Com o lema de campanha “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”,
Bolsonaro usou uma ideia de Deus que troca a luta por promessas – um curinga
para encobrir políticas de obscurantismo. Dá a impressão de que o Brasil deseja
ser governado sob o amparo divino,
mais do que sob as Leis e a Constituição. A bandeira de Deus é
hasteada por um presidente que parece querer governar em seu nome – nada mais
explosivo para a democracia que uma presença obsessiva da sombra de Deus por
parte dos que governam um país laico por constituição.
Esse é o verdadeiro Deus de Bolsonaro:
obsessivo, ambíguo e politicamente incorreto. Não é o Deus que deve libertar os
escravos da pobreza e da injustiça, o Deus dos que sofrem por serem diferentes,
o dos excluídos dos privilégios, e sim o que adoram os satisfeitos, o vingador
mais que o pacificador. O Deus da violência mais que o desarmado das
bem-aventuranças. Um Deus que infunde medo nos
que deveria acolher sob sua proteção. É um Deus que se faz ouvir só através das
ordens, gritos e armas do poder,
não o que fala no silêncio dos corações em busca de paz e de diálogo.
Por que o
Brasil é um país com forte presença religiosa nas massas populares? Porque é um
país com vasto histórico de pobres e minorias que sofreram (e sofrem) com mais
força a injustiça e a violência, a autoridade e o atraso. Assim, é na religião
que Deus é visto como refúgio contra a dor e as dificuldades da vida. Por isso
é tão aclamado.
A liberação
dos oprimidos e marginalizados perpassa pela luta contra a injustiça, ou seja,
Deus é uma força de resistência contra as desigualdades sociais e as
intolerâncias, mas Bolsonaro insiste à conservadora “teologia da prosperidade”
dos evangélicos, que promete novas utopias que adormecem as injustiças. Justo
os evangélicos de boa fé, que são a grande maioria, os mais castigados pelas
injustiças sociais. Por isso um presidente apaixonado por Deus e pelas armas em
igual medida faz o Brasil adentrar em uma fase perigosa – o fundamentalismo
idolátrico.
O uso
pessoal que Bolsonaro faz do nome de Deus só o transforma em mais uma bandeira
nas mãos de conservadores e políticos que o anulam como propriedade.
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