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Ø Se eu sou um especialista, então minha especialidade é saber como não ser um especialista ou em saber como acho que especialistas devem ser utilizados. :)



“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

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segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Educação e mudança social.

 

A educação é política, mas a política é educacional? Onde é que a educação se encaixa na luta política? Lutar no interior do sistema ou fora dele? Se você trabalhar fora do sistema você pode influenciá-lo? Se você lutar dentro do sistema você consegue transformá-lo? Que tipo de contribuição quer se dá ao sistema escolar?

Reformas internas no sistema apenas reforçam o sistema ou são cooptadas por ele. Os reformadores não mudam o sistema, apenas o faz mais aprazível, justificando-o, o faz mais humano, mais inteligente. A intimidade do sistema escolar é tão burocratizada que às vezes nos desesperamos; isto é, depois de dois, três, quatro, dez anos de trabalho, ainda não vemos resultados finais de nossos esforços e começamos a não acreditar mais.

Apesar de falarem que, o trabalho fora do sistema não pode influenciá-lo, tanto que, trabalhadores com educação não são reconhecidos sequer como educadores pelos que estão no sistema formal (são taxados de “agitadores” ou “propagandistas” ou “comunistas” ou “anarquistas”), porque um educador, por definição, é alguém dentro do sistema escolar. Isso significaria acreditar que a palavra educação não inclui aprendizado fora da escola. Todavia, há uma grande vantagem em ousar trabalhar fora do sistema. Grupos envolvidos na mudança social é política.

Bom destacar que o sistema a que se refere é o grande sistema produtivo, o sistema político, o sistema estrutural. O sistema educacional (escolar, escolarização) aqui só seria um subsistema desse maior (o sistema social). É por isso que dizemos que a instituição é dedicada a perpetuar um sistema e eles estão servindo a uma instituição. Apesar disso, essas pessoas têm influência.

Trabalhar fora do sistema implica ser completamente livre. Livre para fazer o que julgar ser a coisa certa a fazer em termos de metas que estabelecemos para nós mesmos e para as pessoas para quem trabalhamos. Mas, é preciso ter a coragem de experimentar. Experimentar maneiras de fazer educação social sem se moldar a nada. Isto é, ninguém irá dizer o que fazer. Podemos fazer nossos próprios erros, inventar nosso próprio processo. E tudo sem depender da aceitação deles.

E isso também é educação. “Educação experimental”! Você pode, por exemplo, criar as Escolas da Cidadania e/ou trabalhar com grupos de comunidades de base ou com os sindicatos. Espaços extraordinários (políticos, culturais, educacionais) dentro do sistema. É claro, temos muito espaço fora do sistema escolar, muito mais espaço para trabalhar, para tomar decisões, para escolher. Temos mais espaço fora do sistema, mas podemos também criar espaço dentro do subsistema, ou seja, do sistema escolar, a fim de ocupar um espaço. Politicamente, todas as vezes que pudermos ocupar alguma posição dentro do subsistema, devemos fazê-lo. Mas, tanto quanto possível, devemos tentar estabelecer bons relacionamentos com a experiência das pessoas fora do sistema, para ajudar àquilo que estamos tentando fazer internamente. Mesmo reconhecendo que fora do sistema escolar há mais espaço, acho que é necessário inventar meios de trabalhar junto com eles ou até trabalhar dentro do sistema. Não é fácil! Aliás, nada fica fácil, seja sua fé ou seu conhecimento ou sua história, quando você passa a pensar sobre as circunstâncias políticas e sociais em que se insere. Ao fazer isso, descobrimos a necessidade de mudar o país, e adquirimos uma nova consciência – uma consciência histórica e política da realidade.

Hoje, há uma outra percepção que emerge no processo da luta, que é a percepção do direito que os trabalhadores e as trabalhadoras têm de expressar seu sofrimento. O direito de expressar a dor é um direito fantástico. E não só individualmente, mas também socialmente. Temos o direito de dizer que estamos sofrendo; temos o direito de expressar nossa dor. Quantos trabalhadores podem chorar sua perda? Entretanto, é claro, antes de tudo temos que obter o direito de comer. É claro, temos que obter o direito de dormir, de viver em uma casa, e ainda estamos muito distantes disso no Brasil. Mas temos que conseguir mais e mais espaço para direitos como esse. Temos que ter o direito de comandar nossa educação, a educação que precisamos, e também temos que obter o direito de expressar nosso sofrimento, porque, veja, os trabalhadores sofrem. Eles lutam para sobreviver. E em um determinado momento, então, você tem a necessidade de expressar esse direito, de viver esse direito. Os trabalhadores estão começando a lutar, a lutar para conseguir sua educação, para tomar parte dela em suas próprias mãos. E tudo isso tem a ver com a criação no Brasil de um partido dos trabalhadores (PT – Partido dos Trabalhadores) com liderança dos trabalhadores e a presença de muitos intelectuais.

O trabalho crítico com educação, seja dentro ou fora do sistema, é taxado de subversão, desobediência, e duramente perseguido. O sistema em geral descobriu maneiras de exilar as duas formas de educação. Na América Latina eles exilam fisicamente, empurrando com as armas. Nos EUA o exílio toma outra forma, congelando suas ideias ou fechando suas portas. O sistema também tem sua vaidade como tática de cooptação, que também é um momento tático da luta, faz parte dela. Prêmios. Reconhecimento. Fama. Afinal, é impossível que o poder exista sem tentar cooptar o outro lado, o lado que ainda não tem poder. Será que estamos ficando demasiado “legítimos”? Será que isso significa que nossas ideias, nosso trabalho, não são mais alternativos? Será que o sucesso significa que não somos mais subversivos o bastante?

É difícil fazer história, mas é importante aprender que nós estamos sendo feitos pela história que fazemos no processo social dentro da história. A escola é uma instituição social e histórica, e ao ser uma instituição social e histórica, a escola pode ser mudada. As coisas podem ser ensinadas dentro da história, não antes do tempo, mas em tempo, no tempo. Há tempo para todas essas coisas. Não sou ingenuamente otimista, idealista, mas sou, sim, criticamente otimista, com o processo de aprendizado que uma grande parte da classe trabalhadora demonstra hoje no Brasil. Estamos à vista de um processo. A transformação radical da sociedade é um processo, realmente, e ela vem como tal.

Enfim, a labuta revolucionária com a educação implica trabalhar com indivíduos e os ajudar, mais ou menos, a subverterem o sistema. O ideal é lutar contra esse sistema ocupando as duas frentes, a frente interna ao sistema escolar e a externa a esse mesmo sistema. A mudança é dentro e fora.

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