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Ø Se eu sou um especialista, então minha especialidade é saber como não ser um especialista ou em saber como acho que especialistas devem ser utilizados. :)



“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

domingo, 28 de novembro de 2021

Os hormônios de Marx.

 

Os pais de Marx eram judeus – Heinrich Marx e Henriette Pressburg. Casaram-se em 1814 (em Trier, na Renânia). Tiveram 9 filhos (4 homens e 5 mulheres). Das 5 mulheres só três passaram dos 25 anos (Sophia, Louise e Emilie). Dos 4 homens, somente 1 sobreviveu – Karl Marx. O pai e os irmãos de Marx faleceram vítimas de tuberculose. Por ser protestante, o pai de Marx tinha características de racionalista, afinal, era leitor atento dos iluministas franceses (como Voltaire e Rousseau). Seu progenitor estudou Direito e construiu uma carreira profissional sólida na advocacia (que permitiu assegurar à família uma vida material minimamente confortável, segundo os padrões à época vigentes entre as camadas urbanas médias e acomodadas). Ele sonhava ver o filho Marx também advogado, e não dissimulava seu discreto e moderado liberalismo. 

Marx nasceu em 5 de maio de 1818. O pai convertido ao Protestantismo, o batizou aos 6 anos de idade (em 26 de agosto de 1824). Karl passou a infância, a adolescência e chegou à vida adulta na Alemanha. Partiu aos 25 anos. Nesse período, a Alemanha estava muito atrasada em relação ao desenvolvimento econômico-social e político da Inglaterra, da França e dos Países Baixos, mas apresentava uma complexa e rica dinâmica filosófico-cultural de altíssimo nível (Kant, Fichte, Hegel, Goethe, Schiller, György Lukács). Por isso Marx veio afirmar mais tarde que, “os alemães pensaram o que as outras nações fizeram”.

Como era a relação de Marx com os pais dele? Bem, com a mãe, zelosa guardiã de valores familiares e domésticos (os financeiros também), um trato distanciado e difícil (a mãe de Marx parecia não ter qualquer intenção de expandir seu mundo para além das necessidades imediatas de sua família). Já com o pai, que sempre estimulou seus interesses intelectuais, sem prejuízo de duras admoestações recebidas, um diálogo amistoso e fecundo, marcado por mútuo respeito e admiração. A figura paterna foi muito forte para Marx (quando Marx morreu, encontraram no bolso de seu paletó uma fotografia do pai, que foi posta em seu caixão e enterrada com ele). O pai de Karl era um intelectual meticuloso e passava grande parte de seu tempo lendo. Enfim, seus pais aram amorosos, mas não exatamente alegres, moderadamente prósperos, mas sem fartura.

O adolescente Karl era muito curioso e inteligente. E o pai era quem mais o estimulava intelectualmente (em Homero, Dante, Shakespeare, Schiller e Goethe). Além do pai, o barão von Westphalen foi uma significativa influência que despertou seu interesse pelo socialismo utópico defendido por autores franceses como Fourier e Saint-Simon, discutindo as atualidades do pensamento. Enfim, Marx lembraria essa época como uma das mais felizes de sua vida. Ele foi tratado como um homem adulto e como um intelectual por um aristocrata experiente e distinto. Tanto que, a dissertação com a qual Marx recebeu o título de doutor em filosofia, em 1841, foi precisamente dedicada ao Westphalen, a quem se referiu como “caro e paternal amigo”, “como sinal de amor filial”. Marx reconheceu que ele “sempre foi para mim um vívido argumento óbvio de que o idealismo não é coisa da imaginação, mas a pura verdade”.

Além deles, o que mais influenciou a formação inicial de Marx? Seus estudos formais realizados de 1830 a 1835 na escola pública de nível secundário exclusiva para alunos do sexo masculino, a Friedrich Wilhelm Gymnasium, que preparava jovens para o ingresso na universidade. A escola privilegiava a formação clássica, com ênfase no grego e no latim (e seu diretor, Johann Hugo Wyttenbach, costumava iniciar seus estudantes na leitura de Goethe). Enfim, tudo indica que Marx não frequentou escolas primárias, mas teria recebido aulas particulares iniciais em casa (redação, sobretudo).

No começo de agosto de 1835, Marx apresentou suas três dissertações necessárias à época para a sua graduação, com objetos propostos pelos examinadores e atendendo às disciplinas de latim, religião e alemão. Foram elas:

1.      “Foi o governo de Augusto um dos mais felizes da história romana?” (que exigia demonstrar conhecimento regular de história antiga).

2.      “A união dos fiéis com Cristo” (desenvolvida na concepção do cristianismo protestante iluminista).

3.      “Reflexão de um jovem em face da escolha de uma profissão” (em que demonstrou os traços de um adolescente que pensa o futuro com preocupações sociocêntricas e, ao mesmo tempo, vislumbra os condicionalismos sociais daquela escolha). Nesta, escreveu Marx:

“Nem sempre podemos atingir a posição para a qual acreditamos que estamos vocacionados; nossas relações na sociedade estão, de certa forma, estabelecidas antes que tenhamos condições de fazê-lo”.

Ou seja, repare que, aqui, já há um ponto de vista materialista, quer dizer, o homem não escolhe as condições de existência, mas é constrangido por elas.

O jovem Marx, com pouco mais de 17 anos, ingressa na Universidade de Bonn. Assume a condição de universitário de forma séria, e se inscreve em 9 cursos, mas frequenta 6 por cautela do pai, entre eles, Direito, Literatura e Estética. Ao fim de 2 semestres, se transferiu para outro ambiente acadêmico: a Universidade de Berlim.

A experiência na primeira universidade foi “tabernosa”. Marx fez parte de grupos de estudos que, nas tabernas noturnas, “participava ativa e assiduamente das suas noitadas boêmias, nas quais corriam à solta bebidas alcoólicas e excessivo tabaco, com o ar um pouco sinistro de um gênio romântico”. 

Destacam-se duas experiências típicas de um fim de adolescência sem controle direto da família:

1) a prisão por uma noite, devida a arruaças em meio a uma bebedeira coletiva;

2) um duelo ou disputa em que saiu por cima com apenas um pequeno ferimento acima do olho esquerdo. Há também uma acusação improvada de que Marx portava armas proibidas. Apesar da sua dedicação, Marx viveu um período de dispersão intelectual, teve problemas de saúde não revelados e despesas descontroladas. O pai cuidou para que ele não se desviasse e, dedicasse mais aos anfiteatros universitários a que às tabernas.

Nessa fase, Marx deixou crescer uma barba rala e um cabelo preto e encaracolado, até ficar comprido e desgrenhado, e sua pele escura, que fizeram receber de seus colegas o apelido de “o Mouro”, pelo qual seria conhecido entre os amigos e familiares pelo resto de sua vida (Mohr, o Mouro, também era uma referência  ao criminoso, porém carismático, herói robinhoodiano de Schiller, Karl von Moor, da peça “Os bandoleiros”, que liderava um bando que combatia a aristocracia corrupta). Pelo resto da vida, todas as pessoas mais íntimas de Marx se dirigiriam a ele com esse apelido.  

E Karl Marx deixou a adolescência tabernosa para trás e aos 18 anos passou a demonstrar traços da vida adulta amadurecida. No verão de 1836, com sua inteligência brilhante, humor cáustico e personalidade voluntariosa, encantou a belíssima e livre-pensadora, Jenny (com 22 anos). Foi então que uma tórrida paixão (incomum) explodiu entre Jenny e Karl Marx. E havia uma singularidade nessa relação, pois na Renânia da época, raro era uma filha da nobreza aproximar-se do filho de um advogado judeu convertido, bem como rara era uma mulher (ainda que pouco) mais idade (diferença de 4 anos) ligar-se a um homem mais jovem, sobretudo se este não passava de um estudante universitário que tinha pela frente um futuro nebuloso. Enfim, enamorados e noivos por 7 anos (com poucos encontros a sós entre os dois)! Só resultou em casamento quando Marx acreditou reunir as condições financeiras mínimas para tanto.

É próprio de biógrafos detalhistas perscrutar a vida privada dos seus biografados. Acredita-se que no verão de julho de 1841 (em Bonn), os noivos Jenny e Karl Marx tiveram a sua primeira relação sexual (mas, é uma especulação, pois ambos tiveram poucos momentos a sós e Jenny não engravidou). A “paixão tórrida” por Jenny foi documentada em 3 “cadernos de poesia” (Livros dos cantos e Livro do Amor I e II) que Marx escreveu e endereçou à amada quando estava em Berlim. A poesia é desajeitada e de pouco valor literário que mais expressa um espírito trivial de romantismo do jovem Marx, mas que mais tarde veio a se tornar um autêntico e duradouro amor – Marx sabia-a a mulher de sua vida.

Enfim, foram quase 4 décadas de vida conjugal, em que compartilharam alegrias e misérias de todo gênero (uma de natureza moral). Jenny era uma aristocrata que renunciou a tudo de sua classe para construir com Marx um projeto de vida (eles viveram tempos de extrema pobreza material e isolamento político). Ela foi companheira em pé de igualdade, dividiu com ele ideias e lutas e o auxiliou na preparação de seus textos.

 

“Eis que assomas diante de mim, grande como a vida, e eu te ergo nos braços e te beijo dos pés à cabeça e me ponho de joelhos diante de ti e exclamo: Senhora, EU TE AMO!” 

(Karl Marx em carta a Jenny, 21 de junho de 1856).

 

CONTINUA...

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