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Ø Se eu sou um especialista, então minha especialidade é saber como não ser um especialista ou em saber como acho que especialistas devem ser utilizados. :)



“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

sábado, 1 de fevereiro de 2014

“República Federativa da Periferia do Brasil” – com “P” maiúsculo. Zôôôrra Total

Periferia... São pessoas com orgulho atrelado ao consumo. É formada pelas classes C, D e E – classe média e baixa. Universo de 155 milhões de pessoas (parcela que representa a maioria da população brasileira). Um contingente de pessoas que vem se consolidando como um gigantesco exército de consumidores. No ano passado (2013), eles gastaram, com produtos e serviços em geral, 1,27 trilhão de reais. Conforme levantamento do instituto Data Popular, só os jovens de classe C consumiram em 2013 algo em torno de 129 bilhões de reais, contra 80 bilhões das classes A e B e 19,9 bilhões da D. Como se calcula, tem um poder de compra que a poria no G20 do consumo mundial, ocupando a 16ª posição no ranking das nações que mais gastam (o Brasil está hoje na sétima posição). Estaria, dessa maneira, à frente, por exemplo, de Suíça e Holanda. E compram tanto porque, pela primeira vez, essas famílias conseguiram romper com a história de pobreza de seus antepassados. Nesse sentindo, estão deixando a miséria para trás e se inserindo na sociedade por meio do consumo: estão conseguindo gastar com supérfluos, como viajar de avião, ter um smartphone, etc. Ainda conforme o levantamento, a referência às viagens aéreas e aos telefones móveis conectados à internet ganha peso quando se analisam alguns dados recentes: 54% dos que tomaram um avião em 2013 pertenciam às classes C, D e E, que, por sua vez, têm em mãos 58% dos smartphones habilitados.
Durante décadas, houve pouca mobilidade social no Brasil. Pobre era pobre e classe média era classe média. Nos últimos anos, a ascensão social foi rapidíssima. Compreensível: entre 2002 e 2012, a renda familiar média dos 25% mais pobres cresceu 45%! (a dos 25% mais ricos subiu 13%). E os ricos, invejando ou debochando, tiveram que engolir o orgulho ferido de vê os pobres também tendo o direito de consumir. É aquele deboche feito no programa “Zorra Total” e em personagens de reviravolta nas novelas da Globo. O que aproxima os moradores das periferias brasileiras é a aspiração de ascender socialmente e ter acesso a bons serviços e a uma vida confortável. Desse desejo decorrem outras aproximações. A autoestima elevada e o orgulho mencionados antes (autoestima... Autoestima... Em cima, em cima!) estão por trás de um sentimento que se espalha e une diversas periferias: o apego às origens. Na verdade, o sonho de consumo do morador de bairros pobres se divide em três: ou morar onde vivem os integrantes das classes A e B (mudar para um local melhor) ou frequentar os lugares que eles frequentam (shopping centers, por exemplo) ou o orgulho de viver no subúrbio (agora com o crescimento econômico), mesmo que enriqueçam, não querem mais sair das periferias por uma questão de identidade cultural.
Muito dessa atitude de apego às origens está ancorado no empreendedorismo que, cada vez mais, se faz notar entre os integrantes das classes menos abastadas. De um total de 11,7 milhões de brasileiros que moram nas periferias, cerca de 20% se sustentam com a exploração de um pequeno negócio próprio. 47% dos empreendedores iniciaram a atual atividade há menos de 03 anos! Ou seja, tem o incentivo do governo aí. Os programas sociais e a distribuição de renda, acompanhados por maior escolaridade e oportunidades de educação, estão fazendo, aos poucos, as pessoas a saberem pescar. Estão se tornando empreendedores autônomos. Então podemos dizer que são duas coisas conjugadas: apoio do governo e esforços da população. Pois se lembrarmos das políticas sociais que tiraram 30 milhões de pessoas da pobreza entre 2003 e 2009 e do aumento real de quase 70% do salário mínimo entre 2003 e 2012. A maioria dos brasileiros situados nas classes mais baixas (87%) atribui a seus próprios esforços a melhora de sua vida, de acordo com o Data Popular. Melhora possível graças à mão governamental (Lula e Dilma) + trabalho + família + fé...
Os baixos valores de ganhos nunca deixaram de ser o fruto de uma má distribuição da renda. Apenas 5% dos brasileiros ganham um salário maior do que 4000 reais por mês e só 1% ganha acima de 11000 reais. Logo, seria equivocado identificar apenas 5% da população como classe média. No mundo, não é diferente. 54% da população mundial ganha menos do que a classe média brasileira.
Mas uma das conclusões mais importantes que se pode tirar daqui é o fato de que com isso tudo não se está querendo dizer que, diante de indicadores tão expressivos, a vida das classes menos favorecidas tenha alcançado padrões escandinavos. Em 2012, 3,2 milhões de domicílios das classes C, D e E não tinham água encanada; 9,2 milhões seguiam sem coleta de lixo e 19,4 milhões sem coleta de esgoto. Vive-se na periferia o paradoxo de ter um celular de última geração e ser obrigado a carregar uma lata d’água na cabeça. É a tal da diversidade (e também das diferenças) regionais. A periferia, com “P” maiúsculo, comporta distintas periferias, com “p” minúsculo. Na avaliação dos serviços públicos, numa nota de zero a 10, as classes C, D e E dão nota 4 para a segurança e a saúde; 4,5 para o transporte e 5 para a educação. E não imaginem total despreocupação política, mesmo a dos rolezinhos, pois ela reflete o pensamento das classes de menor poder aquisitivo: embora 54% de seus integrantes avaliem que o Brasil seria melhor sem partidos políticos, 81% consideram a política um assunto importante e 67% confiam que o voto pode mudar o país.
Ou seja, o debate não será mais tão focado no legado de cada partido, mas sim no que eles podem oferecer para o futuro. O jovem dessa classe emergente não está interessado no que Lula ou FHC fizeram; quer um político que melhore as condições de vida dele.


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