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São Francisco do Conde, Bahia, Brazil
Professor, (psico)pedagogo, coordenador pedagógico escolar e Especialista em Educação.
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"Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber" (Art. 205 da Constituição de 1988).

Ø Se eu sou um especialista, então minha especialidade é saber como não ser um especialista ou em saber como acho que especialistas devem ser utilizados. :)



“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Filme 06: "O Menino e o Mundo".

- Há o lúdico, o ingênuo e engraçado, que vai falar direto às crianças. Mas é também um filme político, pois na trajetória do protagonista atravessam-se os diversos estágios que o capitalismo conheceu ao longo dos séculos.
- O longa acompanha a jornada do Menino à procura do pai que saiu de casa em busca de melhores condições de vida para a família.
- O enredo começa com a família morando numa pequena fazenda, onde plantam para consumo próprio. O Pai, a Mãe e o Menino vivem uma vida simples, mas repleta de carinho e música.
- Quando surge a ideia de produção --que envolve patrão e empregado-- esse pequeno paraíso desaba. A ida do Pai para a cidade é um sintoma da industrialização, do trabalho assalariado, da mecanização e repetição do gesto de trabalho, e, também, do aumento da exploração.
- A cidade ao mesmo tempo se moderniza e evolui desgovernadamente, precisando lidar com as consequências. A cada novo estágio da produção, novos problemas surgem, o que inclui a perda da individualidade, até culminar no mundo globalizado, onde o centro explora a periferia em nível mundial.
- O ponto de vista do filme nunca abandona o olhar ingênuo do Menino, que assiste a tudo sem compreender direito todas as implicações. No entanto, essa lacuna é suprimida pelo público (especialmente adulto), capaz de compreender o significado mais amplo de cada cena.
- Da dialética entre o Menino e o Mundo surge o enfrentamento, num primeiro momento. Ao mesmo tempo, é esse próprio mundo que está sendo destruído com o avanço do capitalismo.
- Nesse momento, rompe-se o lúdico e entram em cena momentos documentais de filmes como "Iracema", de Jorge Bodanzky e Orlando Senna, "ABC da Greve" e "Ecologia", ambos de Leon Hirszman, mostrando a degradação ambiental, estágio máximo a que chega a distopia futurista retratada no filme. Porém, é claro, fala-se do presente, e, nesse sentido, o filme serve com um sinal de alerta para as crianças.
- Praticamente sem diálogos --algumas frases são faladas de trás para frente, como o nome do protagonista Oninem-- os sons são fundamentais para contribuir na expressão dos sentimentos e na evolução da trama.
- O garoto guarda uma memória do pai --o som que ele produzia com uma flauta, e é essa lembrança que o guia na busca.
- O filme mostra a triste vida dos adultos.
- Os traços desta animação brasileira sugerem a ingenuidade, a infantilidade. O personagem principal é desenhado com um rabisco simples, em 2D, sobre espaços brancos remetendo a folhas de papel. A evolução do cinema animado tem sido cada vez mais associada ao desenvolvimento tecnológico, de modo que assistir a O Menino e o Mundo provoca uma surpresa. Enquanto as grandes produções buscam os traços realistas (como o cabelo ultra natural do príncipe de Shrek, ou a grande expressividade do robô Wall-E) para compor mundos mágicos, este filme faz o caminho inverso: usa traços que beiram o surreal para falar de um Brasil bastante palpável e contemporâneo.
- A história, sabiamente contada sem palavra alguma (algo que pode facilitar a exportação do filme), mostra uma criança pobre cujo pai abandona a família para ir trabalhar em algum lugar distante. O cenário familiar é rural, mas o mundo para onde partem os adultos é o da cidade grande. Estes ambientes – personagens centrais à trama – ganham uma caracterização expressiva e inteligente: enquanto o campo é simbolizado por pequenos traços coloridos (referente à grama, à felicidade), a cidade é uma mistura cinzenta de pesadelo futurista (com favelas em formas de cones) e pastiche do capitalismo (outdoors, televisores por todos os lados). O trem que atravessa a fazenda nada mais é do que um monstro gigantesco, como uma serpente, que engole os adultos e depois desaparece no espaço branco, sem devolvê-los mais.
- Com um ritmo agradável, sem apelar para a montagem frenética das animações infantis hollywoodianas, o diretor Alê Abreu dedica-se a representar de maneira lúdica os espaços e as configurações do mundo contemporâneo. A exploração dos agricultores, a falência das fábricas, a tristeza dos tecelões, a precariedade dos artistas de rua, a falta de estrutura nas comunidades carentes, o regime militar... Tudo é retratado de modo a misturar o sonho (a bela música das favelas) com o pesadelo (os tanques de guerra, transformados em animais gigantescos). Os pobres são humanizados ao máximo, com a câmera próxima dos pequenos traços que representam os seus olhos tristes, já os poderosos estão escondidos atrás de tanques e veículos potentes.
- O Menino e O Mundo também impressiona pela mistura de técnicas, incluindo colagens, carros feitos por computador (representando a desigualdade social) e mesmo imagens em estilo documentário, de árvores sendo cortadas em florestas. Junto da trilha sonora de cunho social, composta pelo rapper Emicida, fica evidente a notável ambição deste filme de entreter ao mesmo tempo em que estabelece uma mensagem muito clara sobre a sociedade atual. Talvez as crianças não consigam entender todas as referências históricas, mas nem precisa: a simples sensibilização às desigualdades como mensagem central já é um tema raro e precioso em meio a tantas produções que preferem martelar na cabeça dos pequenos os mesmos valores de amor familiar.
- Esta acaba sendo uma produção triste, amarga, por trás do tom colorido da superfície. O Menino e o Mundo lembra produções como A Viagem de Chihiro ou O Mágico, de mestres da animação Hayao Miyazaki e Sylvain Chomet, que contrastaram muito bem o mundo idealizado da infância à vida embrutecida dos adultos. O tom de melancolia impregna este filme de excelente qualidade técnica, além de uma inventividade ímpar na representação dos espaços e do som (quer cena mais bonita do que o garoto guardando numa caixa a música tocada pelo seu pai?). Esta é uma produção capaz de divertir e suscitar a reflexão de crianças e adultos, por razões diferentes e em níveis distintos. Estas qualidades fazem de O Menino e o Mundo um filme muito mais complexo e rico do que os seus simples traços permitem imaginar.
- As escolhas ousadas e arriscadas do diretor e sua equipe mostram sua razão de ser a cada cena --como outra coisa impressionante, o uso do branco. Com "O Menino e o Mundo", Abreu fez um pequeno milagre, um manifesto necessário e instigante que merece ser duradouro e visto por crianças e adultos também de muitas gerações por vir.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Filme 05: "Anomalisa".

Uma forte reflexão sobre as relações humanas...

Na trama, Michael Stone é uma espécie de celebridade do mundo corporativo de atendimento ao cliente. Autor de um livro “de sucesso” sobre o assunto, ele está de passagem, por uma noite, pela cidade de Cincinnati, nos Estados Unidos, onde tem uma palestra agendada. Assombrado por uma relação do passado, o pobre homem, casado e com filho, acaba se envolvendo – ele também procura – com uma fã, a tímida Lisa (cujo nome já dá uma pista do título), em detrimento da amiga dela, considerada mais “bonita”.

O filme conta com apenas três nomes no time de dublagem. A história é simples, os diálogos, idem, embora reveladores. Há humor e até sensualidade (têm nu frontal) nos bonecos. Do cartão magnético de quarto de hotel que só funciona na quinta tentativa, passando pelo small talk (a conversinha fiada) do taxista que conduz Michael Stone no início do filme, até a maneira como uma pessoa se mostra para um desconhecido, as sutilezas do cotidiano e as complexidades das relações humanas são capturadas. Anomalisa cumpre a função do cinema, em última análise, de emocionar (para o bem e para o mal). É o mundo pelo ponto de vista dos losers – ou, pelo menos, por quem tem coragem de admitir as derrotas. De cortar o coração. Mas quem disse que o mundo é justo?

Retratos cinematográficos sobre amor, solidão e desalento existem aos montes, mas poucos têm a alma exalada por Anomalisa (idem, 2015). O motivo da viagem, de curta duração, é uma palestra para discorrer sobre um de seus livros de autoajuda, intitulado Como posso ajudá-lo a ajudá-los?, que vem fazendo o maior sucesso. Porém, Michael não se parece em nada com um autor de livros dessa vertente, a começar pelo semblante desgostoso e pela falta de paciência em travar diálogos, mesmo com interlocutores nitidamente amistosos.

A postura estoica diante da vida parece sequela de relacionamentos malfadados de um passado nem tão distante, e o pouco que vai sendo descortinado a seu respeito mostra um homem difícil de conviver, de baixa tolerância a eventos e atitudes cotidianas que muitos deixam passar batidos. Um detalhe que logo chama a atenção e pode incomodar a audiência é o fato de todos os personagens com os quais Michael interage terem a mesma voz, não importando se são homens, mulheres ou crianças. Todos são dublados por Tom Noonan. Esse detalhe nada tem a ver com economia no orçamento do longa (que ficou em 8 milhões de dólares): antes, é mais um indício de como, para seus sentidos, o mundo e as pessoas se tornaram anódinos. E é justamente por conta de um som vocal distinto que seu modo de encarar o outro acaba sendo revolvido.

É uma coleção de sujeitos complicados e deslocados, que enxergam a vida como um baile por onde as pessoas transitam mascaradas. É uma metáfora gasta, mas ainda não perdeu a validade. Todos temos que lidar com ela e, ao mesmo tempo, somos responsáveis por ela, mas, essa realidade é muito mais caótica.

Lisa é esse sopro de novidade urgentemente bem-vindo, uma anomalia em meio a uma homogeneidade exasperante. A estranheza do título, um aparente trocadilho com a pintura enigmática de Leonardo DaVinci, tem sua explicação em um diálogo simples e lindo, que fala de nossa predisposição (ou da maioria) de rapidamente fazer seu mundo girar em torno do objeto do nosso desejo ou admiração. Michael se propõe a ajudar a ajudar, mas precisa mesmo é ser ajudado. Um dos pouquíssimos senões da obra é chegar ao fim apressadamente, quando poderia tê-lo depurado um pouco melhor. Entretanto, talvez esse desconforto com o encerramento seja a dificuldade em dizer a adeus a Michael, que carrega consigo um pouco de mim e de você, ainda incapazes de lidar tranquilamente com o que outro poderia ser, mas não é. O filme foi capaz de reascender uma questão muito importante do nosso dia-a-dia: afinal, onde está a real necessidade de nos conectarmos com as pessoas?

O diretor do filme, Kaufman, te leva ao cinema (ou até a cadeira ou poltrona de casa mesmo) e pode até te fazer rir, mas será mais por incômodo ou até mesmo dificuldade em compreender o que foi que aconteceu. Vai te fazer pensar uma, duas e até três vezes sobre o que acabou de ver. Vai sair do cinema com pontos de interrogação fazendo ciranda sobre a sua cabeça. Ou ainda, pontos de interrogação intercalados com pontos de exclamação.

O que sentimos é confuso e misturado como a própria cabeça de Michael Stone. Será que Michael é realmente bom como ele acredita ser? E será que não é apenas um ego gigantesco cada vez mais alimentado por ele próprio e toda a apreciação que passeia em volta dele? Seu ego pode ser imenso, mas ele também se culpa e se cobra de ações que poderiam ter levado sua vida em outra direção. E nos perguntamos se ele seguiria essa outra direção, caso ela aparecesse para ele. E ainda, se ao seguí-la, estaria ele em paz finalmente? No final das contas, Michael talvez seja apenas mais uma vítima da sociedade imediatista e caótica em que vivemos hoje em dia. Nada vai fazer muito sentido até que ele realmente queira colocar em pratos limpos que tipo de verdades irá suportar ou fingir que não o afetam.


Anomalisa é uma excelente animação desanimada. 

Filme 04: "O Pequeno Príncipe".

Estamos juntos, mesmo à distância.
O Pequeno Príncipe é um livro publicado em 1943, pelo escritor Antoine de Saint-Exupéry. É o livro em língua francesa mais vendido no mundo e o terceiro livro mais traduzido no mundo. Ou seja, é um sucesso. Em um primeiro momento, ele chama a atenção por possuir dois tipos de animação diferentes, stop motion e computação gráfica, o que é fantástico. A história dela (da garota sem nome do filme) e a do pequeno príncipe são narradas em paralelo, cada um apresentando uma técnica de animação diferente: ela, a computadorizada; ele, em stop motion. Só que, a partir de determinado momento, o longa-metragem vai além e ousa ao seguir em frente na história já conhecida.

Vale mencionar que a história do filme não é a mesma história do livro (tenham em mente que um independe do outro e se você for ao cinema esperando ver o livro reproduzido integralmente nas telonas, corre o risco de se decepcionar). Embora o diretor não reproduzisse o livro no filme, captou sua essência. Vale mencionar que o ritmo do filme é um pouco lento, o que, acredito eu, possa ser um empecilho para as crianças, que normalmente são mais agitadas e talvez possam se entediar facilmente.  Um detalhe interessante é que nenhum dos personagens tem nome. Isso pode ser interpretado de diversas formas. Eu acredito que o intuito disso seja mostrar que todos podemos ser a menina ou o senhor. São personalidades que representam todos nós.

Na verdade, o filme conta a história de uma menina super fofa que é fortemente controlada por sua mãe, que decide planejar toda a vida dela a partir de uma planilha que ela deve seguir a risca, sem nenhum descanso. A mãe é uma controladora obsessiva que deseja definir antecipadamente todos os passos da filha para que ela seja aprovada em uma escola conceituada (ela não percebe que, com tantas obrigações, está fazendo sua filha se esquecer do que significa ser criança). Felizmente a garotinha conhece e se torna amiga de seu novo vizinho, um senhor que lhe conta a história de um pequeno príncipe que vive em um asteroide com sua rosa e, um dia, encontrou um aviador perdido no deserto em plena Terra. Essa parte sim, está no livro: a história do menino que vivia solitário em um asteroide e, viajando pelo espaço, encontrou um aviador perdido no deserto. Pois é para resgatar a infância que surge o personagem do aviador – um velho rejeitado pela vizinhança por fantasiar demais. Um dia, ele dá à menina algumas páginas soltas de desenhos narrando seu encontro com o Pequeno Príncipe, um garoto que vivia num pequeno planeta, amava uma rosa e tinha como melhor amiga uma raposa. No fim das contas, O Pequeno Príncipe funciona tanto para quem nada sabe sobre a história como para quem a conhece de cor e salteado, já que aqui é apresentada uma variável do conto clássico. Osborne trabalha com a sensibilidade de quem entende o universo infantil e não menospreza seus espectadores mirins. O livro original é recontado e explorado como uma grande metáfora sobre perda, valores e visões de mundo, numa fantasia fascinante que ajuda a pequena protagonista a encarar seus desafios.

É evidente que o filme busca retratar assuntos já discutidos no livro, como a vida adulta, as regras e as normas a serem seguidas. Mas, há um foco especial de discussão que é a ausência de imaginação e criatividade presentes nessa fase da vida. A menina, até então vivendo como uma adulta, conhece seu vizinho, o aviador, que, ao contrário dela, vive como uma criança. E ambos começam uma relação muito rica e poética, que apresenta à menina uma coisa que até então ela não conhecia, a amizade. Até mesmo as músicas, que possuem um ar doce e melancólico, são diferentes das músicas que estamos acostumados a ouvir em filmes infantis. É um filme para adultos refletirem e, eventualmente, se emocionarem. Ao transmitir uma mensagem sobre a importância da imaginação, o longa aborda também a perda da inocência decorrente do inevitável crescimento. O destaque maior, sem sombra de dúvidas, fica por conta da raposa: uma graça, seja em qual aparência estiver.
A trama principal, como foi dito, gira em torno de uma pequena garota, que leva uma vida bastante regrada devido à obsessão da mãe em controlar absolutamente tudo à sua volta. Para situar ainda mais este universo rígido, a animação computadorizada ressalta sempre o quanto tudo é retangular e cinza, sem imaginação alguma. O contraponto é justamente a casa do vizinho, repleta de cor e irregularidades, uma metáfora à própria personalidade de seu dono. É a partir do encontro entre a garota e o vizinho, um senhor que lhe conta a tal história do pequeno príncipe, que o longa-metragem enfim ganha corpo. É quando a magia entra em cena, no sentido de um universo lúdico e repleto de criatividade.

O essencial é invisível aos olhos”. A frase mais célebre do livro "O Pequeno Príncipe" é usada até hoje para ressaltar a importância dos sentimentos e do caráter no dia a dia. Ao trazer para a sua realidade o conceito da morte e de como reagir a ela, a animação flerta com uma situação imensa mas acaba deixando-a de lado, optando pelo caminho fácil do mundo fantasioso. Que não é ruim, é bom ressaltar, apenas menor. Por mais que demonstre uma nítida irregularidade entre a fase inicial e o momento em que a garota passa a acreditar que sonhar é possível, e outros menores no decorrer da trama, o longa consegue sempre manter um certo interesse, muito ajudado pelo traço mais lúdico da animação e a bela trilha sonora.

Enfim, note que o filme conta duas histórias paralelas e utiliza duas linguagens para isso: na história “real”, focada na menina e no aviador, a animação é em CGI; já na imaginação, onde vive o Pequeno Príncipe, é usado stop-motion. A inclusão de novos personagens e a ampliação da trama original ajudam a atualizar as questões do livro e inserir críticas ao modo de vida contemporâneo. Enfim, o filme dosa pequenos momentos de humor, doçura e drama, sem nunca pesar demais nem ser leve demais. Para as crianças que terão seu primeiro contato com a obra pelo cinema, não há dúvida de que o longa deixará uma marca, como o livro deixou aos seus pais e avós. E elas também mostrarão aos seus filhos quando for a hora.

Algumas frases bem marcantes: 


Eu acho que o mundo se tornou adulto demais.
Quando o mistério é muito impressionante, a gente não ousa desobedecer.
Você vai vivendo e parece que algumas coisas grudam em você. A gente vira algum tipo de acumulador.
Pessoas jovens demais não sabem como amar. Cheias de dúvida, alguém sempre foge.
Às vezes uma partida é o primeiro passo para uma volta.
Ser adulto não é o grande problema. O verdadeiro problema é se esquecer da criança que se foi um dia.
Não há problema em viver só. Na maioria das vezes estamos entre pessoas que nos fazem sentir muito mais solitário. Quem aprendeu a conviver consigo mesmo, jamais se sentirá sozinho. Quem aprendeu a vê sua princesa ou seu príncipe com o coração, nunca mais estará só.
Se tu me cativas, teremos necessidade um do outro. Mas, corremos o risco de chorar um pouco quando se deixa cativar. É um risco que vale a pena correr...
Existem milhares de rosas no mundo inteiro. É o tempo que perdemos com uma delas que a torna tão importante e especial para nós. “Minha Rosa”.
Vou lhe deixar um segredo de presente: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos. O mais importante é invisível.
Todos temos que dizer “adeus”, mais cedo ou mais tarde.

As estrelas são belas por causa de uma flor que nós não podemos ver. O que torna belo o deserto é que ele esconde um poço em algum lugar. 

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Filme 03: "Um método perigoso".

O filme traz à tona uma questão técnica e ética: quando a paciente se apaixona pelo seu analista. A relação analítica entre Jung e Sabina passa também a envolver relações sexuais, o que vai de encontro ao que é proposto por Freud. Este considera que o analista não deve satisfazer o desejo da paciente, portanto deve-se manter abstinente, o que Jung não faz, adentrando em um sério envolvimento de idas e vindas.

O filme é uma explosão de belíssimas frases de perspectivas diferentes conforme seus personagens: Jung, Freud, Otto Gross e Sabina. Porém, cada um com tamanha originalidade. No começo do filme, nota-se que Jung faz uso do método de análise freudiana. Ele análisava a paciente Sabina Spielrien, que com o passar do tempo se tornou a primeira psicanalista mulher da história. Sabina foi internada com o diagnóstico de "histeria".  Durante as suas sessões de psicoterapia, Jung foi percebendo que a causa da sua histeria estava associada com a relação que ela tinha estabelecido com o seu pai no decorrer da sua infância. Pode-se perceber também, a implicação da segunda tópica freudiana que é a existência do Id, Ego e Superego, tendo em vista que a paciente reprime (mecanismo de defesa) aquilo que o inconsciente quer trazer à tona: seus instintos sexuais.

 Id - é uma força da psiquê humana, onde impera o princípio do prazer.

Ego- está vinculado ao princípio da realidade, ele intermedia a relação entre o Id e o superego. Ora atendendo e cedendo ao Id, ora atendendo e cedendo ao Superego.

Superego- força moral, reguladora do ego, que o impede de viver sob o princípio do prazer (Id) e do superego.

Já Jung parece não concordar 100% com esta premissa da visão de Freud sobre as fases do desenvolvimento sexual humano e começa a propor outras formas de compreender a natureza psíquica. Por sua vez, Freud desconsidera as idéias do âmbito metafísico de Jung. Dessa forma, Freud e Jung rompem relações por divergências de idéias, principalmente o que diz respeito à centralidade da sexualidade na vida do indivíduo. Freud continuou com a Psicanálise e Jung desenvolveu seu próprio método de trabalho, a Psicologia Analítica. Acredito que seja importante ressaltar que Jung se tornou um dos maiores psiquiatras do mundo, pois ele trouxe idéias que revolucionaram a civilização ocidental, toda a psicologia e a ciência.

A transferência é o deslocamento do sentido atribuído a pessoas do passado para pessoas do nosso presente. Essa transferência é excutada pelo nosso inconsciente. Segundo Freud, a transferência é fundamental para que ocorra o vínculo terapêutico. Para a teoria freudiana, a transferência é um fenômeno que ocorre na relação entre paciente e terapeuta, ou seja, a repetição dos modelos infantis, tais como: figuras parentais ou seus substitutos serão transportados para o analista. Transferencialmente o analista irá receber do paciente seus sentimentos, emoções, desejos que estão ligados com as impressões dos primeiros vínculos afetivos para serem vivenciados no momento presente. Portanto, cabe ao terapeuta saber manusiar a transferência. Para Freud, esta transferência também ocorre entre professor e aluno. Também acho importante enunciar a relação transferencial entre Jung e Sabina, pois esta o idealizava e transfere muitos de seus desejos e idealizações para ele. Outro ponto importante a ser observado no filme, é o começo da construção da postura ética na relação entre médico e paciente com o intuito de preservar o ¨setting¨ terapêutico.


Resumindo, o filme ¨Um Método Perigoso¨ trata de relações de afeto entre Jung, Freud e a paciente Sabina Spielrein. Este filme também mostra os primórdios da história da Psicanálise e da Psicologia Analítica. O filme começa com a internação de Sabina, onde Jung será o médico responsável pelo seu tratamento. No decorrer da estória, Jung e Sabina possuem uma identificação intelectual e se apaixonam. Mas este relacionamento não evolui em razão da postura profissional que Jung deve manter. Neste mesmo período, Freud decide romper contato com Jung, devido ao fato de terem divergências de idéias. Apesar de decepcionado, Jung cria seu próprio método de trabalho que é a Psicologia Analítica. A meu ver, este é um filme muito interessante para assistir e o recomedo a todos os psicólogos, psiquiatras, terapeutas e pessoas interessadas em conhecer mais sobre a psicologia. Então, eu desejo um bom filme a todos!

Veja as frases mais interessantes que anotei do filme: 

- Entender e aceitar é o caminho para a saúde psíquica.
- Tem gente que quer ter dois: um como o alicerce da casa e o outro como o perfume no ar.
- Meu amor por você foi a coisa mais importante da minha vida. Para o Bem ou para o Mal, me fez entender quem eu sou.
- Às vezes temos que fazer algo imperdoável só para poder continuar vivendo.
- Eu não quero apenas abrir a porta e vê qual é a minha doença. Quero me reinventar. Quero ir para uma viagem no fim da qual eu encontre quem eu sempre quis ser. Só não adianta adoecer por causa disso.
- Nosso objetivo não pode ser substituir uma ilusão por outra.
- Por isso você é como é. Mas, você pode se transformar.
- Pense primeiro no seu comportamento, depois decidiremos quem de nós dois é o neurótico ou não é neurótico. Aliás, um pouco de neurose não é nada de que se possa envergonhar.
- Precisamos ir para aquele lugar que nos faça sentir livre.
- O terreno sólido da teoria da sexualidade para chafurdar na lama escura da superstição, eles nos atacarão. Para mim, só de tocar nesse assunto é suicídio profissional.
- Faça o que fizer, desista da ideia de tentar curá-los.
- Experiências como esta, por mais dolorosas que sejam, são necessárias e inevitáveis. Sem elas, como podemos conhecer a vida?
- Pragmatismo rígido: a insistência de que uma coisa não existe a não ser que alguma inteligência a perceba antes.
- Merecem admiração àqueles que resolvem conflitos delicados de modo digno.
- Só um fantasma não aprende a forma correta de morrer, que é tranquilamente.
- Sempre será arriscado nos encontrarmos.
- A verdadeira sexualidade exige a destruição do Ego.
- Freud: fruto da insistência da interpretação exclusivamente sexual do material clínico.
- Ele é muito persuasivo, muito convincente... Ele nos faz abandonar as nossas próprias ideias para servir as dele. Todo sonho é interpretado sob a ótica sexual.
- Não acredito em coincidências. Creio que nada acontece por acaso. Todas as coisas têm significado.
- Talvez os loucos não saibam que nós, pessoas normais, temos sérias limitações.
- A deia de que algo puro e heroico só possa vir de um pecado, algo tão sombrio quanto o incesto. A perfeição só pode ser alcançada através do que convencionalmente se considera pecado.
- Só o conflito entre coisas contrárias pode criar algo novo.
- Gente extremamente miserável com o dinheiro.
- Acho que alguma forma de repressão sexual deveria ser praticada em qualquer sociedade racional. (Por isso que os hospitais estão todos cheios). Nunca reprima nada!
- As pessoas são assim: se não dissermos a verdade a elas, quem dirá?
- Não seria uma prova da perversidade humana que uma de suas poucas atividades prazerosas deva ser objeto de tanta histeria e repressão.
- Mas, não reprimir-se é liberar todo tipo de força perigosa e destrutiva. Porém, nossa tarefa é fazer com que nossos pacientes se libertem. Liberdade é liberdade.
- O prazer é algo tão simples até o momento que resolvemos complicar. É o que alguns chamam de maturidade.
- Não acha que há algo de masculino em cada mulher e algo de feminino em cada homem?
- O que mais temo não é ser incapaz de convencer alguém, mas de ser convencido.
- Monogamia, me responda: Por que devemos nos esforçar tanto para reprimir nossos instintos naturais mais básicos?
- Quando se mora sob o mesmo teto com alguém, torna-se um hábito.
- Os assuntos polêmicos ajudaram muito a definir o meu pensamento.
- Por que devemos estabelecer algum limite arbitrário?
- O mundo é cheio de inimigos atrás de um modo de nos desacreditar.
- O tratamento experimental: a cura pela conversa.
- Ele sempre foi bom em alimentar rancores incompreensíveis.