“Vendo os grandes não lhes ser
possível resistir ao povo, começam a emprestar prestígio a um dentre eles e o
fazem príncipe para poderem, sob sua sombra, dar expansão ao seu apetite; o
povo também, vendo não poder resistir aos poderosos, volta a estima a um
cidadão e o faz príncipe para estar defendido com a autoridade do mesmo” (Maquiavel).
Governo civil é aquele no qual o
governante chega ao poder pelo favor dos seus concidadãos. Para isso, depende
da “astúcia afortunada”, isto é, da conquista do apoio da opinião popular ou da
aristocracia/nobreza dos grandes, dos poderosos que dispõem de riqueza e
prestígio, mas não têm o exercício direto do mando do Estado.
Nessas Repúblicas, se podem encontrar
esses dois partidos antagônicos: nobres que estão sempre em busca de
transformar seu poder potencial em comando efetivo; e o povo, sempre a evitar a
opressão dos poderosos. O governo é sempre constituído pelo povo ou pelos
grandes, num processo dialético de disputa e equilíbrio.
Quem chega ao poder com a ajuda dos
ricos tem mais dificuldade para manter-se (pois são conscientes de sua força e
se entendem como iguais ao governante e quer oprimir, sendo difícil impor seu
estilo de governo, devendo o governante ganhar a amizade e proteção dessa gente)
do que quem é apoiado pelo povo (governa por si só, há pouca contestação,
deseja evitar a opressão). Os poderosos contrariados ou com propósitos
definidos e objetivos ambiciosos conspiram, desertam, fazem oposição ativa,
mudam de partido, em qualquer disputa ficam do lado daquele que prenuncia como
vencedor (eles pensam mais em si, por isso são inimigos, porque na adversidade
ajudarão a arruinar o governante). Ou uma parte desses nobres se submetem
(devem ser respeitados e estimados) ou ficam independentes (são bons
conselheiros).
Ora, quem se torna príncipe pelo favor
do povo deve preservar sua amizade, evitando a opressão. Aliás, como garantir a
afeição popular? Ou perguntado de outra forma, qual a fórmula do marketing do
poder? Sendo um príncipe corajoso, que comande a massa
e se prepare para a adversidade e, com suas medidas entusiasme a multidão.
Quem se assegura nisso, nunca se decepcionará com o povo e terá seu poder
alicerçado em bases firmes.
Assim, governante nesse nível jamais
abre mão de sua autoridade. Quem manda é ele, não por imposição, mas pela
confiança e pela motivação voluntária do povo. E isso é importante para que o
povo possa obedecer nos momentos difíceis, já que na adversidade poucos são
solidários. De outro modo, o povo já está ganho, pois os cidadãos, quando
precisam do Estado, todos juram fidelidade, se dizem dispostos a morrer pelo governante,
isso quando a morte está longe.
“Por isso, o príncipe prudente
procurará os meios pelos quais seus súditos necessitem sempre do seu governo,
em todas as circunstâncias possíveis, e fará assim com que eles lhe sejam sempre
fiéis” (Maquiavel).
Enfim, o maior mal que um povo hostil
pode fazer ao seu líder é abandoná-lo. E o maior bem, elegê-lo e abraçá-lo. Ou não é
isso que vemos acontecer com o Lula?