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“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Geografia das Relações Homoafetivas em Debate. Fatos e Versões: as contradições do pensamento e as Controvérsias Morais

Tema Nº 03: questão pessoal X social & ciência X religião. Cunho moral e político.

"O amor que é essencial, o sexo um acidente: pode ser igual, ou pode ser diferente!" 
 (Fernando Pessoa, poeta bissexual).

“Doença física”? “Comportamento desviante”? “Defeito de fabricação”? “Defeito de criação – ou seja, produto de lares com mães superprotetoras e pais ausentes e violentos”? “Pecado mortal?”, “Modismo?”, “Safadeza de gente promíscua?”. A homossexualidade nasce do mal? E por ser também má, deve ser combatida? Curada? Evitada? A homossexualidade é cercada de rótulos e preconceitos. Um assunto polêmico que se tornou uma questão inadiável para o debate, o estudo e a reflexão. 

De antemão, uma coisa é certa e não vale apenas para o tema da homossexualidade – a ignorância gera muitos males. As concepções erradas dão origem a reações pessoais, sociais, dogmática e muitas vezes se diz até políticas desastradas e desastrosas. Confiando não apenas num só tipo de conhecimento, mas em vários, inclusive o conhecimento científico, talvez possamos rever as nossas opiniões e posicionamentos, para evitar e combater preconceitos. 

O tema é extremamente polêmico porque defende, abertamente, o reconhecimento de novas relações amorosas e familiares, que contraria o padrão heteronormativo. O que moderniza hábitos e desafia a velha ordem, propondo a inovação do próprio sistema moral da sociedade, através de novidades comportamentais entre os gêneros. E não estamos falando apenas de uma luta sexual, a luta dos gays é muito mais que isso: é uma questão humanitária, de direitos civis e humanos. Um manifesto poderoso sobre direitos iguais e o direito à diferença. 

E também por tratar-se de direitos, o Brasil está um passo atrás, comparado a países como Dinamarca, Argentina, Bélgica, Holanda e Canadá. No nosso país, a união civil é reconhecida, mas ela não estende aos casais gays todos os direitos desfrutados pelos heterossexuais. Para os defensores da igualdade, contamos em mais de 70 o número de direitos negados aos casais gays. “Entre eles, é negado o direito de visitar o companheiro na UTI, por exemplo”. 

E depois dizem que existe muito gay enrustido por aí. Acontece que a Justiça também está dentro do armário. O Estado deveria legislar mais sobre os direitos coletivos das pessoas, e intrometer menos na vida individual e na vontade livre delas. Isso também vale para os juízes, pois muitos, arbitrariamente, fundamentados em convicções religiosas ou opiniões pessoais, nega um direito para o cidadão. E isso tudo porque não existe uma definição legal por parte da Justiça. E todo esse problema de arbitrariedade, alimentado por interesses, caprichos, mau humor e preconceitos, nasce da ausência de uma lei que proteja os vínculos homoafetivos. Reconheceu-se a união estável e a civil nos cartórios, porém não existe a Lei. Embora teoricamente se diga que vivemos num Estado laico, a bancada de políticos religiosos dentro do Congresso desmente, na prática, essa teoria. O que é um absurdo! Se é tão polêmico o casamento entre pessoas do mesmo sexo, deveria ser polêmico também o casamente entre política e religião dentro do Congresso Nacional. Gente eleita para defender os direitos iguais dos cidadãos, transforma o espaço público e democrático em cultos e celebrações de fé (para isso existem as igrejas, pois o Congresso é a casa laica do povo). E esse tipo de casamento é escancarado dentro do jogo politiqueiro do Congresso brasileiro, emperrando nossa sociedade e nossa democracia de avançar, principalmente para as minorias excluídas desse país. A própria Justiça é injusta e cai na contradição, pois ela já esperou demais e tarda de se assumir. Essa indecisão colabora para um clima homofóbico no país, conivente com o preconceito e a violência pelos quais homossexuais vem enfrentando a tempos. Justiça, saia do armário! 

Casamentos são celebrações do direito de união afetiva com parceiros de nossa livre escolha. A legalização da união estável entre indivíduos do mesmo sexo visa regulamentar os direitos civis dos homossexuais no Brasil. O que é um avanço, porque desde o século XVIII, os casamentos já foram: 
a) Obrigações sociais; 
b) Alianças sociais e políticas entre famílias; 
c) Meios de salvação da alma; 
d) Garantias de renda; 
e) Mecanismos para a manutenção da espécie. 

Numa sociedade civilizada e desenvolvida, a união deve ser legal em função do afeto nela presente. Qualquer tipo de união é legítima se for fruto do afeto. Seja por adoção, seja por inseminação artificial e uso de barrigas de aluguel ou ainda pela produção genética entre duas mulheres, o que importa é que novas famílias estão se constituindo a partir das relações homossexuais. São legítimas quando carregadas de afeto e precisam ser protegidas por lei. 

A homossexualidade, assim como muitos outros temas, pode ser abordada a partir de muitas visões e versões. A depender de qual delas se parta, teremos sua condenação, aprovação ou indecisão. Consenso, dissenso ou reconciliação. Qual é o jogo e quem vai ditar as suas regras? Em que campo de discussão será colocado o tema para o debate? No campo da religião? Na área da ciência e da Biologia? Na visão do senso comum? Na ótica da mídia e da imprensa? 

A importância de ter distinguido o senso comum, da visão religiosa e do pensamento científico na primeira aula, bem como ter situado a Geografia no time das ideias à qual ela pertence, o time das ciências sociais, fica agora mais claramente definido o caminho de abordagem dos variados temas, como, por exemplo, o da relação homoafetiva. Atualmente, esse tema inunda a agenda pública e procura sensibilizar a agenda política e social. É fato para várias versões: a da mídia, do mercado consumidor, da opinião pública, dos dogmas religiosos e do campo jurídico. Foi parte do combustível que inflou a onda de manifestações no Brasil, ganhou pouca visibilidade na vindo do Papa Francisco agora em julho no Brasil (embora as manifestações tenham ocorrido, mas relegadas ao campo do anonimato) e causa grande polêmica nos países em que os movimentos gays lutam por maior visibilidade social e igualdade de direitos, sobretudo nas regiões mais tensas do planeta: o continente africano e a região do Oriente Médio, com ondas de protestos na França, nos Estados Unidos da América e aqui mesmo no Brasil. 

Historicamente, a sexualidade tem sido condicionada por padrões morais mais ou menos arbitrários, suportados por determinações de caráter religioso ou por argumentos médicos, arrastando a opinião pública para o preconceito, estereótipos, discriminações, violência e a crueldade da homofobia. Pois então fizemos uma “geografia da homossexualidade” para compreendê-la melhor. A agenda da aula abordou diversos pontos, como a discriminação, a polêmica sobre as causas congênitas ou adquiridas da homossexualidade, a reflexão biológica, psicológica e social do tema e as versões de cunho religioso. Mas o foco foi na visibilidade do movimento gay e sua luta por direitos civis, políticos e sociais, como o casamento. 

Um movimento gay agressivo não poderia gerar uma animosidade numa sociedade que ainda está dividida sobre o assunto. A violência não é admissível. A violência, como na maioria das vezes acontece, só atrapalha a causa. O confronto apenas no terreno das ideias e dos atos pacíficos pode acabar vencendo pelo próprio exemplo de tolerância e fazendo a sociedade avançar na lutar contra a homofobia. E é nessa alternativa que a maior parte do movimento gay brasileiro aposta. É preciso vir a público e tratar essas questões afetivas, homossexuais e heterossexuais com naturalidade, como de fato elas são. 

“Há um longo debate pela frente, a ser travado com setores amplos da sociedade. Um dos riscos dessa discussão é combater discriminação com mais discriminação – no caso, dos setores religiosos, o que seria desastroso num país que se orgulha da extrema tolerância nesse campo. Os brasileiros só têm a ganhar com um debate maduro sobre um tema tão importante. Um debate que, como nos Estados Unidos, mobilize a população e aqueles que ela escolheu como seus representantes. Será útil se candidatos a deputado, senador, governador e presidente se posicionarem claramente sobre o assunto na campanha eleitoral de 2014. Que tenham a honestidade do presidente americano Barack Obama e que se inspirem na coragem da cantora Daniela Mercury – que, com seu gesto, colocou o assunto irreversivelmente na pauta política”. 

Podemos então destacar os seguintes pontos, fazendo um debate racional do tema com serenidade: 
1º. A predisposição biológica e a influência psicossocial; 
2º. A homossexualidade na história; 
3º. A luta por direitos civis; 
 4º. A homofobia; 
5º. Redes sociais, mídia e imprensa nacional e internacional... Como estampam a questão para a opinião pública? 
6º. Ponto: Militantes do casamento homossexual no Brasil x Bancada religiosa do Congresso x População Católica e Evangélica no Brasil. 

Sexo é apenas sinônimo de procriação ou também é prazer? Para a corrente judaico-cristã, é apenas para procriar, enquanto a maioria das pessoas o entende também como prazer. O aspecto da procriação não é essencial para a legitimidade de um ato sexual, isto é, que uma relação sexual que seja estéril por natureza (como são as relações homossexuais) é legítima por si só. Por um lado, é preciso procurar entender cada povo com sua cultura e suas crenças. 

Por outro lado, defender os direitos humanos universais e evitar a dor e o sofrimento. Na Grécia: características pedagógicas: um homem mais velho iniciava um garoto mais jovem, prática aceita socialmente até a puberdade do garoto (se ele não fosse “paquerado” por um homem mais velho, o garoto era uma vergonha para a família). Entre os Romanos também encontramos essa prática, só que com outras características: a relação só era legítima entre senhor e escravo. 

As manifestações homofóbicas, no geral, demonstram uma relação com pobreza (e não só material como também espiritual). A ignorância alimenta o preconceito. As pessoas fundamentalistas, intolerantes, superficiais ou pouco conhecedoras da lei, da ciência e do direito civil são mais intolerantes. Dois exemplos categóricos podem ser dados. Casais de homossexuais que vivem em bairros de classe média ou alta, com bons cargos e boa situação de vida é menos alvo de manifestações homofóbicas exacerbadas do que casais homossexuais que vivem na periferia ou em bairros que o grau de instrução é menor. No mundo, o melhor lugar para ser gay é no continente europeu. E o pior? Na África e no Oriente Médio, mas também nos subúrbios, guetos, periferias e naquelas famílias tradicionais e manipuladas pelo senso comum ou dogmas religiosos fechados ao significado da homossexualidade. Extinguir a homofobia e legalizar os homossexuais na sociedade são atos imperativos para a garantia da qualidade de vida de toda uma geração que está por vir. Temos de minar a homofobia agora, não só pelo movimento LGBT em si, mas para que as novas gerações não precisem viver marginalizadas e clandestinas dentro da sociedade. Os recentes debates – mesmo que 20 anos atrasados – sobre o assunto são frutíferos e necessários para o amadurecimento de toda a sociedade brasileira. Espera-se que seus resultados sejam racionais, tolerantes, imparciais e objetivos – como toda verdadeira Ética deve ser. 

“No Brasil, o STF reconheceu a união estável gay em 2011. A partir de então, parceiros do mesmo sexo numa relação contínua e duradoura, com o objetivo principal de constituir família, podem receber herança em caso de morte de um dos dois, receber pensão alimentícia, optar pela comunhão parcial de bens, e também adotar crianças. Parte dos cartórios dos estados brasileiros (Alagoas, Bahia, Espírito Santo, Rondônia, Distrito Federal, Ceará, Sergipe, Minas Gerais, Santa Catarina, Paraíba, Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo) já fazem o casamento civil homossexual, o que põe os casais juridicamente um degrau acima do status de união estável. 

No caso do nosso estado, a Bahia, a permissão do casamento gay passou a valer no dia 26 de novembro de 2012 e tem caráter Estadual. Tanto os cartórios de Salvador como os da cidade do interior poderão casar gays que os procurem para tal. A permissão foi assinada pela desembargadora Ivete Caldas, corregedora- geral da Justiça, e pelo desembargador Antônio Pessoa Cardoso, corregedor das comarcas do interior do Estado. Segundo a desembargadora, a medida apenas institui um direito que diversos juízes baianos já vinham aplicando. 

Cerca de 400 casais gays brasileiros conseguiram a certidão de matrimônio desde o “sim” do STF. Esse número só tende a crescer. Assim, casais gays não precisam mais buscar um juiz para se casarem, bastando manifestar seu desejo de se casar no cartório. Caso um cartório negue a celebração de um casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, o oficial de cartório poderá sofrer sanções administrativas. A medida da Justiça tira a dúvida do cartório ao dizer que ele pode (e deve) habilitar o casal gay para o casamento civil da mesma forma que o faz para o heterossexual. Agora se espera que a medida se estenda para todo o Brasil. E uma lei é bem vinda ao caso. 

O preconceito faz parte do domínio da crença por ter base irracional. Preconceitos não dizem respeito ao conhecimento – não usam de raciocínios, argumentos e evidências lógicas para se fundamentarem. Preconceitos não são justificáveis. Principalmente quando acompanhados de altas dosagens de violência, intolerância e discriminação. Discriminar alguém com base em sua orientação sexual é promover tratamento desigual – geralmente inferiorizando-o. E promover tratamento desigual é crime no Brasil. 

A aula definiu e defendeu alguns princípios: o enfrentamento e o combate à homofobia; o Estado Laico (não impor a convicção religiosa como lei para toda a sociedade, respeitando o direito que todas as religiões têm de se expressar, porém sem impor do ponto de vista legal a sua crença ou dogma como lei ou regra social). Podemos concluir com uma ressalva importante: o fato de o movimento gay lutar pelo direito de suas uniões existirem, não tira o direito de o casamento convencional heterossexual nem o ameaça à extinção. Não se luta para derrubar um direito de permanecer, mas para ganhar outro direito que é o de existir.

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