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São Francisco do Conde, Bahia, Brazil
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"Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber" (Art. 205 da Constituição de 1988).

Ø Se eu sou um especialista, então minha especialidade é saber como não ser um especialista ou em saber como acho que especialistas devem ser utilizados. :)



“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

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sábado, 5 de julho de 2025

O Príncipe de Maquiavel.

 

Não existe política segura. Todos os caminhos são duvidosos. Ao tentar evitar uma dificuldade se cai em outra, porque isso faz parte da natureza das coisas. A prudência consiste em saber reconhecer a natureza dos inconvenientes. Enfim, aceitar como bom o menos mau.

Maquiavel se debruçou sobre uma variedade de reinos, governos e imperadores para examiná-los em exercício de qualidade e de defeitos, e daí retirar suas observações e conclusões. Tanto em êxito como em ruínas, as máximas ao Príncipe são forjadas da experiência no Poder. “Tem algo de bom em cada modelo destes, e é preciso apenas saber escolher. Só os tolos se prendem a um só e o imitam em tudo” (p. 122).

“A tarde cai, volto para casa. Entro em meu escritório e, desde a porta, despojo-me das roupas de todos os dias, cobertas de barro e de lama, para vestir roupas de corte real ou pontifical; assim honradamente trajado, entro nas antigas cortes dos homens da antiguidade. Aí, acolhido com afabilidade por eles, nutro-me do alimento que é, por excelência, o meu e para o qual nasci. Aí, nenhuma vergonha em falar com eles, em interrogá-los sobre os motivos de suas ações e eles, em virtude de sua humanidade, me respondem. E durante quatro horas não sinto o menor aborrecimento, esqueço todos os meus tormentos, deixo de temer a pobreza, a própria morte não me perturba. E como Dante diz que não há ciência se não se retém o que se compreendeu, anotei destas conversações com eles o que acreditei essencial e compus um opúsculo, De principatibus, onde aprofundo o que posso os problemas que tal tema coloca: o que é soberania, de quantas espécies elas são, como se as adquire, como se as mantém, como se as perde. E se alguma vez alguma elucubração minha vos agradou, esta não deveria vos desagradar. Ela deveria sobretudo bastar a um príncipe, sobretudo a um príncipe novo [...]” (p. 159).

Na obra maquiaveliana, o título “príncipe” não significa o filho de um monarca. Mas, é o principal cidadão do Estado. O sentimento de Maquiavel buscava a alma do governante, isto é, procurava estudar e orientar o governo dos príncipes. Assim, “Príncipe”, hoje, é todo aquele que detém o poder executivo, em qualquer dos escalões, quer seja no espaço público ou na área privada. Príncipe é todo aquele que conquistou, de alguma forma, autoridade legítima sobre outros seres humanos.

Todos os Estados que existiram ou existem foram repúblicas ou monarquias. É preciso ampliar o sentido restrito de Estado para espaço onde se exercita o poder. Na prática, não existe mais no Ocidente, Estados onde o poder efetivo seja transmitido hereditariamente. Exceto no âmbito familiar e no setor privado de atividade empresarial e administrativa, onde ainda são muito expressivos os espaços de mando transmitidos dessa forma. Tanto na família quanto na empresa, o poder deriva do patrimônio e as prerrogativas do mando, da decisão, se transmitem hereditariamente.

Ainda assim, cabe uma ressalva. Embora a disputa pelo controle e manutenção do poder fique mais nítida em grandes empresas/conglomerados econômicos ou em famílias oligárquicas (onde há hereditariedade formal), também nos espaços políticos, sobretudo no Brasil, o exercício do poder tem sido concentrado por poucas pessoas ou um grupo tradicional. O cerne da nossa Independência brota disso – os conchavos da nobreza com uma oligarquia agrária que fez nascer uma elite empresarial manipuladora. E não é fácil perder o controle de um espaço onde o poder é consolidado. E quando eventualmente ocorre, o mais comum é a sua reconquista (Lula.4 vem aí).

Ora, se compararmos o tamanho do espaço de um Estado com o tamanho de uma Família ou de uma Empresa, os espaços hereditários destes é muito menor do que aquele, donde habituado ao governo, é muito menor a dificuldade para manter o poder. “Basta para isso evitar a transgressão dos costumes tradicionais e saber adaptar-se a circunstâncias imprevistas” (transgressão x adaptação).

E tem o efeito pedagógico da derrota. Quando um território rebelado é reconquistado, não volta a ser perdido com a mesma facilidade, porque a própria rebelião (no caso da democracia, a rebelião das urnas) faz com que o governante se sinta mais inclinado a fortalecer sua posição, punindo os rebeldes, desmascarando os suspeitos, revigorando seus pontos fracos. Enfim, muito se aprende com a derrota. Corrigir os pontos fracos é uma questão fundamental na política, é uma preocupação constante para quem exercita o marketing do poder. 

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