Duas crianças pequenas acordam
assustadas e gritam: “Papai!”. Uma criança é real e a
outra criança não é. Qual delas é sonho e qual delas é realidade?
Como identificar o humano e como classificar o monstro? Um punhado de aparências
diz tudo sobre a essência? Como seríamos vistos de outras perspectivas, monstros ou simplesmente diferentes?
Papai é um livro
escrito pelo francês Philippe Le Saux
(pseudônimo Corentin) e traduzido
pela professora paulistana Cássia Silveira. Publicada em 2008 e editada em
2014, a obra faz parte da Edição Especial “Leia para uma criança” da Fundação
Itaú Social. Seu autor vê a literatura infantil como um instrumento de diversão
das crianças e costuma mesclar em seus livros seres fantásticos e humanos de
maneira inventiva, dialogando diretamente com o imaginário e os medos infantis.
Como seria eu sonhando com o sonho a
sonhar comigo? Ou ainda, o que e como seríamos se o sonho sonhasse com a gente?
Seria ele a realidade, e nós, seus monstros? E isso é possível de acontecer? Na Literatura, sim! Na literatura
infantil o sonho vira realidade e a realidade vira sonho. E como seríamos
vistos de outra perspectiva? Tudo depende do observador, suas opiniões e
pré-conceitos. Tendo a Literatura o poder de inverter a realidade, tem também a
capacidade de combater o medo como expressão do desconhecido. E ainda vai além
– ela tem o poder de questionar nossos preconceitos.
É nesse terreno, o do desconhecido, que
moram as diferenças (e não os monstros). A diferença é o outro, aquele que não é
igual a mim, um desconhecido. A intolerância pode nascer no berço, ou
em nossas camas como porto seguro, quando nelas não estão o papai e a mamãe.
Então sonhamos que o outro, como diferente dos membros familiares (ou o
desconhecido), é um monstro horrendo – e acreditamos que esse pesadelo seja
realidade – nasce o preconceito. São esses preconceitos que precisam ser
desfeitos ainda no berço (e não reforçados por pais inescrupulosos que
alimentam os temores das crianças com a ideia de “bicho papão” ou “o velho do
saco vai te pegar”).
Por isso, essa historinha fala das
crianças que nem sempre dormem em paz e sozinhas, quando deveriam descansar.
Vivendo numa fase em que é difícil distinguir o sonho da realidade, elas imaginam
intrusos em seus quartos. Então desejam aconchego, segurança e acalanto dos
pais na hora de dormir. Focado na expressão progenitora paterna, como presença
protetora e corajosa, Papai é um livro que desperta na
criança o respeito às diferenças como instrumento de destemor dos supostos monstros
que habitam nosso imaginário e que ameaçam o sono calmo e tranquilo dos
pequenos (e dos grandes também!).
A leitura, o sono e o susto... Papai do
Céu, socorro! Que esse susto se transforme em reconciliação entre o nanar e a imaginação
saudável! E que nem a barriguinha cheia de torta de maçã ao dormir nos convença
do contrário.
Então, boa noite! Durma em paz!!! E bons
sonhos...
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