Vale ressaltar que antes dos
europeus e dos africanos aqui chegarem, o “desconhecido Brasil” era habitado
por índios que tinham interessantes hábitos musicais. Em festas ou em rituais,
os primeiros povos faziam música. Particularmente, acho lindo o som da flauta,
do tambor e do chocalho. Mas, historicamente é pouco valorizado, porque a
música indígena só é lembrada nas datas comemorativas do folclore. Mas isso tem
uma razão de ser: nossos primeiros professores de música foram padres jesuítas
que trouxeram aqueles cantos catedráticos e carregados de apelação psicológica
para catequizar os índios e fazê-los fiéis. Foi imposta a musica instrumental,
harmônica e a literatura musical.
Não existe uma democratização
da música brasileira. Por mais eclética que ela seja, os meios de comunicação
de massa impõem determinados estilos musicais aos ouvintes. Internacionalmente
somos conhecidos como o país do samba, mas o samba e o funk do Rio de Janeiro
por influência da mídia carioca. É comum vê em certas emissoras de televisão o
lançamento de músicas subordinadas a temas de novelas ou empresários que pagam
programas de televisão para lançar modinhas de cantores, a fim de vender discos
e satisfazer os interesses das gravadoras. A música brasileira está subordinada
ao mercado.
A música africana aqui na
Bahia, por exemplo, foi absorvida pelo carnaval. Não no sentido de criticar
preconceitos, conscientizar as pessoas com letras educativas ou falar sobre
nossas raízes. O ritmo africano foi transformado em pretexto de ostentação
material e forte conotação sexual.
Há uma nítida separação entre
música dita “erudita” e música popular. Se for verdade a separação de classes
na música, entre um estilo dito refinado e outro de mau gosto, também é verdade
que a música brasileira ganhou uma conotação sexual muito grande. Somos
expostos a letras maliciosas que começam falando de decepções amorosas e
terminam induzindo ao sexo, às drogas, às bebedeiras e à violência.
Diante de tudo isso a respeito
do gosto musical, fica difícil acreditar nessa tal “independência brasileira”.
O próprio país ridiculariza seu povo ao submeter-lhe e impor-lhe ritmos e
letras anacrônicos. Como se não bastasse, ainda absorvemos o Rock e os estilos
internacionais distantes da nossa cultura. Vale lembrar que as óperas são de
origem italiana e francesa, o bolero é de origem espanhola, as valsas e polcas,
alemãs, e o jazz, norte americano. Mas, nem tudo está perdido. Muitas
comunidades de raízes ainda criam suas próprias músicas. Talvez o erro não
esteja em absorver algum estilo ou ritmo diferente, mas o acerto maior é usar a
música para expressar o que realmente é nosso.
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