Quem sou eu

Minha foto
São Francisco do Conde, Bahia, Brazil
Professor, (psico)pedagogo, coordenador pedagógico escolar e Especialista em Educação.
Obrigado pela visita!
Deixe seus comentários, e volte sempre!

"Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber" (Art. 205 da Constituição de 1988).

Ø Se eu sou um especialista, então minha especialidade é saber como não ser um especialista ou em saber como acho que especialistas devem ser utilizados. :)



“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

Arquivos do blog

domingo, 19 de fevereiro de 2023

A batalha semântica no Brasil.

 


Também há uma batalha ideológica no debate público envolvendo as palavras. A criação de marcas para (des)merecer o adversário ou seu legado é uma herança da guerra eleitoral do ano passado, mas já vem de longe.

A título de exemplo inicial, os liberais tratavam a perda de direitos trabalhistas como “flexibilização” para que as empresas não demitissem (há outros exemplos ao final do texto).

A disputa discursiva não é apenas uma estratégia, mas a própria forma como a política se coloca. Não é a disputa pela palavra, mas pelo sentido. O interlocutor busca tornar a sua interpretação de mundo hegemônica.

Enfim, além de discursos de fundo linguístico, há também instrumentos efetivos para se materializar.

Bem, e a decisão do STF contrária à lei de Rondônia que proíbe o uso da linguagem neutra nas escolas do estado – julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 7.019, de iniciativa da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee).

Todes” estão de acordo com esse assunto?

Falamos e escrevemos de forma diferente. Porém, a escrita prevalece sobre as diversidades de falas graças à gramática da norma padrão. Isso tolhe ou potencializa a democracia?

Por um ângulo potencializa, visto que a democracia não é ausência de limites, mas justamente um conjunto de normas e regras para tornar possível a convivência social em sua ampla diversidade. A padronização da linguagem escrita não é a negação da pluralidade nem a resistência à mudança. Pelo contrário, é pilar central de nossa cidadania, amalgamando populações de diferentes regiões que se expressam oralmente de forma diversa. E cria pontes com as populações de países da comunidade lusófona. Modismos da linguagem falada ou “erros da escrita” são filtrados e só incorporados à linguagem formal se aceitos e praticados ampla e permanentemente pela população.  

Por outro ângulo, é preciso considerar que não há aspectos puramente técnicos, portanto, neutros. A pretexto da defesa do aprendizado da língua portuguesa de acordo com a norma culta e as orientações legais de ensino, preconceitos e intolerâncias incompatíveis com a ordem democrática e com valores humanos podem ser propagados. E onde fica o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas?

“A ‘linguagem neutra’ ou ‘linguagem inclusiva’ visa a combater preconceitos linguísticos, retirando vieses que usualmente subordinam um gênero em relação a outro. Trata-se de preocupação em adotar expressões não binárias quanto ao gênero, de forma a atenuar comportamentos preconceituosos” (Edson Fachin, ministro do STF).

E mais outro ângulo, com base no conhecimento científico, quais são os eventuais efeitos da linguagem neutra no aprendizado infantil?  Como fica a alfabetização de crianças? Esse é o ponto central: decisões sobre modificações ortográficas e gramaticais devem ser feitas buscando caminhos para melhor ensinar e aprender a língua portuguesa às crianças. Não basta ser técnico, é precisa que também seja democrático. Mais uma vez fica nítido que a disputa não é só pela palavra, mas também pelo sentido. O técnico não está livre do viés ideológico. Se não há neutralidade a escolha precisa ser pela pluralidade, se assim quisermos (com)viver, democraticamente. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário