A
“escola das incertezas” está relacionada à integração
económica supranacional, marcada por um crescente
predomínio da lógica financeira na esfera da economia, também se traduz
num processo de concentração do poder económico num
reduzido número de grandes empresas de âmbito multinacional:
das 100 maiores economias do mundo, cerca de metade são empresas multinacionais;
70% do comércio mundial estão sob o controlo de 500 empresas; e metade do
investimento estrangeiro é iniciativa de apenas 1% das empresas multinacionais.
Este vasto
processo de transformação, vulgarmente designado por “globalização”
ou “mundialização”, pode ser assim sintetizado
(uma verificação em que as análises da economia, da sociologia e da ciência
política se convergem):
- uma
progressiva liberalização dos mercados, traduzida na liberalização das divisas
e dos movimentos de capitais, independentemente das fronteiras nacionais;
- uma submissão
das políticas estatais à racionalidade de uma economia capitalista
mundializada, com repercussões diretas na compressão das despesas públicas, na
privatização de serviços coletivos, na redução das proteções sociais e na
desregulação do mercado de trabalho;
- O progressivo
apagamento do papel do Estado Nacional, face à emergência de modos de governo que
transcendem as fronteiras nacionais, é hoje um fenómeno observável a olho nu;
- A progressiva
desterritorialização da economia num contexto mundializado alterou
profundamente esta situação: retirou aos Estados Nacionais a capacidade de
controlarem os fluxos no interior das suas fronteiras e com os espaços
exteriores e reduziu a sua ação a um estatuto cada vez mais marginal, o que não
significa, necessariamente, pouco importante. A sua missão fundamental passou a
consistir em assegurar a melhor integração possível da sua sociedade no quadro
mundial, ou seja, em contribuir para a concretização de uma “sociedade mundo”,
a que corresponde um “mercado mundial, único e auto-regulado”;
- Existe um
golpe, um jogo, em que se defende a democracia (no sentido de liberação de
mercados), mas enfraquece a crença na política, cada vez mais desmoralizada.
- O “declínio”
ou o “fim” do Estado Nacional consagra uma mutação com consequências importantes
no plano da actividade política. O declínio do Estado
Nacional aparece associado ao “paradoxo da democracia”: ao mesmo tempo
que o regime democrático supostamente se expande no mundo ou é objeto de uma
tentativa de sistemática “exportação”, assim cresce a desilusão quanto ao regime de democracia — “Na maioria dos países ocidentais os níveis
de confiança nos políticos têm vindo a decrescer nos anos recentes”.
- o poder
político nacional tem de responder perante duas instâncias distintas, por um
lado, o seu eleitorado nacional, por
outro lado, o mercado internacional de
capitais: pouco inclinado a revelar aos seus eleitores o “vergonhoso
segredo” da sua impotência para decidir sobre as
políticas económicas do seu país, os governos precisam de conseguir, de uma
forma ou de outra, extrair do processo democrático
políticas conformes à vontade geral dos mercados.
- o discurso
sobre a soberania nacional pode coexistir com, e servir, um processo de
liberalização e
de integração económica supranacional;
- Os novos
tempos marcam uma
tendência de desmantelamento dos Estados
de Bem-Estar, com consequências ao nível dos processos de ruptura
do laço social que estão no cerne da designada “exclusão social”. As transformações no mundo do trabalho
(desemprego estrutural de massas e precarização dos vínculos laborais) fazem evoluir sociedades baseadas no pleno emprego para
sociedades “doentes” do trabalho. As contradições entre os que têm
emprego e os que estão subempregados ou excluídos do mercado de trabalho configuram
modalidades de dualização social que estão associadas a uma crescente
incapacidade reivindicativa por parte dos assalariados e a uma crescente
fraqueza das instâncias sindicais. Num mundo marcado pela
transnacionalização do capital e pela fragmentação dos trabalhadores, os sindicatos
tradicionais dificilmente encontram um lugar. A dualização social que decorre
das alterações no mundo do trabalho é complementada por processos de dualização
social decorrentes d “espacialização” dos problemas sociais, expressos nas
sociedades ricas por verdadeiros fenómenos de segregação social e de criação de
ghettos. A “metamorfose” da questão social aparece, assim, ligada a um fenómeno
não desconhecido que marcou a primeira fase da modernidade e que corresponde ao regresso da “vulnerabilidade de massa”;
- A
caracterização dessas transformações têm implicações importantes no campo da
educação:
A) Está em causa
a criação de uma nova ordem que altera e torna obsoletos os sistemas educativos
concebidos num quadro estritamente nacional.
B) As suas
missões de reprodução de uma cultura e de uma força de trabalho nacionais
deixam de fazer sentido numa perspectiva globalizada.
C) A finalidade
de construir uma coesão nacional cede, progressivamente, o lugar à subordinação das políticas educativas a critérios de natureza
económica (aumento da produtividade e da
competitividade) no quadro de um mercado único.
D) a passagem de
um paradigma da qualificação para um paradigma da competência – a passagem de
um regime de definição clara de
qualificações sancionadas por um diploma escolar que corresponde a posições
estatutárias precisas para um regime mais fluido de competências definidas em
contexto de trabalho – representa uma “erosão
da centralidade da escola no monopólio legítimo da certificação de
conhecimentos”.
- Esta crise do
mundo do trabalho é concomitante, quer com a capacidade para aumentar globalmente o volume de riqueza
produzida, quer com o crescimento, a
todos os níveis, de desigualdades que alimentam novos tipos de conflitualidade
social. “A
desigualdade cada vez mais acentuada é o mais grave dos problemas que a
comunidade internacional tem de enfrentar”: no quadro de uma “aldeia global”, vivemos
um processo de “pilhagem global”. É hoje evidente que “a iniquidade da distribuição
da riqueza mundial se agravou nas duas últimas décadas”.
Do ponto de vista económico, acelerou-se o processo de integração supranacional como fenómeno de âmbito mundial no qual se integra a construção da União Europeia. O reforço e autonomia do capital financeiro são concomitantes com a deslocação dos centros de poder para os grandes grupos económicos internacionais e para órgãos de regulação supranacionais (Banco Mundial, FMI, OCDE, etc.), o que implica um declínio, em princípio irreversível, dos “velhos” Estados Nacionais, que permanecem, contudo, como um dos referentes principais da identidade e da missão histórica da escola, enquanto instituição.
Do ponto de vista económico, acelerou-se o processo de integração supranacional como fenómeno de âmbito mundial no qual se integra a construção da União Europeia. O reforço e autonomia do capital financeiro são concomitantes com a deslocação dos centros de poder para os grandes grupos económicos internacionais e para órgãos de regulação supranacionais (Banco Mundial, FMI, OCDE, etc.), o que implica um declínio, em princípio irreversível, dos “velhos” Estados Nacionais, que permanecem, contudo, como um dos referentes principais da identidade e da missão histórica da escola, enquanto instituição.
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