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Ø Se eu sou um especialista, então minha especialidade é saber como não ser um especialista ou em saber como acho que especialistas devem ser utilizados. :)



“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

sexta-feira, 30 de março de 2012

É POSSÍVEL SER LIVRE?


A liberdade implica coragem. A coragem de viver, porque existir dói. Ser livre é valorizar a experiência como sabedoria e gostar do novo. 
Por Neilton Lima
Professor, pedagogo e psicopedagogo.
Liberdade, fevereiro 6, 2009 por Daniel Lafayette. Disponível em http://ultralafa.wordpress.com/2009/02/06/liberdade/

O que está e o que não está em nosso poder? Até onde vai a nossa liberdade? Ela só depende de nós mesmos ou está completamente fora de nós? Nesse texto, vamos encará-la como uma responsabilidade nossa. A liberdade é uma força interior do sujeito que o impulsiona a viver nas várias adversidades do caminho. Parece ser algo pendular entre os fracassos e as vitórias, ou seja, a própria dinâmica de lutar que se realiza como um meio, meio esse sujeito a dores e delícias! A liberdade é a condição da nossa humanidade e tudo o quanto a implica.
Vamos tomar o problema da liberdade analisando essa tirinha encontrada na internet. Na primeira cena, estamos diante do acaso, contrário à liberdade. O novo indivíduo, antes de vir ao mundo, não escolheu que ele tivesse aquele corpo e que fosse parar ali na contingência daquela rua suja e entregue à própria sorte. Não escolhemos onde, como, quando e na companhia de quem nascemos. E é por isso que não há espaço para a liberdade na dimensão da necessidade, pois é negada a condição de escolha do sujeito.
Com base ainda na primeira cena, e tomando toda a tirinha, poderíamos supor que uma vontade sobrenatural tivesse selado o destino dessa criaturinha. Sem que saibamos como e nem por que, mas apenas acreditando e tendo fé, alguma força divinizada a fez parar ali. Assim, também não encontramos espaço para a liberdade no campo da fatalidade. Novamente, é privada ao indivíduo a capacidade de escolher e definir o seu próprio destino, pois uma força misteriosa já o teria selado.
Poderíamos supor que o ovo foi parar ali por forças da natureza. Esta tem leis próprias e necessárias que, por motivação própria, exigiu vida e, portanto nascimento, a esse ser. Ora, se a natureza é o todo da realidade, existente em si e por si, que age sem nós e nos insere em sua rede de causas e efeitos, condições e conseqüências, então nada poderemos fazer senão obedecer as leis naturais a partir das quais poderíamos ser dissecados? Então estariam determinados nossos pensamentos, sentimentos, ações e toda a vida, tornando a liberdade ilusória. Logo, não haveria liberdade no campo do determinismo.
Observemos ainda no todo da tirinha que o ovo com seu novo indivíduo vai parar numa rua escura e poluída. Existem construções, lixo e esgoto lançados ali provavelmente por outros indivíduos que chegaram antes dele. Quando chegou nesse mundo, esse indivíduo já o encontrou assim, definido com regras e normas, problemas e conflitos que não foram escolhidos por ele. Portanto, em que medida há liberdade no campo da cultura?
Vamos olhar agora na terceira e última cenas. O novo ser, ao se espantar diante do mundo que encontrou ao nascer, decide retornar ao ovo. Há covardia em sua atitude, pois decide não encarar a realidade externa que encontrou com seus problemas, limitações e desafios. Parece mais seguro o lugar de onde nasceu, que agora não é simplesmente mais a casca de um ovo, mas sua própria prisão, aparentemente segura, escura e isolada. Não há liberdade quando se tem medo dela. Parece que o verdadeiro campo medíocre em que sua ausência é mais sentida e notada é no comodismo, na inércia resignada do próprio sujeito frouxo diante da vida.
A liberdade é uma luta constante. Mas uma luta contra quem? A resposta depende de onde partiram as “correntes” ou as amarras. Se, por exemplo, elas vierem de terceiros, então temos que lutar contra o próximo, nosso dominador. Mas se elas são o nosso medo de um passo além, então temos que lutar contra nós mesmos! Se for dada pelo mundo, então lute contra esse mundo.
O nosso personagem tomou consciência do mundo e de si. Mas a surpresa maior – e o que parece ter sido mais arrebatador – foi a consciência de si nesse mundo e a descoberta de que ele mesmo é senhor da sua direção. E agora? Ir adiante ou preferir voltar para o lugar de onde nunca deveria ter saído? Na situação do nosso amiguinho, que também é a nossa situação, não basta saber nem só querer ir adiante, mas de ter o poder de fazer, de saber a direção, de sustentar a escolha para que ela se torne algo concreto. É a liberdade como possibilidade objetiva!
A respeito da tirinha e do debate sobre a liberdade do seu personagem, ainda resta uma observação. Não é na solidão de uma vontade individual que podemos ser livres, mas sim na companhia dos outros que podemos enfrentar o mundo. Logo, somos livres não contra o mundo, mas no mundo. Isto é, não somos livres apesar do mundo, mas graças a ele. Somente tendo contato com o mundo, conhecendo seus limites e suas aberturas para os possíveis é que poderemos exercer nossa liberdade na criação de um mundo novo. E isso é feito na companhia dos outros.
Então, a liberdade existe! E está nas nossas liberações, nas intervenções diárias que fazemos no curso da vida, nas decisões racionais e nos resultados obtidos. A segunda cena da tirinha isoladamente é a mais interessante para mim, pois parece ser o momento em que o sujeito se afirma. A casca do ovo com a qual rompe não é sinônimo apenas de uma jaula, mas também uma ruptura com o preconceito, o conformismo e a inércia. É uma consciência e uma vontade de viver. Ou seja:
ü      O que mais importa não é saber o que fizeram de nós e sim o que fazemos com que quiseram fazer conosco (Sartre). Assim, a liberdade é um ato ou vários atos de decisões e escolhas entre vários possíveis. Não podemos nada nem podemos tudo, impotentes ou feito um poderio incondicional, mas podemos algo: agir. Nossas escolhas estão condicionadas pelas circunstâncias naturais, psíquicas, culturais e históricas em que vivemos, chamadas de totalidade natural e cultural em que estamos situados e sobre as quais devemos lidar;
ü      Liberdade é ação. É a consciência simultânea das circunstâncias existentes e das ações que, suscitadas por tais circunstâncias, nos permitem ultrapassá-las, dando-lhe outro rumo e um novo sentido, que não teriam sem a nossa ação. É abrir um futuro para muitos outros, mudando o curso do presente, que parecia ser inevitável.
A liberdade precisa ser ética. Não basta apenas saber o caminho a seguir, é preciso segui-lo com responsabilidade. Quantas vezes nossa razão e nossa inteligência não nos dizem para onde ir, mas preferimos ouvir nossa vontade e seguir a direção contrária? Uma liberdade ética implica a harmonia entre a direção apontada por nossa consciência e o exercício da nossa vontade. Daqui nascem as leis. Elas servem para lembrar à nossa vontade que nem tudo podemos para o nosso próprio bem. Portanto, não é uma mera coação vinda de fora, mas a própria liberdade se auto-afirmando de forma sistemática. Ser livre também é seguir e alterar as leis que nós mesmos nos instituímos. E a lei maior é eliminar a violência na relação com o outro, mantendo a fidelidade a nós mesmos, a coerência de nossa vida e a inteireza de nosso caráter. Avante criaturinha, saia desse ovo que “ele não mais te pertence”!


4 comentários:

  1. Olá Nelson, gostei do seu blog, eu estou cursando pedagogia e tenho interese na área psicopedagógica.

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    1. Olá Daivid! Muito grato. Seja bem-vindo cara. Pode deixar contato para trocarmos ideias e experiências. Abraço!

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    2. Oi me fala um pouco de sua experiência, em que modalidade educacional você atua?

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