O poder da linguagem...
O constrangimento a que meninas e mulheres são submetidas silenciosamente no transporte público tem nome – importunação sexual. As cantadas indesejáveis nos ambientes acadêmcios e corporativos têm identidade – assédio sexual. Os que sequestram infâncias e adolescência com abusos cometidos em igrejas, escolas, famílias e vizinhanças têm identificação – estupradores. Os que não perdem a chance de chamar de macacos pessoas negras de todas as idades, dolosamente desumanizando-as – são os racistas.
Ainda existem outros crimes mais velados. Pessoas que não se veem representadas pelos gêneros feminino e masculino (agênero) – são os não binários intersexo, propõem a "linguagem neutra" - uma variação da norma gramatical. Ela consiste no uso da letra "e" ou "o", e dos pronomes "elu", "delu", "ile" e "dile". Em vez de ela e ele, “elu”; de amiga e amigo, “amigue”; de todas e todos, “todes”. Nessa mesma linha de revelar identidades, um dado que revela conquistas: o TSE informou que, no pleito deste ano de 2022, 37.646 brasileiros e brasileiras se habilitarão a vota com nome social. No público dos candidatos, 34 dos 28 mil exibirão nas urnas identificação diferente dos registros de nascimento. Desde 2018, pessoas transgênero, travestis e transexuais podem incluir o nome social no título de eleitor. Tudo isso revela a dimensão política de expressões usadas para identificar indivíduos!
De fato, o nome (ou a ausência dele), tem o poder de revelar ou ocultar a realidade. Por exemplo, substituir a palavra lepra por hanseníase ajudou a reduzir o estigma da doença. Trocar superlotação por superencarceramento guarda a intenção de, em vez de construir novas unidades para receber mais detentos, faz é reduzir a aplicação de penas de privação da liberdade ou oferecer sanções alternativas. É o poder das palavras! A terminologia pode legitimar discursos e procedimentos médico-sanitários, como também jurídico-penais.
E que nome dá ao comportamento do
presidente Bolsonaro quando, para evitar o impeachment, o governo cedeu à
pressão do Centrão e ampliou enormemente os recursos controlados pelo Congresso
por meio do Orçamento Secreto? Como apelidar uma atitude dessa natureza que reduziu
as verbas discricionárias e ainda as liberou para uso livre dos ministérios,
degradando ainda mais a qualidade das políticas públicas? Não bastasse, como nomear
o que ele fez neste ano, por meio da PEC que não é Kamikaze, mas sim Eleitoral,
que estourou o teto de gastos e criou benefícios novos em ano de eleições, o
que desrespeita a lei? Vamos chamar pelo nome – “Tchutchuca do Centrão”.
Também tem um nome a indiferença a quase 700 mil mortes por Covid-19, quando boa parte desses brasileiros e brasileiras estaria viva se não houvesse sabotagem oficial ao isolamento, às máscaras, às vacinas. Que nome dar a um líder máximo de um país em que um litro de leite custa mais do que um de gasolina? A quem ignora 33 milhões de famintos, minimiza recorde de desmatamento na Amazônia, negar território aos povos tradicionais e ainda autoriza (tácita ou explicitamente) crimes de ódio, violência política, ataques à democracia e aos sistema eleitoral? É esse mesmo – genocida!
Enfim, esse é um bom debate – o do uso da “linguagem neutra” para incluir pessoas e grupos. Chamar pelo nome realmente importa, porque empodera, coíbe violações, promove respeito. Ainda que alguns não tenham sido incorporados formalmente pela norma padrão da língua portuguesa, o “gênero nêutro” sinaliza, nas relações pessoais, sociais, institucionais, o respeito à identidade e o enfrentamento a crimes e à exclusão. Portanto, chame pelo nome!
Enfim, são todos termos ora enquadrados como crimes para coibir violações
de direitos, ainda persistentes numa vida que não deve ser mais anônima.
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