Quando um professor
passa a controlar a turma com gritarias e ofensas ou quando ele já não consegue
mais dar conta das situações cotidianas e muito menos das imprevistas, duas
coisas são previsíveis: ou ele já está doente ou ele é inexperiente e caminha
para um quadro patológico. Quem encontra respostas adequadas aos dilemas da
profissão consegue manter-se equilibrado e alcançar sucesso. Quem não encontra
pode ter um fim trágico. Ou seja, a dificuldade de relacionamento dentro da
escola e com todos os seus membros ainda é a “disciplina” das mais difíceis.
As maiores causas de
afastamento da sala de aula são: estresse,
dores musculares e síndrome do esgotamento. Mas, podemos
adicionar aí os casos de depressão, problemas com sobrecarga ou frustração,
mal-estar e tensão, exaustão física e emocional (Síndrome de Burnout),
descontentamento e angústia. O trabalho deve ser fonte de realização e prazer,
mas pode causar sofrimento e enfermidade. A consequência é o número crescente
de faltas, de pedidos de licenças médicas, etc. que eleva o custo anual para o
Governo (que poderia estar usando o dinheiro para construir, mobiliar e equipar
as escolas) para cuidar das enfermidades dos professores. Um ensino de qualidade
não comprometeria a saúde dos profissionais da educação. As doenças de quem
leciona tornam enfermo o sistema de ensino.
A falta não pode
virar a única estratégia para lidar com as questões de saúde. Mas é importante
que o direito de estudar acompanhe o direito de ter condições para oferecer uma
boa aula. Entender o que causa as doenças ou o que contribui para que elas se
manifestem requer olhar para a sociedade, para o sistema educacional como um
todo e para a relação com o trabalho. Essa epidemia deve ser combatida com
soluções urgentes: secretarias devem criar programas de prevenção, escolas
devem reorganizar processos e educadores devem buscar formas criativas de
enfrentar as dificuldades do dia a dia, gestão democrática e participativa,
formação, organização do tempo, trabalho em equipe, relacionamento com os
alunos, infraestrutura, currículo e valorização social.
É preciso contribuir
para o bem-estar e o desempenho do profissional, ao mesmo tempo em que favorecer
um impacto positivo na qualidade da Educação. Precisamos tornar o dia a dia
dentro da escola menos desgastante para todos, para isso, o poder deve ser
usado para minimizar as angústias do docente diante das adversidades.
Eis algumas dicas
para sentir-se bem na profissão:
- aulas mais bem
preparadas têm impacto no desempenho da turma e, por consequência, na
satisfação profissional;
- às vezes é preciso
diminuir as aulas e aumentar o lazer;
- ser menos
mecanizado e mais criativo na escola;
- a formação inicial
é tão importante quanto a formação continuada;
- formar grupos de
estudos para também discutir e refletir as questões do dia a dia na escola a
fim de acabar com que faz sofrer;
- a queixa deve se
transformar em alternativas para enfrentar as adversidades. Só reclamar leva a
mais mal-estar;
- o ambiente escolar
pode ter espaço para o choro e as queixas que aliviam a tensão cotidiana, desde
que isso se torne algo positivo;
- a escola precisa
discutir princípios de forma sistemática para que os alunos entendam o porquê
das regras – a autoridade nasce do respeito e do conhecimento;
- não se acabar
diante de um ambiente sem condições acústicas, de iluminação, de temperatura e
ventilação. Diante das adversidades, usar a criatividade para superar os obstáculos,
sem sacrificar a própria saúde;
- criar políticas
para reduzir os riscos para alunos e professores, pensando em saúde e Educação
de forma articulada;
- ter clareza sobre
o que ensinar é condição para que os docentes executem bem sua função em
classe;
- com a certeza de
ter as condições necessárias para desempenhar bem sua função, o educador sofre
menos;
- ter a
tranquilidade de ensinar, sabendo exatamente onde pisar;
- satisfação vem com
prestígio, garantir a formação de qualidade e o justo reconhecimento do que
faz; pois a progressiva desqualificação e o não-reconhecimento social
potencializam o sofrimento dos docentes;
- quando se fala em
valorização social, o sentido não deve ser apenas retórico, o que inclui
homenagens e discursos em favor do Magistério. A valorização tem de ser real.
Profissional reconhecido é aquele que dispõe de boas condições de exercer sua
função no dia a dia, salário compatível com o que se espera dele e políticas
públicas que cuidam de sua formação e sua saúde.
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