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São Francisco do Conde, Bahia, Brazil
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"Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber" (Art. 205 da Constituição de 1988).

Ø Se eu sou um especialista, então minha especialidade é saber como não ser um especialista ou em saber como acho que especialistas devem ser utilizados. :)



“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Rinocerontes não comem panquecas.

É um livro escrito por Anna Kemp, traduzido por Hugo Langone e ilustrado por Sara Ogilvie, da Editora Paz e Terra Ltda. Ele fala de família, amizade e mais atenção ao que as crianças têm a nos dizer.

A história é assim: Daisy estava tomando café da manhã quando um rinoceronte grande como um ônibus, roxo como um repolho e esfomeado entrou na cozinha, mordeu a panqueca da menina e foi para o andar de cima. A garota correu de encontro à mãe e ao pai para contar o ocorrido, mas, como sempre, eles deram pouca importância. A mãe sugeriu que simplesmente jogasse o bicho pela janela e o pai achou que fosse só mais uma aranha que poderia esperar, dentre outros possíveis bichos, como um tubarão no banheiro ou um urso polar na geladeira. Afinal, já era praxe rir e caçoar dos supostos devaneios da menina, acompanhada do velho jargão familiar: “Fique quieta! Você não vê que estamos OCUPADOS?!”.

Daí uma questão é levantada: quem realmente está distante da realidade, as crianças ou esses pais indiferentes?

Numa família tão distraída com os afazeres do dia a dia, o rinoceronte aproveitou o dia para ficar bem à vontade: usou casacos, passeou pelo jardim, utilizou a privada do banheiro... Enfim, como os pais de Daisy ficaram ocupados a semana inteira, a garota começou a conversar com o rinoceronte. E logo eles se tornaram bons amigos. E o resultado dessa grande amizade? Muitas brincadeiras, pizzas, cócegas... Daisy descobriu que ela não era a única que se sentia em terra estranha dentro da própria casa, exilada dentro do próprio lar. O próprio rinoceronte estava ali com ela porque sua casa também ficava mito longe dali. E ele também estava triste por isso. Então, à noite, a menina pensou em como poderia levar o rinoceronte de volta para casa. De balão na dava porque era muito pesado; de bote de borracha também não, porque o bicho era muito grande; de bicicleta era inadequado porque o capacete nunca caberia.

Então os pais de Daisy tiveram uma ideia muito boba – levar a menina ao zoológico para mostrar-lhe um rinoceronte de verdade. Claro que ela já havia visto um rinoceronte perfeitinho sentado no sofá, mas preferiu não dizer mais nada. Afinal, de que adiantaria? Ninguém prestaria atenção. No zoológico, Daisy viu muito outros animais: girafas amarelas, papagaios vermelhos e reluzentes, tigres pintados de laranja e preto, cobras verdes como a grama. Mas, havia um bicho que ela realmente não conseguia esquecer – seu pobrezinho rinoceronte roxo. Os pais então resolveram levar a garota para a ala dos rinocerontes, e tiveram uma grande surpresa: se depararam com um anúncio de rinoceronte “DESAPARECIDO”! O animal possuía todas as características descritas pela menina.

Enfim, os pais ficaram assustados e perplexos! Naquele exato momento foram tomados pelo mundo de Daisy. Então, voltaram correndo para casa e, ao chegar, se depararam com O MAIOR E MAIS ROXO RINOCERONTE DA CIDADE! Estava deitado no sofá, assistindo TV e comendo panquecas. A mãe quis ligar para o zoológico, mas Daisy evitou. Ela queria que o rinoceronte fosse para casa, que ficava Muito Longe Daqui. A família decidiu que fosse no próximo voo, que saía à tarde. O rinoceronte fez as malas, Daisy procurou o chapéu dele e todos o empurraram para o banco de trás do carro – e foram para o aeroporto.

O rinoceronte embarcou, deixando Daisy com um abraço grande e roxo. Ambos prometeram sentir muita falta um do outro. Sim, o velho e conhecido problema da FALTA. Em casa, Daisy começou a se sentir sozinha novamente. Quem escutaria o que ela tinha a dizer agora? Mas, ela mal sabia que tudo iria mudar. Agora os pais de Daisy se tornaram ouvintes atentos sobre a história do rinoceronte grande e roxo. Eles quiseram saber tudo o mais sobre ele, e escutaram até ela não ter mais nada a dizer. FOI MARVILHOSO! 

Chegou a hora de ir para a cama. A mãe de Daisy a colocava para dormir e perguntou se ela tinha algo mais que gostaria de contar. Enquanto olhava para a porta do quarto, Daisy disse sorrindo que não tinha. Não sabia a mãe o que a menina acabara de ver espiando da sua porta – um urso polar cor-de-rosa que podia esperar até amanhã. Boa noite!

Daisy representa o tipo de criança para quem os adultos pouco prestam atenção. Não se trata só de escutar ou fingir um diálogo, mas ouvir de verdade e interessar-se pelo conteúdo da fala, ou seja, interagir com a criança pelo diálogo. Por que a maioria dos adultos não dá a mínima para o que a criança está falando? Talvez porque subestimem a complexidade do vocabulário dela ou a veracidade do conteúdo que é capaz de construir. Isso nos faz perder um aspecto importante da conversa infantil, para o qual essa historinha desperta nossa atenção: a criatividade do discurso e sua capacidade inventiva.

Quando a criança verbaliza suas fantasias ela expressa um dos conteúdos que realmente merecem nossa atenção. Devemos ouvir mais e melhor nossas crianças. Precisamos prestar mais atenção no que elas têm a nos dizer. Ou então, corremos o risco de um rinoceronte grande como um ônibus, roxo como um repolho e bastante esfomeado passear por toda a nossa casa e não ficarmos sabendo de nada.

Quando a criança cria amigos imaginários porque está na fase de inventá-los, é uma coisa, tudo bem. Mas, quando os cria para lhes fazer companhia porque os pais já não mais se importam com os filhos. Aí, não! Isso já merece atenção. Quando a imaginação se torna a melhor companhia para preencher uma lacuna de ausência deixada pelos pais, o maior risco que a família pode correr é o de perder a importância para a criança. Afinal, quem muito se ausenta um dia deixa de fazer falta.

Um comentário:

  1. Olá!
    Amo esse livro!
    Realidade da maioria de nossos pequenos... "Fala com a mamãe. _ Ela não me escuta!"

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