. Poucas pessoas querem se matar, mas para elas a vida é insuportável (são vistos como delatores). Essa associação radical da desistência-suicídio anulou exceções de muitos casos em que a desistência pode ser a chave para sentir-se mais vivo.


Mas, existem outros contextos e situações. Vejamos:

·       A ideia de não desistir pode causar mais mal do que bem;

·       A desistência pode ser uma pista para nossa complexidade moral e não apenas um de nossos infortúnios favoritos;

·       Nunca desistir pode significar se torturar;

·       Veja só, adictos nunca desistem. Adictos são pessoas apegadas ou afeiçoadas; dedicadas, devotas, tais como aqueles que têm compulsão pelo uso de drogas ou por substâncias psicoativas; dependentes: Os adictos da maconha. E aí? Nunca desistir? É algo que depende muito do contexto;

·       O herói trágico não desiste, ele não aprende a desistir, apesar dos males causados a ele e aos outros. Por quê? É possível evitar uma tragédia pela desistência saudável. Do contrário, a ideia de nunca desistir pode ser fascista!

·       É difícil pensar em desistir. Somos empurrados a aguentar sofrimento, mas esse caminho e o da desistência precisam estar ambos na mesa;

·       Desistir (de forma temporária ou perene) de alcançar um sonho ou objetivo diante de dificuldades que encontramos pode ser uma atitude necessária e inteligente. Porém, quando persistir? Qual o momento certo para deixar um sonho, projeto, desejo ou ambição de lado?

·       A desistência saudável é um contraponto à ideia popular de que a persistência é a chave principal ou única para alcançar objetivos. Há uma hora certa de desistir de encontrar um amor, de deixar de lado o sonho de se tornar um grande jogador de um esporte ou até mesmo de parar de tratar uma doença, por exemplo;

·       Assim, em muitos casos, a desistência pode ser a chave para sentir-se mais vivo.


Para aprender a desistir, porque o ato requer inteligência, é preciso separar a atenção em dois tipos:

1.     foco estreito, que seleciona o que serve aos interesses imediatos e ignora o resto;

2.     foco amplo, quando não existe um alvo imediato e é possível mirar o todo.

A separação dessas duas atenções visa a expandir o repertório em vez de forçar uma escolha, algo que, consequentemente, força também uma desistência.

Enfim, é preciso renovar a aparência da desistência e também ensinar um pouco de desilusão. Isso não quer dizer toda a reverência pela desistência nem um incentivo a toda e qualquer uma delas. A questão é encontrar a sua medida certa: quando saber a hora certa de desistir de um objetivo? Como ficar bem com a decisão de deixar um sonho de lado? Como lidar com as críticas quando um projeto é abandonado? 

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