O boom do agronegócio desbancou a indústria brasileira de transformação. Deixamos de virar supermercado do mundo para ser quintal de matérias-primas. “Celeiro do mundo” parece uma expressão boa e bonita, mas não é!
Nos últimos anos, a participação da indústria de transformação na economia brasileira teve uma queda acentuada. Enquanto isso, outros segmentos vêm batendo recordes de produção, exportação e investimentos.
A bancada ruralista e da bala no Congresso Nacional foi montada por grandes conglomerados industriais, de olho nas terras, na água e outros recursos naturais a ser explorados para produzir e exportar do Brasil matérias-primas de baixo custo para suas indústrias locais, em outros países ou nos seus países de origem, restando ao país a depredação e a degradação ambiental.
É assim que o conglomerado da elite industrial do mundo vê a América-Latina, no novo Neocolonialismo ou TecnoFeudalismo do século XXI. Nossa região é projetada como “superpotência de commodities deste século” para matérias-primas como minérios e metais cruciais. Sempre foi assim que os EUA viu a América Latina.
As principais
commodities que o país exporta, com cada vez mais verticalização produtiva,
valor agregado e volume são:
·
Mineração: Lítio e
grafite, para baterias;
·
Energia: Petróleo e
gás natural;
· Alimentos.
O Brasil se destaca na alimentação e acaba de se consolidar como o maior exportador mundial de alimentos industrializados em volume, com 64,7 milhões de toneladas em 2022, à frente dos EUA. O país reúne 38 mil empresas com 2 milhões de empregos formais e diretos, o setor tornou-se o maior ramo da indústria de transformação, com 24,3% de participação no total de vagas. Além destes empregos diretos, agrupa outros 10 milhões na cadeia produtiva. No total, responde por 12% de todas as pessoas que trabalham no país. O setor processa 58% do valor da produção de alimentos do campo, e grãos brutos têm crescente participação na engrenagem industrial voltada aos mercados interno e externo. Nos últimos 7 anos, as exportações de alimentos industrializados saltaram de US$ 35,2 bilhões para quase US$ 60 bilhões (+72%). E, nesse ponto, o Brasil ganhou terreno a partir do início da guerra entre Rússia e Ucrânia, em fevereiro de 2022, quando muitos países exportadores de alimentos interromperam negócios para abastecer o mercado interno. No mundo, os principais mercados para os alimentos industrializados do Brasil são China (17,7% de participação), os 22 países da Liga Árabe (16,3%) e União Europeia (15,3%). E está no caminho certo, pois um dos maiores ganhos recentes do Brasil na agenda internacional é prover segurança alimentar. No petróleo, o plano estratégico de US$ 102 bilhões da Petrobras 2024-2028 prevê US$ 17 bilhões para as áreas de refino, transporte e comercialização, com a conclusão de algumas refinarias, o que agregará valor ao óleo bruto. Importantes investimentos também estão programados na indústria de biocombustíveis mais sofisticados, como para a aviação e os que podem ser misturados ao diesel convencional. Na siderurgia, a ascensão e o beneficiamento das commodities vêm
provocando investimento de R$ 12,5 bilhões ao ano. E o objetivo é melhorar o ‘mix’
de produtos e agregar valor. Entretanto, sempre tomando cuidado com os riscos
da comercialização predatória. |
Diante desse
cenário, os desafios ambientais:
·
Foi a Bolívia que
barrou o compromisso dos países amazônicos em Belém, de zerar até 2030, o
desmatamento, que no momento está aumentando na Amazônia boliviana;
· A natureza precisa de dinheiro não de ser transformada em dinheiro: Lula diz aos países ricos que paguem e protejam as florestas tropicais do mundo.
Porém, agora com o Governo Lula.3 a indústria brasileira voltou a ganhar protagonismo. Nosso presidente busca um renascimento industrial, livre das garras predadoras dos EUA e olhando para outros parceiros mais equilibrados, como a China. Lula vem se esforçando para encontrar fórmulas novas para a reindustrialização com a necessária interferência estatal.
Foi com Lula que aprendemos a ter poupança doméstica, gerando crescimento e formas de financiar investimentos. Reforçamos o colchão de reservas internacionais (cerca de R$ 350 bilhões) e afastamos, a partir dos anos 2000, a principal vulnerabilidade brasileira até então: crises externas por falta de dólares. Assim fomos garantindo, durantes os anos, grande parte dos saldos comerciais robustos à balança comercial. Neste ano de 2023, por exemplo, a diferença entre exportações e importações pode atingir quase US$ 100 bilhões!
Como Lula, precisamos pensar grande. Pensar em indústrias mais sofisticadas, como a eletrônica ou de máquinas e equipamentos, criando mais e melhores empregos. Afinal, a participação da indústria no PIB despencou de 36% para cerca de 11% nos últimos 40 anos. Em boa medida, ela deu lugar à ascensão do setor de serviços, responsável hoje por cerca de 2/3 da economia – mas que gera bem menos empregos formais e que são pior remunerados do que os industriais.
Logo, precisamos de empresas brasileiras formais, que tendem a ser mais produtivas, com mão de obra especializada, levando-as a contribuir mais para o crescimento sustentável. O melhor exemplo acontece no setor de alimentos. Além da industrialização de produtos tradicionais como açúcar, proteína animal, óleo de soja e suco de laranja, o setor cresce nas áreas de derivados de trigo (como biscoitos), produtos lácteos e café, inclusive em cápsulas, entre outros.
Por exemplo, no setor de suco de laranja, em que o Brasil desenvolveu tecnologia para exportar o produto sem contato com oxigênio, o país responde por 75% do comércio global, fatura R$ 2,7 bilhões ao ano e gera 200 mil empregos diretos e indiretos. E está no caminho certo, reforço outra vez, pois um dos maiores ganhos recentes do Brasil na agenda internacional é prover segurança alimentar.
Críticas:
·
Outro ciclo da borracha?!
Passo! Brasil precisa é não cair nessa de boom de commodities outra vez! O que
é preciso é instalar laboratórios bioquímicos que explorem com responsabilidade
a biodiversidade da Amazônia, preservando o meio ambiente, e trazendo
produtos que salvem e melhorem as nossas vidas.
·
Esse péssimo negócio de
outro ciclo de commodities é mais uma perda de tempo, empregos e talento para
nós, país em desenvolvimento, enquanto as nações desenvolvidas vão mantendo e
avançando no seu status quo.
·
Essa dependência
excessiva do Brasil em produtos básicos deixa o país vulnerável a flutuações
acentuadas nesses mercados. Seja por aumento da oferta global de petróleo,
eventos climáticos com impacto em safras ou desaceleração maior da China,
principal mercado do agro e minérios brasileiros.
·
Como transformar uma
riqueza natural temporária em valor agregado, conhecimento, capacidade de
inovação, para gerar qualidade no crescimento de longo prazo?
·
Precisa ser sustentável!
E podemos aprender isso com alguns países muito dependentes de commodities,
como a Noruega (petróleo), que criaram fundos com recursos para serem
utilizados em momentos de queda no fluxo de receitas. Porém, são políticas que
requerem permanência, sem as oscilações politiqueiras, mudando a estrutura do
dia para a noite.
·
Apesar dos avanços como
o das insdústrias de alimentos, siderurgia e petróleo, com a criação de
melhores empregos, o Brasil tem muita dificuldade em encontrar um caminho para
se reindustrializar. Temos políticas ruins criadas no passado bolsonarista e de
direita. Não temos capital humano suficiente (educação precária, sobretudo a
profissional) e o custo do dinheiro para investir é elevado (por causa do
desequilíbrio fiscal que leva a juros altos). Daí, não podemos deixar nos
enganar, pois, embora haja, sim, todo um aumento da renda em cidades e regiões
próximas ao agronegócio e à indústria do petróleo, isso acaba influenciando
mais o setor de serviços, que emprega muita gente com baixa qualificação,
informais e com salários menores.
·
Nesse jogo de
exportações e importações de commodities existe um “me engana que eu (não) gosto”.
Exportamos minério de ferro e trazemos aços ou perfis prontos. Exportamos óleo
cru e trazemos gasolina, querosene diesel. Exportamos milho e trazemos álcool
de milho. Exportamos carne e trazemos peixe congelado embalado na China. Agora,
comparemos os valores de um circuito integrado, partes automáticas, etc. Como
ficam os valores dos nossos produtos, da nossa mão de obra e dos nossos
recursos naturais nesse jogo de “toma lá da cá”?
· O Brasil precisa investir pesado em educação, saúde e inteligência. Precisamos sair da rabeira do IDH e deixar de ser a roça do mundo. Do extrativismo à cana de açúcar e agora o agronegócio, precisamos nos libertar dessa lógica colonialista. Mas, a mídia não coloca isso em foco. Em “Terra e Paixão” os dilemas são outros, inclusive o fetiche à criminalidade e à homossexualidade.
Enfim, se por um lado Commodities fortalecem a indústria, por outro lado,
essas indústrias precisam ser brasileiras e não estrangeiras. Não adianta o país
liderar a exportação de comida industrializada se as indústrias operantes e
seus trabalhadores não forem brasileiros. Isso também vale para a siderurgia e o
setor de petróleo, que também estão avançando muito. O poder do agro no Brasil
precisa ser descentralizado com a intervenção maior do Estado, afinal, ele se
move entre o bolsonarismo e na centro-direita, beneficiando estrangeiras ou
empresários expatriados. O MST e a agricultura familiar precisam ser postos em
foco, os grandes produtores de alimentos e que abastecem o mercado interno do
país. Sob o discurso de um “mundo mais verde”, o boom da boaiada não pode
continuar passando. Então, vamos apoiar e apostar no fortalecimento endógeno da
indústria brasileira, com investimentos crescentes em beneficiamento, em todos
os segmentos e setores!
Fechamento da Ford após 100 anos no Brasil cede território dos EUA à China. Fábrica da Ford que a BYD está comprando, mas ainda não assinou, na Bahia.
Países amazônicos, liderados pelo Brasil, assinam pacto pela floresta tropical, concordado em várias iniciativas.
Usina para fabricação de etanol de milho da Inpasa, próximo a Nova Mutum (MT).
Apesar do aumento da produção industrial relacionada às
commodities nos últimos anos, o Brasil acumula déficits constantes na balança
comercial de manufaturados: US$ 128 bilhões no ano passado e cerca de US$ 115
bilhões previstos em 2023.
Enquanto a indústria de transformação em geral encolheu -1,2% de janeiro a setembro deste ano, a de alimentos cresceu +3,9%. A relacionada ao petróleo teve alta ainda maior: +4,8%.
Há um excedente de produção de 560 milhões de toneladas de aço no mundo (190 milhões na China). Enquanto EUA, União Europeia, Reino Unido e México têm tarifas de importações de 25%, o Brasil segue com proteção de 9,6%.
Sem prejuízo do mercado brasileiro, que absorve 72% da produção, não deixamos de atender as exportações.
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