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São Francisco do Conde, Bahia, Brazil
Professor, (psico)pedagogo, coordenador pedagógico escolar e Especialista em Educação.
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"Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber" (Art. 205 da Constituição de 1988).

Ø Se eu sou um especialista, então minha especialidade é saber como não ser um especialista ou em saber como acho que especialistas devem ser utilizados. :)



“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

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domingo, 2 de maio de 2021

Projeto do Homeschooling.

A princípio, umas 17000 famílias se encarregarão da educação formal dos filhos, a pretexto de livrá-los da suposta forma agressiva pela qual a esquerda tomou conta da educação.
 

É a principal pauta governista de cunho ideológico que promete sair do papel ainda este semestre (até 15 de maio). O texto é da deputada de 25 anos e de primeiro mandato Luísa Canziani (PTB-PR), aliada do presidente da Câmara, Arthur Lira (Progresistas-AL). A estratégia é botar o projeto em votação no Plenário da Casa em regime de urgência – dormir sem, e acordar com ele aprovado.
 
O projeto tem a assinatura da ala ideológica ultraconservadora, em que dois ministros disputam protagonismo no seu andamento: Damares Alves (da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos) e Milton Ribeiro (pastor presbiteriano à frente da pasta do MEC).
 


Vejamos os principais pontos polêmicos do texto:
 
·         Mundialmente, o conceito de homeschooling é bandeira de duas ideologias opostas: a ultralibertária, que não vê nem qualidade nem utilidade no ensino formal; e a ultraconservadora, para quem a sala de aula é um antro de bullying, uso de drogas e, no caso brasileiro, suposta doutrinação marxista por parte de professores e educadores.
·         O debate em plenário promete emoções, já que o aprendizado em casa reverte a obrigação de que crianças de 4 a 17 anos frequentem a escola — o modo pelo qual, estabelecido por lei, se deu o avanço no grau de instrução da população brasileira nas últimas décadas.
·         Os pais que adotarem a modalidade de homeschooling para os filhos precisam necessariamente cumprir o currículo estabelecido pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que dá as diretrizes do que os alunos dos ensinos Infantil e Fundamental precisam aprender em cada série. 
·         Os pais, se desejarem, também podem aplicar “conteúdos adicionais pertinentes”, como disciplinas de línguas estrangeiras.
·         Em todos os casos, os estudantes precisarão estar matriculados em uma escola.
·         É um projeto para um público de número certo. A ideia é assegurar o direito das crianças e regulamentar o dever das famílias. Calcula-se que 17 000 famílias já adotam o sistema no Brasil — menos de 1% do total. Só que os pais e mães das crianças envolvidas estão sujeitos a processo por abandono intelectual dos filhos.
·         Em setembro de 2018, examinando um desses casos, o Supremo Tribunal Federal determinou que o ensino domiciliar em si não fere a Constituição, mas precisa ser regulamentado por lei específica. Pelo menos 100 famílias foram processadas depois da decisão do STF.
·         Exige que o pai ou responsável legal pelo estudante que for incluído na educação domiciliar tenha diploma de nível superior para estar apto a gerir a educação do filho.
·         O responsável direto pelo ensino em homeschooling precisa apresentar certidões criminais e não pode ter sido condenado ou estar cumprindo pena por crimes hediondos ou delitos.
·         Estudantes submetidos a esta modalidade de ensino serão alvo de avaliações periódicas de aprendizagem.
·         A cada bimestre, pais ou responsáveis serão obrigados a enviar relatórios das atividades pedagógicas aplicadas aos alunos em homeschooling, que terão isonomia de direitos em relação a estudantes matriculados em regime educacional comum.
·         Aos adeptos do ensino domiciliar será garantida a participação em exames nacionais, feiras científicas e práticas esportivas, por exemplo.
·         Há a possibilidade de se exigir um relatório para que se avalie se há déficit de socialização para estudantes inseridos nesta modalidade educacional. 
·         Há a possibilidade de permissão para uma espécie de preceptor assumir a linha de frente do ensino domiciliar em substituição aos pais ou responsáveis legais do aluno. É uma figura que as igrejas se dispõem a providenciar. Ofereceriam inclusive aulas em dependências religiosas, o que faria delas uma espécie de escola informal. Sacou, neh? Interesse financeiro! Assumindo essa função, poderiam se sentir no direito de reivindicar uma fatia do Fundo de Educação Básica, o Fundeb, como fizeram em outras ocasiões — todas frustradas, felizmente. Otimistas, instituições evangélicas já começaram até a vender na internet material didático voltado para o ensino doméstico e ainda cursos de treinamento para os pais.
 
 
Algumas Críticas:
 
1.      O ensino em casa legitimará o isolamento da criança e sua exposição a um modo único de pensar. A ideia de homeschooling é pautada pelo fim do convívio com o diferente e com a diversidade do ambiente escolar. É um ataque à Democracia em seu berço.  
2.      Essa ideia vai agravar a evasão escolar, um velho problema da educação brasileira.
3.      Longe dos olhos de mestres e colegas, as crianças ficarão mais sujeitas à violência doméstica, abusos sexuais e trabalho infantil.
4.      O ensino domiciliar já é legalizado em 65 países. Nos Estados Unidos, a prática está em vigor, de diferentes maneiras, em todos os cinquenta estados, abrangendo 2 milhões de crianças. Mais da metade das famílias adeptas do método é cristã fundamentalista, que questiona a ciência, promove a subserviência feminina e chega a defender a supremacia branca.

 
 
De 34 matérias que tramitam pelo Congresso Nacional, consideradas prioritárias pelo governo, apenas uma diz respeito à educação — e seus desdobramentos preocupam. A Câmara dos Deputados se prepara para votar, a qualquer momento, esse cobiçado projeto de lei que regulamenta o 'homeschooling', apoiado por sua base conservadora – a bancada evangélica.
 
Enfim, crianças têm o direito de crescer expostas a ideias e valores diversos dos de seus pais, em nome de um futuro aberto, em que elas escolham o próprio caminho. O conhecimento, para ser libertador, não deve estar delimitado pelos muros da casa de cada um.
 
Fiquemos atentos!   





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