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Ø Se eu sou um especialista, então minha especialidade é saber como não ser um especialista ou em saber como acho que especialistas devem ser utilizados. :)



“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

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terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Razões que me levaram à luta.

 Quais foram as razões principais que me colocaram nos caminhos desse tipo de luta, acreditando nos seres humanos de todas as raças e na educação? Quais foram algumas das razões? Talvez um forte desejo de amor? Talvez crenças religiosas? Talvez minha claridade política, minhas ideias filosóficas? Como é que me tornei o que sou? Quais foram os meios pelos quais me tornei o que sou e os muitos meios que usei para reinventar a vida através das minhas experiências? O que acontece quando tento me entender e entender a minha maneira de agir, de lutar?

- uma combinação do interesse que meus pais tinham em educação e suas crenças religiosas não opressoras. Na igreja (cristã) e em alguns de seus cursos (de jovens, de formação) havia valores envolvidos, valores educacionais, valores éticos, valores religiosos, valores sociais – não explícitos, mas presentes.

- a pobreza e a necessidade de trabalhar podem ter boas e más consequências. Algumas pessoas ficam secas e sentem que não há esperança. Porém, fui educado construtivamente por aquela experiência. Embora não nos sentíssemos pobres de espírito, passávamos privações. Nós passávamos privações, exceto ondo pudéssemos descobrir uma forma de “roer o braço” do sistema um pouquinho. Essa privação não era tanto uma privação de espírito e sim a de não ter uma dieta apropriada, de não poder comprar livros ou ter roupas para ir a eventos sociais. Por isso tínhamos que viver para nós mesmos, o que não era tão ruim assim. Minhas simpatias sempre foram voltadas para fora.

- usei muito a minha imaginação na infância para brincar de liberdade e ser gigantes e outras coisas incríveis.

- sentia e sofria com a pobreza. Padecia diante da vida e da morte. Isso me fez extremamente sensível e forte para lutar.

- o desejo de escapar da pobreza que me ressecava e a vontade de ser livre. Esperança, alguma coisa, futuro.

- Não foi fácil para mim. Mas, aprendi muito com as dificuldades (e só sabemos o que significa ter fome quando não temos a possibilidade de comer, quando não vemos como solucionar o problema de estar com fome). Na infância, tive problemas relacionados com não comer o suficiente, e minha família também sofreu muito. Quando criança, também tive alguns problemas para entender o que eu estava estudando na escola primária. Enfim, uma infância partilhada em meus dias com meninos e meninas que pertenciam à minha situação social e que pertenciam à classe trabalhadora. Desde aquela época, embora eu não pudesse entender as razões verdadeiras, comecei a achar que alguma coisa estava errada. Isso foi o começo do meu compromisso como educador lutando contra a injustiça. Talvez possa localizar esse começo em minha infância, porque foi ali que comecei a aprender que era importante lutar contra essas coisas. Eu não sabia lutar como luto hoje, e ainda estou aprendendo, mas comecei a ficar aberto para esse tipo de aprendizado quando era criança.

- situações sofridas que vivi e presenciei que acabaram por me fazer compreender a crueldade do sistema que arruinou aquilo que poderia ter sido uma vida maravilhosa. Isso contribuiu, de alguma forma, para minha determinação de tentar fazer algo sobre a situação;

- Não se contentar com algo individual. Acho que o que me feriu e desferiu foi coletivo. Até que eu possa começar a pensar em termos de como se pode lidar com mais de uma pessoa ao mesmo tempo numa base individual, não estarei dando uma resposta para aquele sentimento que tive.

- Presenciar situações adultas e sociais injustas. Por exemplo, o presidente ou dono de algo ser muito reacionário, tão reacionário a ponto de fazer maldades. Aí ele tem atitudes que não só te machucam fisicamente, mas viola valores e esforços ocultos em você, como a bondade, a ingenuidade, seu esforço, seu trabalho, sua honestidade. E então quer controlar sua vida, seu destino, seu trabalho, seu tempo de brincadeira, suas horas de ocupação, explorar, e nada retribuir em troca a não ser mais abusos. Bem, tendo vindo da classe trabalhadora, minha vontade era de arrancar essas pessoas de seus postos e dar-lhes uma surra! O que diziam e faziam era muito cruel e ofensivo! Isso também teve uma boa influência sobre mim; realmente me afetou, com relação às minhas ideias sobre o sistema econômico;

- Eu tinha essa sensação de que não eram indivíduos maus que causavam a pobreza e a injustiça; só que eu não colocava a sensação em algum tipo de contexto. Não sabia nada de Sociologia. Não sabia nada sobre Marx. Não tinha meios de analisar a coisa.

- Aí veio um passo importante, a faculdade. Terminei, mas não foi o suficiente. Ainda estava lutando com essa questão de problemas sociais contra problemas individuais e moralidade individual x moralidade social. Como valores poderiam fazer parte do sistema e como eles eram sempre rejeitados pelo sistema como se fosse uma doença infecciosa.

- A ideia/necessidade de conseguir um emprego ensinando em um colégio. Eu estava presumindo que haveria meios de trabalhar dentro do sistema.

- O estalo, a descoberta da maneira marxista de analisar, uma forma sociológica de olhar as coisas, isso me deu algumas categorias para pensar. Antes eu não tinha nenhum tipo de estrutura. Tinha a sensibilidade correta, mas não tinha meios de dar nome a nada. Foi aí que descobri que era absolutamente necessário entender a natureza da sociedade. Se eu fosse muda-la, se fosse tentar fazer alguma coisa sobre o assunto, tinha que entendê-la. Isso foi o começo de uma compreensão totalmente nova.

- descoberta e alguma rebeldia sobre essas instituições (família, universidade, escola, igreja, prefeitura...), sem exceção, de que não levava a pessoa, o aluno esforçado, muito a sério ou em consideração. Tentativa de dominação e submissão, com programas enlatados jogados em cima das pessoas (religiosos, vocacionais, de encaixe). E nada de educação que fosse relacionada às próprias pessoas. Nenhum desses programas abordava questões econômicas e sociais. Aí foi quando eu disse: “Não vou tentar me enquadrar nessa situação. Vou tentar descobrir uma maneira melhor de fazer as coisas”.

- Todas essas contradições que eu via tinham que ser solucionadas. Acho que, mais importante do que a maneira como eu agi para solucioná-las, foi o sentimento que tinha se tornado parte de mim, o sentimento de que eu tinha que fazer algo sobre injustiça. Eu estava começando a obter minhas satisfações pessoais do fato de estar lidando, de alguma maneira, com essa situação político-econômica. Para mim, era dali que eu tirava minha alegria, onde obtinha meu entusiasmo, onde me sentia recompensado. Então, não estava me matando de fome de jeito algum. Eu me alimentava o tempo todo. Meus interesses pessoais estavam sendo servidos.

- Eu ficava incrivelmente entusiasmado e revigorado ao aprender coisas novas. Às vezes, aprendia alguma coisa e não podia dormir de noite, ficava muito excitado com aquilo que tinha aprendido. Para mim, isso era muita alegria, muito sentimento de realização.

- Eu tinha meu próprio sistema que me dava recompensa (não tive necessidade de estar no centro do outro sistema para obter reconhecimento). Eu estava ló, mas era no meu sistema, não no sistema do qual os outros estavam falando. Para mim seria um grande sacrifício ter que me render ao sistema. Isso sim seria um sacrifício, não fazer o que estou fazendo.

- Hoje, acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas.

- Por fim, tive demasiado prazer, demasiada diversão fazendo o que fiz para receber crédito por isso.

Enfim, não serão as pessoas, mas a história que decidirá se eu fiz ou não alguma coisa que valha a pena. E é possível fazer mais. Não aceito ficar imóvel porque não acho que terminou. Sinto aquilo que é da própria natureza do ser humano – isto é, inacabado, constantemente buscando algo. Afinal, quanto a gente termina, a gente morreu. E ainda não terminei... 

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