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Ø Se eu sou um especialista, então minha especialidade é saber como não ser um especialista ou em saber como acho que especialistas devem ser utilizados. :)



“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

sábado, 19 de janeiro de 2019

Como produzir pobreza em uma geração?


O Brasil que canta “pega a novinha” é o país com o 4º maior número de “casamentos infantis” (expressão usada para designar casais em que um dos integrantes, ou ambos, não atingiu a maioridade). São 3 milhões de brasileiros vivendo nessa condição. A nação também tem a 7ª maior taxa de gravidez na adolescência da América do Sul (empatada com Peru e Suriname). São 65 gestações para cada 1000 meninas entre 15 e 19 anos; na Venezuela são 95 casos (imersa em crise política e humanitária, é a pior do ranking) e na França apenas 6 (país desenvolvido, pai!). Fontes: Unicef e Fundo de População das Nações Unidas.

É a sina das meninas-noivas: garotas de 12 anos casadas com homens de 45, por exemplo. Contraste do Brasil que é explicado por um lado cultural e outro, social. Do lado de lá existe a tradição do controle da sexualidade feminina, a opressão de uma sociedade patriarcal e machista, a manutenção da tradição das linhagens familiares e dogmas religiosos; do lado de cá, há a miséria, o abismo da desigualdade social e um ciclo retroativo da pobreza crescente. Destrinchando nuances de ambos os lados, temos:

·         A prática acontecia em todas as classes sociais. As monarquias se uniam para manter a nobreza, o poder e a fortuna. Pais determinavam os cônjuges dos filhos desde a tenra idade.
·         Ao longo do tempo, o próprio conceito de infância mudou com o aumento da expectativa de vida – um brasileiro vivia apenas 33 anos no início do século XX. Até a década de 50, ainda se considerava que a vida adulta da menina começava no dia seguinte ao início do ciclo menstrual.
·         A migração da população do campo para a cidade, o surgimento da pílula anticoncepcional e os avanços nos direitos das mulheres mudaram o panorama, mas ainda choca o quadro brasileiro.
·         Há também uma raiz fincada na desigualdade de gênero. Em regiões onde o sexo feminino não tem a oportunidade de contribuir para a família, entrando no mercado de trabalho formal para ajudar com as despesas, as filhas são vistas como um fardo. Por isso, os pais acabam consentindo sutilmente o casamento precoce ou se escondem atrás disso para expulsar a filha que “perdeu a virgindade”.
·         Quanto mais a região é paupérrima, mais os envolvidos em casamentos precoces não percebem a situação como absurda. Na pobreza, o conhecimento é substituído pela necessidade e pelas falsas ideias, um terreno perfeitamente propício para a proliferação de relacionamentos tortos. A falta de idade, de dinheiro e de estrutura familiar faz do casamento infantil uma realidade mais frequente em comunidades carentes, com a agravante de haver um alto índice de separação.
·         Em um daqueles atrasos que se perpetuam sem que ninguém saiba exatamente como nem por quê, o casamento infantil não é ilegal no Brasil. Pela lei, qualquer menina pode se casar depois dos 16 anos desde que tenha autorização dos responsáveis. Em caso de gravidez, as garotas têm o direito de casar-se ainda antes disso: a partir dos 14 anos. Se elas não têm maturidade para cuidar de si próprias, como vão tomar conta de uma família? Isso não parece importar para as bancadas conservadoras no Congresso.
·         Nos dias atuais, o fator econômico e social também é muito forte. Quando a mulher não tem perspectiva de estudar, de trabalhar, ganhar seu próprio dinheiro e, então, construir um futuro com autonomia, a única forma de se sentir útil é casar e engravidar. Sem quebrar esse ciclo, sem interromper os casamentos infantis, o Brasil jamais conseguirá chegar ao futuro.

Fica evidente que, quando a pobreza não é a mola propulsora dos casamentos infantis, entram em cena os valores religiosos e familiares.

Casamento monogâmico atual precisa ser consensual, formado por pessoas com maturidade física e emocional e possuidoras do desejo de constituir família. Também precisa de uma base econômica que o sustente. Sem esses aspectos, desmorona mesmo! Agora, como falar de casamento quando surge uma gravidez precoce, na baixa escolaridade, com ausência de trabalho, falta de perspectiva a longo prazo e sob fuga de uma família desestruturada? Faltou a essa gente dois pilares fundamentais para uma vida adulta saudável dos dias atuais: o apoio familiar e o banco da escola – que se resumem na responsabilidade político-social.

Que destino é reservado para essas "mães precoces"? Um possível futuro condenável, pois estudos comprovaram que: elas têm 7 vezes mais riscos de morrer no parto por não terem corpo de adultas; seus bebês têm probabilidade 60% maior de morrer do que a média, exibem alto índice de depressão, ansiedade e agressividade (gera revolta porque se veem presas a uma situação da qual não vislumbram saída).

E em quem descontam a raiva? Geralmente nos filhos, com falta de paciência ou com violência física, isso quando não os relega a parentes próximos. Do que esses pequenos precisarão para não retroalimentar esse ciclo?












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