A dinâmica demográfica está contra a esquerda. O governo precisa promover a coesão da sociedade nacional, atenuando desigualdades regionais. Afinal, o voto que migra de lugar, costuma migrar também de ideologia.
Persistem no Brasil dilemas entranhados – um país dinâmico, que atrai migrantes, e outros (no plural) demograficamente estagnados. A tendência é a redução da natalidade, taxas maiores de jovens e idosos, diminuição do “bônus demográfico” ou encolhimento da população adulta. As médias nacionais, porém, ocultam profundas desigualdades entre os estados.
Há um núcleo dinâmico no Sudeste/Sul, constituído por estados com taxas de crescimento demográfico superiores à média nacional: São Paulo, Espírito Santo, Paraná e Santa Catarina. São polos de atração de migrantes. O Rio Grande do Sul, estado com maior proporção de idosos do país, continua a fornecer migrantes que se deslocam para Centro-Oeste e Amazônia. Na Região Norte, Amazonas, Acre, Tocantins, Roraima e Amapá crescem mais que a média nacional, enquanto ocorre o oposto com Pará e Rondônia (que se converteram em zonas de repulsão populacional, um sinal da falência de um modelo de desenvolvimento predatório assentado na devastação ambiental).
Já os estados do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Rio de Janeiro apresentam expansão inferior à média nacional, o que indica repulsão populacional. O norte de Minas reproduz, insistentemente, as tendências históricas de repulsão da Região Nordeste. A “marcha para Oeste” ainda não se concluiu. Todos os estados do Centro-Oeste apresentam crescimento populacional expressivo, atraindo migrantes.
O Nordeste inteiro exibe taxas de crescimento inferiores à média nacional, persistindo como principal zona de repulsão populacional do país. Bahia, Pernambuco, Alagoas e o amazônico Maranhão estão entre os estados com menor expansão demográfica do país.
Enfim, no turno final de
2022, de modo geral, Bolsonaro triunfou nos estados que atraem migrantes,
enquanto Lula venceu nos estados de repulsão demográfica. O antipetismo predomina nos estados de
economia dinâmica, que geram mais empregos e melhores níveis de vida. O lulismo predomina nos estados mais
dependentes de repasses federais, aposentadorias e programas de transferência
de renda. De um lado, o cenário econômico e demográfico é propício ao
enraizamento de uma funda e perigosa divisão política. De outro, a concentração
de bases eleitorais em estados com população em declínio relativo é uma sombra
agourenta que paira sobre a esquerda.
NOTA: A diminuição do “bônus demográfico” ou o encolhimento da
população adulta, somada com a baixa adesão dos jovens ao mercado e o lento,
mas contínuo, envelhecimento da população estão transformando o mercado de
trabalho brasileiro e trazendo novos desafios ao avanço da produtividade, tanto
no setor público quanto no privado. Mas, educação ruim atrapalha. A
idade média dos trabalhadores ocupados está em 39,3 anos. E
esse envelhecimento deve se intensificar nos próximos anos, rem razão do lento
aumento da população. Para os empresários, “isso é péssimo para a economia”.
Como parte desse cenário, há a migração para fora do Brasil, fruto das demandas
na área de tecnologia. O crescimento da economia fica, assim, mais dependente
do aumento da produtividade (que será pressionada a se elevar) – algo difícil
de alcançar sem melhoria na educação. Enquanto isso, empresas vão buscando
trabalhadores maiores de 50 anos. Porém, nesse novo cenário de maior
contratação de pessoas mais velhas, surge um inédito desafio: abrigar
juntas, na empresa, quatro gerações de trabalhadores.
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