Que tal desenhar uma
fronteira que tem cara de passado, mas com conflitos contemporâneos que se
desenrolam nela?
O que emerge da grande
quantidade de diálogos desse filme? Duas representações dos EUA:
1 – o período que se seguiu à
Guerra Civil (1861-1865);
2 – as tensões raciais em
erupção e dos cismas entre conservadores e liberais dos dias de hoje.
A rigor, lida-se de alguma maneira com os mitos da criação
nacional: a nação desenhada pela doutrina do “destino manifesto”: crença de que
os EUA estavam destinados a se expandir para o Oeste e abranger sua dimensão
continental. Índios passaram de vilões a vítimas; homens da lei deixaram de ser
justos e ficaram truculentos; a fronteira deixou de ser vista como avanço da
civilização para virar foco de violência.
O filme destaca uma
expressão: Mexican standoff = “Impasse mexicano”: aquela cena em que dois
personagens apontam suas respectivas pistolas um para a cabeça do outro. Além
desses convencionais e tradicionais, com armas, há outro – os verbais, com
palavras: dois ou mais personagens se aproximam do instante do xeque-mate na
base das tiradas. Às vezes não se inventa uma modalidade, mas faz-se dela um
uso tão virtuosístico que se torna uma marca registrada. E aqui está uma do
diretor do filme.
Basicamente, estamos
falando de personagens debatendo em grande parte num único ambiente, onde
emerge tensão, revelações, traições, novas perspectivas, enfim… Possui
incessantes diálogos e com um roteiro de grande virada. Feito em capítulos, o
filme passa boa parte se dedicando à apresentação de personagens para torná-los
imprevisíveis. Um destaque vai para a personagem que apanha praticamente o
filme todo sem jamais demonstrar qualquer traço de vulnerabilidade, nos fazendo
esperar que essa personalidade irá redesenhar novos meandros na história.
E outras mais belas ideias do
filme:
¶ Será essa reunião uma casualidade, ou é fruto de um ou mais
conluios? De diálogo em diálogo, e de morte em morte, ódios e rancores vêm à
tona, contas históricas ganham seu ajuste e outras permanecem, para entrarem na
contabilidade do presente.
¶ A vida na fronteira ou a fronteira da violência.
¶ Antes de disparar as armas, tiroteios verbais. Uma reunião nada
casual.
¶ A violência exuberante.
¶ Multiplique essa situação ao infinito.
¶ É com conversa e trocas astuciosas que se faz a sondagem dos
personagens.
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