Por Neilton Lima
Professor, pedagogo e especialista em psicopedagogia.
SKYPE: neipensador@hotmail.com
Máquinas: enfrentamento ou parceria?
Antigamente
nos preocupávamos em ter uma profissão no futuro, agora a preocupação é se essa
profissão terá mesmo futuro. Mas por que trocar pessoas por máquinas no
ambiente de trabalho? No mundo capitalista, representa economia, maior produção
e lucros exorbitantes. Primeiro porque evita pagar salários e direitos
trabalhistas; depois, não há o risco de greves, não tem feriados, não há pausa para almoço nem descanso, nem final de semana... O
trabalho é contínuo.
O que uma
máquina poderá fazer melhor que os humanos nas próximas duas décadas? Que tipo
de profissão é menos, pouco e mais ameaçada com a nova Revolução Tecnológica
dos computadores, robôs e dispositivos dotados de processamento digital? Trata-se
de uma reflexão sobre o futuro do seu trabalho, se é que você tem um. Após
substituir o trabalho braçal, na Revolução Industrial, as máquinas começam a
substituir o trabalho intelectual nos escritórios, na atual Revolução
Tecnológica. Destruição criadora?
Existem
profissões que não resistirão às novas tecnologias dos computadores, robôs e
dispositivos dotados de processamento digital, e estão condenadas a
desaparecer. Quais sobreviverão? As características comuns às profissões com
menor chance de desaparecer estão envolvidas com atividades que seres humanos
fazem melhor que qualquer máquina: criatividade,
habilidade social e capacidade de percepção e manipulação (negociar, persuadir e
cuidar). Aqui, a máquina (ainda) não
entra: são as três características humanas que os robôs não conseguem
reproduzir no trabalho (por enquanto).
Ou seja,
no campo da Inteligência Social, as máquinas ainda não têm a capacidade de
negociar, persuadir e cuidar, importante na coordenação de funcionários e no
contato cara a cara com o cliente. Então, estão a salvas as profissões do campo
das relações públicas e organizador de eventos. Porém, lavadores de pratos
correm alto risco de perder o emprego para robôs. Existem até aqueles de
companhia em forma de bichinho, como o Babyloid, que confortam idosos e
crianças doentes.
As
máquinas não têm a capacidade de
interpretar e improvisar. Elas
não têm imaginação nem sensações, nem criatividade, características do homem. Assim, profissões como a de
Designer de moda e outras do ramo, estão a salvo. Porém, auxiliares de justiça,
que pesquisam textos em busca de padrões, correm risco. Hoje, as máquinas já
conseguem fotografar o quadro real e o reproduz com pinceladas, no estilo do
autor original, como faz o robô e-David.
No campo
da percepção e manipulação, as máquinas
não têm a capacidade de adaptar movimentos e esforços, em atividades
aparentemente iguais, mas que jamais ocorrem duas vezes do mesmo jeito. Assim,
profissões como a de dentista, cirurgião e arqueólogo estão salvas. Já o
operador de telemarketing corre risco de extinção. Hoje, o SCHAFT, robô de
resgate em desenvolvimento pelo Google, sobe escadas dobráveis e abre portas.
Das 10 profissões que mais cresceram desde 2008, 08 envolvem programação de sistemas e formas criativas de aproveitar a torrente de informações disponível. As outras 02 são instrutor de zumba (uma dança) e personal trainer. A lista é coerente com as características humanas que as máquinas são menos capazes de superar: percepção e manipulação, inteligência social e criatividade. Quanto mais uma profissão requerer essas três características, menos exposta estará à automação – e menos sujeita a um possível esvaziamento de perspectivas. Vamos detalhar cada uma delas:
01. Percepção
e Manipulação: podem ser entendidas como versatilidade
e habilidade física. Robôs executam
com força, rapidez e precisão movimentos repetitivos, impossíveis ao
homem. Mas as máquinas se adaptam mal a ambientes sujeitos a mudanças. A dificuldade de adaptação das máquinas ficou conhecida
como paradoxo de Moravec – em referência a Hans Moravec, pesquisador de
robótica da Universidade Carnegie Mellon, nos Estados Unidos. É
comparativamente fácil fazer computadores exibir desempenho de um adulto em
testes de inteligência ou jogos de xadrez – e difícil ou impossível dar às
máquinas as habilidades de um bebê de 1 ano, em questões como percepção e mobilidade. O alto custo de superar o paradoxo permite vislumbrar longa
vida para profissões que exigem precisão
e maleabilidade, como dentistas,
cirurgiões, arqueólogos ou jardineiros.
02. Inteligência
Social: pode ser entendida como diplomacia, habilidade política, sensibilidade,
capacidade de formar laços de confiança,
empatia. É um truísmo, de tão verdadeiro: ninguém tem tanto calor humano quanto
os humanos. O futuro está garantido para coordenadores de equipes como
promotores de eventos, gerentes de hospedagem ou gestores de emergências.
Terapeutas e psicólogos, mais ainda.
03. Criatividade: essa sobreviverá ao avanço das máquinas em carreiras
artísticas, como design de moda. Um computador pode criar variações do que faz
sucesso, mas é incapaz de lançar
tendências. A moda é uma abstração
humana. A maior oportunidade do século está na simbiose entre a
criatividade humana e o poder de computação das máquinas.
Após
substituir o trabalho braçal, as máquinas avançam sobre as tarefas
intelectuais. Começou assim na época da Revolução Industrial, em que dezenas de
ocupações (físicas) foram varridas do mapa, para dar espaço a novas profissões.
Em vez de tecelões, operários; em vez de escribas, gráficos; em vez de
carroceiros, motoristas e motorneiros. Agora estamos diante da Revolução
Tecnológica e o seu impacto (das novas máquinas) no nosso trabalho intelectual.
Cerca de
47% das profissões correm risco. O poder de processamento de um supercomputador
dos anos 1990 está agora disponível em computadores pequenos, baratos,
versáteis e interconectados, como os smartphones. Incrivelmente capazes de
armazenar e interpretar informações, essas novas máquinas estão revolucionando
o ambiente de trabalho – e isso afeta diretamente seu emprego.
As
profissões mais ameaçadas estão nas áreas de logística, escritório e produção,
aquelas que envolvem tarefas intelectualmente repetitivas. Trocar profissionais
por máquinas no Brasil é, em tese, menos atraente do que nos Estados Unidos,
porque os salários são mais baixos. Mas o custo da automação está caindo tão
rapidamente que a tendência deverá se manifestar nos dois países quase ao mesmo
tempo.
Havia
quem pensasse que os robôs seriam incapazes de realizar tarefas complexas, como
dirigir. Só que esse pessimismo foi superado em 2005, quando Stanley, um carro
sem motorista da Universidade Stanford, venceu um desafio proposto pela Agência
de Projetos Avançados de Defesa dos Estados Unidos (Darpa). Desde 2009, o
Google desenvolve a tecnologia do Stanley em estradas abertas ao trânsito. Os
robôs já rodaram mais de 500.000 quilômetros, sem acidentes. O custo do sistema
de radares a laser, usado pelos carros, caiu de US$ 35 milhões para US$ 80 mil.
A consequência ou o resultado disso? Bem... Motoristas de ônibus escolares têm
89% de chance de ser substituídos por uma máquina, segundo a previsão atual.
Um
trabalhador com alto risco de substituição não perderá, necessariamente, o
emprego. Mas seu horizonte profissional será limitado. O salário tenderá a
subir menos, pressionado pela possibilidade de substituição por máquinas ou por
colegas de profissão recém-desempregados. Acabou-se o tempo em que um
profissional ficava de 20 a 30 anos na mesma carreira. Como muitas mudanças
acontecem mais rápido, os trabalhadores precisam se adaptar mais rapidamente. A
substituição do trabalho humano por ferramentas fez a humanidade evoluir desde
a Idade da Pedra. Vista de perto, porém, a evolução técnica não ocorre de
maneira harmônica e sincronizada. Vem acompanhada de crises, num ciclo de “destruição
criadora”. A estrutura econômica é incessantemente transformada de dentro para
fora, incessantemente destruindo a anterior e incessantemente criando outra
nova. Esse processo de destruição criadora é o elemento essencial do
capitalismo. Ou seja, nesse sistema, grandes saltos acompanham grandes crises.
Os mais vulneráveis são aqueles profissionais mais vulneráveis: mais baratos e
de menor qualificação.
O avanço
da computação nos Estados Unidos, nas últimas três décadas, já foi acompanhado
de aumento na desigualdade social. Os dados mais recentes do Departamento de
Receita americano mostram que a camada 1% mais rica da população acumulou 19,3%
da renda do país em 2012 – um recorde, num século de levantamento. Segundo a
Organização Internacional do Trabalho (OIT), a taxa de desemprego no mundo
crescerá 6,4% de 2013 a 2018, apesar da perspectiva de recuperação econômica
nos países ricos. Historicamente, o avanço tecnológico fechou portas e abriu
janelas. Num momento de transição, como agora, nem sempre é fácil identificar
onde essas janelas se abrem. Aliás, onde elas estão?
E todas
essas mudanças, pela experiência histórica, encontram resistências de muitos –
pois nunca se sabem, de antemão, os vencedores e perdedores de uma revolução. E
por falar em revolução, na Primeira Revolução Industrial, ouvia-se “imagine o
que sua invenção poderia fazer a meus pobres cidadãos? Sua máquina certamente
os levará à ruína, ao tirar o emprego, tornando-os mendigos”. De um lado, no
longo prazo, para começo da complexa sociedade inflada e tecnologicamente
desigual que temos hoje, sim, esse tipo de sociedade saiu ganhando: a
manufatura tornou os produtos acessíveis a um público maior, porque ficaram
mais baratos e porque a profissão de operário incluiu no mercado mais
consumidores. O aumento nas vendas criou demanda por atividades relacionadas,
como produção de matéria-prima e manutenção das linhas de produção, e
indiretamente relacionadas, como transporte e alimentação. Fez a economia
girar. A Revolução Industrial melhorou as condições de vida de tal forma que,
entre os anos 1700 e 1900, a população mundial cresceu de 680 mil habitantes
para 1,6 bilhão. A automação do trabalho intelectual será um salto comparável
ao da Revolução Industrial. A segunda
revolução das máquinas, a exemplo da primeira, trará possibilidades fantásticas
de melhoria na qualidade de vida – ao lado de incertezas, desemprego e, possivelmente,
concentração de renda.
Temendo-as
ou não, não podemos deixar de reconhecer que a automatização de atividades
mecânicas, repetitivas, certamente são realizadas pelas máquinas com uma
capacidade de desempenho melhor do que um ser humano, mais sujeito a falhas.
Vamos torcer que as profissões do futuro saibam usar o melhor das
características humanas e das máquinas. Que ambos se envolvam numa espécie de
parceria, não o enfrentamento, aquele cenário sombrio comum às distopias que
pintam um Universo dominado por robôs e computadores. São os futuros
empreendedores digitais, que aliam a criatividade à programação dos
computadores. Será o caso também da sua profissão?
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