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“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

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domingo, 17 de março de 2024

A nova dinâmica da velha política.

 

A economia ainda importa, estúpido, mas só ela não basta!

A polarização odiosa distorce a consciência política.

A economia é sempre o principal fator que define as eleições e a popularidade de chefes de governo? Não!

Boa economia não é mais sinônimo de alta popularidade. Apesar da economia ainda desempenhar papel fundamental, há outro fator que se sobrepôs à seara econômica no rol de temas que forjam a opinião pública.

Embora haja melhoria de índices (inflação controlada (abaixo de 5%), desemprego em menor patamar desde 2014 (em 7,4%), PIB crescendo (2,9%) acima do previsto pelo mercado), a aprovação de um governo pode despencar. Os números ilustram como bons indicadores na economia nem sempre se convertem a curto prazo em impacto real para a população. Mas, por quê? Por causa do descompasso entre dados e a percepção da população. E quem faz a balbúrdia são: a polarização política consolidada, valores morais e a pauta identitária, da qual a incessante guerra cultural nas redes sociais é a face bélica e diária. Logo, o que determina a aprovação é um misto de economia, segurança, pauta de costumes.

Isso significa que não é mais suficiente apenas a economia para gerar resultados políticos. É preciso disputar narrativas, compreender a guerra cultural num mundo de redes sociais e de formação de bolhas. Além do mais, essa pauta ganha força quando pesa ainda a demora para dados econômicos despontarem como algo palpável para a população. Uma coisa são os indicadores oficiais, outra é a percepção da opinião pública. A percepção às vezes demora a chegar. A economia pode estar melhorando, mas talvez a população ainda não tenha sentido isso no bolso.  

Essa nova lógica evidencia uma opinião pública “calcificada”, isto é, a sociedade está dividida, com cada lado convicto do que acredita e fechado a ouvir o outro. Isso só mostra o quanto a sociedade brasileira sempre foi conservadora, e continua sendo. Ou seja, quando o debate era só econômico, a esquerda conseguia superá-lo pelas entregas voltadas para o bem-estar social. Agora com as redes sociais, isso deixa de ser o único determinante e entra a pauta de valores. O governo tem que debater  temas não necessariamente favoráveis a ele na opinião pública, como o aborto e a "estranheza" das relações homoafetivas e suas consequências jurídicas e culturais, por exemplo.

Para piorar, a frente ampla formada para derrotar Bolsonaro e em defesa da Democracia produziu políticos do Centrão ou de legendas fora da esquerda, que hoje ocupam o primeiro escalão do Planalto e hoje optam por palanques adversários nas eleições municipais. Isso deixa Lula de calça-justa, pois alianças com bolsonaristas deveriam ser descartadas. Esses ministros que se opõem ao PT nas campanhas a prefeito, como o Celso Sabino (Ministro do Turismo, União Brasil), o André de Paula (Ministro da Pesca, do PSD) e o Jader Filho (Ministro das Cidades, MDB) são uma “bola dividida”. 

A oposição bolsonarista é distinta daquela a que os governos anteriores de Lula estavam acostumados, o que configura um desafio. O bolsonarismo navega em águas que lhes são convenientes, sobretudo na pauta de valores. Além de problematizar e polarizar frases de Lula, ainda há as fake news, o debate sobre aborto, drogas e inflação. Isto é, precisamos sair de tópicos isolados e ver o processo. Quando retomam a capacidade de pautar a oposição e de se mobilizar, isso não encontra resposta. A existência de uma oposição dura é algo com que o governo precisa aprender a lidar.

Como analogia, veja, por exemplo, a vitória de Donal Trump nas primárias. Isso acende um alerta brasileiro, pois ela é analógica e coincidente. O governo de Joe Biden reduziu a inflação de 9,1% para 3,1% em pouco mais de um ano. O desemprego também está abaixo de 4%. E, mesmo assim, a candidatura do republicano decolou depois de surfar nas pautas da extrema direita global, com chances reais de sair vencedora. Nos EUA, a extrema direita ganhou mais experiência na primeira edição e agora na reprise vai tentar corrigir os erros que a derrotou. Aqui no Brasil não será diferente.

Enfim, a lógica de que políticas públicas vão naturalmente se converter em melhora na popularidade não se sustenta mais. O bolsonarismo disputa a cretinice de forma profissional na base da sociedade. Além da economia, a disputa de narrativas pesa. Isso só mostra que a política no Brasil virou esporte de contato, e só tem um lado que está dando carrinho, indo para a dividida, disputando a jogada.

São grandes as pedras no caminho: a dificuldade de lidar com um Congresso conservador, uma oposição mais ferrenha, a mídia mais ardilosa, a fragmentação da esquerda e seu ódio contagiante e a percepção distorcida e manipulada das pessoas. Junta tudo e fica muito desgastante. O governo vai ter que lidar com tudo isso para cumprir o que prometeu, atender expectativas, colher resultados, proteger a democracia e evitar novas figuras tarcísicas e micheques como a do inelegível.

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