Frases ambíguas
A gente não deve fazer nenhum esforço para encontrar lógica onde ela não existe. O campo da lógica não flerta com a literatura, com a imaginação, com o figurado ou a fantasia. “Se chamarmos ‘perna’ a um rabo, quantas pernas tem um cachorro? Cinco? Não. Chamar ‘perna’ a um rabo não transforma o rabo numa perna”.
Podemos ter problemas, perder tempo e, em geral, irritarmo-nos mutuamente, graças a mal-entendidos. Pode-se cometer a falta ou o excesso em uma frase.
Ou seja, pode não haver uma forma clara de compreender uma frase (vagueza), como também haver mais de uma forma clara de compreendê-la (ambiguidade), sem que tenhamos a certeza de qual dos sentidos se tem em mente. Em qualquer dos casos se compromete a afirmação.
Enfim, podemos tolerar alguma vagueza; mas nunca devemos tolerar ambiguidade na argumentação. E nem aceitar conclusões que não são razoáveis, usando frases ambíguas como premissas para persuadir a nossas opiniões ou preconceitos.
Exemplo 1: “Deveria ter um banco neste jardim”. (Uma
instituição financeira ou um assento?).
Exemplo 2: “Dizer que ter uma arma em casa é estar à espera de um acidente é como dizer que as pessoas que fazem seguros de vida estão à espera de morrer. Devemos ter o direito de nos proteger”. (O autor deste argumento está jogando com dois modos de compreender o termo “proteção”: proteção em termos de segurança física e proteção financeira).
Uma afirmação tem de ter apenas um valor de verdade e não dois. Diante da vagueza ou da multiplicidade de sentidos, é sempre razoável e habitualmente prudente pedir às pessoas com quem estamos argumentando que sejam suficientemente claras para que possamos concordar sobre o que está em discussão.
Os métodos gerais para tornar claro o que estamos dizendo são os seguintes:
1.
Substituir uma frase ambígua por outra que não seja vaga nem
ambígua;
2.
Usar uma definição para tornar precisa uma palavra ou expressão
específicas;
3.
Apresentar uma descrição ou explicação para esclarecer o enunciado;
4. Às vezes, podemos inferir a definição correta a partir do contexto (embora, é sempre bom ser explícito).
Porém, é bom lembrar, uma resposta pode ser intencionalmente evasiva para evitar responder ao que não se deseja responder. Assim como, as definições não são afirmações. Acrescentamo-las a um argumento para podermos nos entender melhor. As definições não são premissas. Também é verdade que discussões argumentativas não são baseadas em definições tendenciosas ou persuasivas. Por exemplo: se uma pessoa definir aborto como o assassínio de crianças antes do nascimento, estará tornando impossível uma discussão racional sobre a questão de saber se o aborto será um assassínio e se um feto será uma pessoa. Ou seja, uma definição persuasiva não é uma definição – é uma afirmação disfarçada de definição.
Definições e “definições persuasivas”.
Para obtermos uma boa definição, as palavras que estamos definindo e as palavras que definem devem ser inter-substituíveis: devemos poder usar as primeiras exatamente quando podemos usar as segundas.
Veja exemplos:
·
O conhecimento é
crença justificada verdadeira. Definição
filosófica. Repare que esta definição declara que “conhecimento” e “crença justificada
verdadeira” são uma e a mesma coisa.
· Amizade: um navio suficientemente grande para transportar duas pessoas quando o tempo está bom, mas só uma quando estala a tempestade (Ambrose Bierce). Definição persuasiva. No contexto do livro, é uma afirmação irônica.
Enfim, as definições,
mesmo as mais consagradas, não são inapeláveis ou definitivas: definições
melhores podem ser propostas, e isso ajuda a avançar o conhecimento humano.
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