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Ø Se eu sou um especialista, então minha especialidade é saber como não ser um especialista ou em saber como acho que especialistas devem ser utilizados. :)



“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

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terça-feira, 15 de agosto de 2023

Chores por mim, Argentina!

“A Argentina contratou empréstimos de US$ 44 bilhões (cerca de R$ 220 bilhões) com o FMI, e vem tendo dificuldade de pagá-lo. O país vem sofrendo a pior seca em quase um século, o que trouxe impactos negativos para o setor agropecuário, sua principal fonte de divisas”. 

Então, que tal fechar o Banco Central e ser párea nas negociações com o FMI? Que tal um plano de trocar o peso argentino pelo dólar americano para reduzir a inflação (que está em 113%)?

É isso mesmo, Argentina? 

Vocês querem uma expressão visceral para resolver (mentira) seus problemas?

O que significa um ultradireitista no poder?

Significa agressivo discurso antipolítica, com fechamento do Banco Central, além de diversos ministérios (como o da Saúde, da Educação e do Desenvolvimento Social), livre porte de armas, venda de órgãos, juros e dívidas altas, legalização das drogas (ou o livre comércio, inclusive o de produtos proibidos por lei), defesa do casamento entre pessoas do mesmo sexo, populistas, utilização das redes sociais como principal ferramenta eleitoral, movimentação da juventude, duras críticas ao sistema político vigente (para que exercer uma diplomacia presidencial?), defesa da família, da propriedade privada, do livre mercado ou do controle cambial pelo Estado, a libertinagem de expressão, o legítimo direito à defesa, a megalomania de ser grande à altura do território nacional, agressivo nas propostas de redução da intervenção estatal e a dolarização da economia (forte discurso de se vender como um libertário no sentido de liberalização econômica). Não fica de fora o radicalismo religioso no sentido de um messianismo político casado com o neoliberalismo econômico avançado e travestido de incertezas do plano econômico (vimos muito isso aqui – ajuste econômico desordenado e grande crise social) e uma redução significativa nos gastos do governo. Na agenda de costumes utiliza dos temas ligados à moral para impulsionar a sua ação política. Há ainda uma ode à baixa participação dos eleitores, que acrescenta uma camada extra de incerteza em direção às eleições. Ou seja, quanto pior melhor para uma forte crise político-institucional, com o comando do Mercado e uma forte aliança com governos conservadores, isolado ou sem agenda externa, isto é, excêntrico. 

Tem mais: é personalista ao extremo, defende a dolarização radical e corte drástico de servidores. Outsider e egocêntrico. É fundado no hermetismo, personalismo e na egolatria. Busca estratégia no caos. Líderes ultradireitistas podem ser comparados com episódios climáticos extremos: tsunami, furacão, tempestade e terremoto. Como a extrema direita é o lado mais predador e conservador do capitalismo selvagem suas ideias são vendidas como libertárias (livre mercado, Estado enxuto ou sua redução drástica e uma economia totalmente aberta, corte no funcionalismo, entre outras). Ou seja, se vende como aquele que melhor compreendeu os problemas do país. Desejam colocar o país na lista dos maiores com liberdade econômica do mundo! Para isso, as reformas que devem passar pelo Congresso são fundamentais, drásticas e profundas (tributária, trabalhista, previdenciária, política e do Estado). 

Pronto, uma guinada para um terreno desconhecido! Todo o resto se dedicará a comentar essas ideias absurdas, surfando no descontentamento da inflação. Ao fazer o eleitor se cansar da política, força-o a votar num emergente diferente a tudo que já se viu. Sua principal fortaleza é saber interpretar o momento histórico: “representar a ira dos eleitores zangados”. Se dará certo ou não como presidente é outra história. Está garantido o voto de revolta I.

Primeiro você lança na sociedade um acervo de dilemas da humanidade, aquelas polêmicas de difíceis saídas. Daí, você faz propostas em cima delas, ganhando repercussão social. E não precisa ser as melhores do ponto de vista dos Direitos Humanos, mas oportunas. Feito isso, demoniza-se a oposição, isto é, desconecta os setores da sociedade da disposição de ouvir qualquer coisa que venha dela. A polêmica como arma política, pois torna o candidato famoso (da pior forma).

Como? Que tal afirmando, entre outras coisas: "queimar o Banco Central vai acabar com a inflação". Ou, "a venda de órgãos pode ser mais um mercado promissor". Ou ainda, "os políticos devem levar um chute na bunda". Não obstante, essa: "para mim, meus pais, estão mortos!" E quando se vai olhar a história do indivíduo... Inibido em casa, famoso por ser revoltado na escola, um louco por causa dos desabafos, não fala de namorados/as e afirma comunicar por telepatia com um cachorro morto, todas essas coisas... Com tantos disparates, quando houver uma denúncia de corrupção será quase nada na rotina dos absurdos. É a tática do pêndulo entre o conservador e o libertário. Enfim, histriônico, desalinhado, mas ao mesmo tempo muito cuidadoso com a imagem. Essa é a receita do Hitler.

Outra bomba é inserir uma forte disputa interna na oposição, que perderá muito tempo tentando resolvê-la enquanto a extrema direita constrói uma conexão emocional com eleitores. Isto é, muita agitação e pouca racionalidade. Instintos à flor da pele!

Em outras palavras, um Donald Trump nos EUA ou um Javier Milei na Argentina ou um Jair Bolsonaro no Brasil são consequências do discurso antipolítica e da frustração coletiva com as soluções institucionais, levando uma massa disforme de eleitores a se identificar nas propostas simplistas e exóticas, cuja ineficácia é visível, mas que apelam ao sentimento popular. Gente assim é um augúrio na integração regional, com paralisia no Mercosul, um retrocesso!

Medo, desespero e cansaço! Pense num país com uma alta taxa de pobreza, um grande aumento no desemprego e/ou informalidade e uma verborragia violenta... Ora, tudo isso deixa a temperatura mais alta numa panela de pressão. A agitação social pode atingir níveis tão altos que, uma população completamente cansada, estaria disposta a tentar uma entidade completamente nova, com visões mais extremas. E como se vende esse peixe podre? Com um bom comunicado ou promessa social: “Acolhemos com satisfação as recentes ações políticas das autoridades e o compromisso com o futuro para salvaguardar a estabilidade, reconstruir as reservas e melhorar a ordem fiscal”.

Ele acha que deve ser o centro de tudo, o que faz parte de sua personalidade, que não é fácil. Uma pessoa instável, que se irrita facilmente, e com dificuldade de tolerar críticas. O candidato de extrema direita costuma manter todos os que colaboram direta ou indiretamente com sua campanha nas sombras. Os escândalos internos durante a campanha podem ter repercussão na mídia, mas não afetarão seu desempenho eleitoral. Para a grande maioria de seus eleitores o que importa é a palavra dele. Está garantido o voto de revolta II.

Um antissistema às avessas.

- Integra um fenômeno global de líderes, com digital antissistema. Observe um Volodymyr Zelensky (presidente da Ucrânia) ou o Movimento 5 Estrelas (da Itália), Marine Le Pen (na França), Gabriel Boric (no Chile), Jair Bolsonaro (aqui no Brasil), Donald Trump (nos EUA) e o Milei (na Argentina). O que muda entre eles é o crachá, mas a digital antissistema é a mesma. Por quê? Porque eles agem para: 

- Cativar os precarizados contra a "elite" (no nível do discurso). Ou seja, toma a revolta contra os revoltados; "O que eu quero é o seu sentimento de revolta (mas, a meu favor)". 

- Manobrar os precarizados. Capaz de interpretar os sentimentos e desejos dos mais “precarizados”, uma categoria ampla e transversal (vai desde os que fazem entregas de bicicleta, colegas de profissão que viraram freelancers, até pessoas com doutorado que não encontram uma carreira segura com plano de saúde, são pessoas sem perspectiva, que vivem cada vez pior em todos os sentidos, e que não se trata apenas de economia, mas também de autoestima).

- Tem capacidade de contagiar para fora...

- Que tal um comício (com as pessoas todas de preto) no estilo show de rock?

- Que tal trilhar um caminho mais histriônico e contundente? Utiliza sua aparência física e age de maneira indevidamente sedutora ou provocante para chamar a atenção dos outros. Com frequência age de forma submissa para reter a atenção dos outros.

- Um ultradireitista é um buraco negro que se alimenta da existência do sistema político. Quando você luta contra uma figura antissistema é difícil, porque ela se alimenta de você mesmo. Aqui no Brasil, Bolsonaro tinhas as igrejas evangélicas, as Forças Armadas, a “família”. 

·       E que tal dividir eleitores entre o medo e o “tudo ou nada” contra políticos? “Nada a perder” e “medo” dominam debate eleitoral. O desespero pragmático leva eleitores atormentados a pensarem assim...

Eleitor, você não tem medo de votar no candidato de extrema dirieta, Javier Milei, nas eleições presidenciais deste ano?

Tudo ou nada. “Medo de que? Não tenho proteção nenhuma do Estado, nem férias, nem décimo terceiro. Sofro a violência na rua todos os dias, já roubaram minha bicicleta duas vezes. Tenho medo é de continuar assim e de que nada mude. O que mais pode piorar para pessoas comeu eu? Reconheço as contradições dele, mas é a única alternativa possível para todos os que não acreditam mais nos partidos tradicionais. Se teremos mais ou menos ministérios não me interessa, o importante é que sejam eficientes”.

Medo e fuga. “Pela primeira vez pensei em até sair do país. Temo uma eventual vitória de Milei e que ele leve o país a um cenário de muita violência, pelo estilo, propostas de governo e discursos inflamados do candidato. Além de não compartilhar sua ideologia, que considero difícil de ser implementada na Argentina, acho que um líder deve ter, acima de tudo, equilíbrio emocional e sensibilidade social, e ele não tem. Seu discurso é de ódio. Enfim, o medo é de que tudo continue igual”.

Desequilíbrio emocional. “O voto por Milei é um voto castigo à política tradicional, em momentos em que a inflação sufoca, entre outros dramas sociais e econômicos. Mas, essa revolta social não terá mais consequências graves para o país? Milei gera violência e agressividade. Se for eleito, isso vai refletir que o povo, como ele, tem um desequilíbrio emocional”.

Nada a perder. “Se nada deu certo até agora, por que não dar uma chance a um economista que tem uma proposta concreta, a dolarização da economia? O problema é a desilusão com sucessivos governos, e a sensação de que ninguém se importa com o país”.

Paralisia e a incapacidade de analisar e julgar criticamente. Nossos problemas são a fome, a inflação e a cada vez pior qualidade de vida das pessoas. Se ele quiser destruir tudo para reconstruir melhor de novo, que o faça. Se fizer uma eventual ruptura de relações com a China, saída da Argentina do Mercosul ou eliminação de ministérios como Meio Ambiente, Educação e Saúde, enfim, uma redução do Estado? Que faça!

Polarização e ataques. “Como enfrentar um fenômeno eleitoral inédito na História do país? Insistir na estratégia do medo? Adotar posições mais duras e desafiar Milei a um debate? Ele é um perigo para a democracia, pois propõe dissolver a sociedade. Mostrar-se como uma opção de mudança viável? A aplicação de um forte ajuste?

Enfim, está dado o perigo do espaço vazio aberto pelo descontentamento da população contra o governo e as forças tradicionais da política – quebra o sistema político. A tática é acabar com o que se tem e construir algo novo. Prometem como sendo o novo-normal. Mas, o quê?  Um ultradireitista no poder!

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